Grace and Frankie: assista se você for humano | JUDAO.com.br

Jane Fonda e Lily Tomlin vivem duas mulheres mais velhas forçadas a redescobrir a vida – e dão uma verdadeira lição para quem ainda está começando a descobrí-la

A premissa de Grace & Frankie, nova série estrelada por uma dupla infernal formada por Jane Fonda e Lily Tomlin, é simples e direta ao ponto: duas mulheres de 70 anos (e que mulheres!) que precisam reconstruir suas vidas e lidar com o fato de que seus maridos descobrem que se amam e resolvem assumir um relacionamento homossexual, rompendo com as duas depois de 20 anos de casamento. Tá fácil a vida! Iupi!

Se você achou a premissa com cara de novelão pra sua mãe, estilo Days of Our Lives, está poliedricamente enganado. Se é novinho e não faz ideia de quem são Jane Fonda e Lily Tomlin, dê ao menos uma googlada no nome das duas e saiba que elas são pesos-pesados da dramaturgia, ativistas feministas e competentíssimas no que fazem.

Bem, Jane foi Barbarella, peloamordedeus! Já Tomlin foi uma das primeiras mulheres dos EUA a fazer stand-up comedy, isso nos anos 60. Ambas romperam tabus, a vida inteira. E continuam a fazer isso, agora rompendo a barreira das sete décadas. Podem dar aulas para nós, jovens padawans. Uma BAITA aula.

Como era de se esperar, o ponto mais forte do seriado é, sem dúvida alguma, o lance da idade. E não só para as protagonistas, mas para o elenco em geral. A trama gira em torno dos dramas que cada etapa da vida nos apresenta e na construção de um laço perene entre duas mulheres que dividem a mesma tragédia e nela se enxergam irmãs.

No começo elas são apenas conhecidas, não propriamente “amigas”, e são total e completamente diferentes uma da outra. Apenas se toleram pois seus cônjuges têm negócios juntos. Seus maridos (Martin Sheen e Sam Westerton, ótimos!!) são sócios em uma empresa de advocacia, vivem um romance secreto há 20 anos e resolveram sair do armário porque sim, oras, eles se amam de verdade e ser humano algum merece viver nessa angústia.

Acontece que uma decisão corajosa desse porte acarreta mudanças gigantescas em toda a estrutura familiar de ambos e tudo vira um caos infernal, com situações novas e completamente constrangedoras envolvendo filhos, netos, cachorros, empregados, parentes, amigos em comum e toda essa sociedade que a gente já conhece, engessada, hipócrita e julgadora, que, mais do que prontamente, trata de abraçar a todos com um chicote nas mãos.

Vamos fazer um exercício solidário e nos colocar no lugar de todos ali. Vinte anos de casamento, cara, é muito mais do que muitos os que estão lendo esse texto têm de idade! A casa cai, literalmente.

Como lidar? Com humor, inteligência e coragem.

O grande trunfo da série, sua maior arma, sem dúvida é o humor inteligente. Não o humor nonsense, imediato e pontual das sitcoms, mas o humor refinado, sarcástico, negro, muitas vezes, aquele riso nervoso que aparece na hora do desespero, sabem? Esse.

Os diálogos são diretos e certeiros e é rindo da própria desgraça que Grace & Frankie faz críticas ferrenhas, precisas e doloridas a todas as convenções da sociedade, sejam elas referentes à idade, gênero, relacionamentos e comportamento.

Os episódios percorrem temas como o abandono emocional da mulher em todas as esferas: a solidão no casamento, a invisibilidade perante a sociedade depois que você já não é tão linda e jovem, a ideia de que não existe mais vida a ser vivida depois de certa idade, a (re) descoberta da sexualidade na maturidade (com discussões reais e maravilhosas sobre secura vaginal e menopausa)... Tudo isso, você vê e aprende em Grace & Frankie.

Grace and Frankie

Duas cenas específicas me marcaram mais nessa temporada. Quando Grace e Frankie são acometidas pelo desejo de comprar cigarros de madrugada e são SUMARIAMENTE ignoradas em um supermercado por um atendente que passa por elas como se elas fossem fantasmas e atende uma moça muito mais jovem (os diálogos são lindos, dá vontade de chorar); e quando Grace (Fonda) literalmente ENSINA a um homem como abordá-la. Essa cena quase não tem diálogos... E é linda justamente por isso. Ela guia suas mãos...seus olhos, seus passos, o clima. Conduz todo o desenrolar da coisa, com graça e sensualidade. Puro poder.

Me arrepiei inteira e juntei as palmas das mãos em uma prece, esperando que muitos homens vejam e entendam a sutileza da situação. E dei graças pela professora ter sido a Jane Fonda.

Grace & Jackie vale a conferida. Tem mulher mais velha redescobrindo a vida. Tem gays mais velhos dando uma chance para o amor. Tem filhos, héteros, homens e mulheres se adaptando a toda uma nova situação, de vida, de conceitos. Tem gente, feita de carne e osso e sangue quente nas veias tentando entender como tudo isso funciona e aprendendo que, na vida, a única constante é a mudança.

Se você tem um coração que bate aí nesse peito, veja. :D