Não creio que eu precise repetir isso, mas o farei mesmo assim: este texto contém SPOILERS. Então… :)
Você vai ter apenas uma chance de fugir deste texto. Depois, não diga que não avisamos. O #mimimi não será admitido.
Ok, então. Você continua por aqui. Vamos que vamos.
Se você acompanha o JUDÃO, já sabe que a cena pós-créditos de Guardiões da Galáxia não foi mostrada nas exibições para a imprensa – conforme contamos aqui na nossa crítica do filme. Então, os jornalistas teriam que ir ao cinema para ver a aventura do guaxinim falante e da árvore monossilábica novamente caso tivessem esta curiosidade, enquanto se minimizava o risco de alguém estragar a surpresa dos fãs. Ou seja: nem a gente sabia do que se tratava a cena, vamos ser honestos.
Tá, tudo bem, a gente já desconfiava do que se tratava. Já tinham rolado alguns boatos a respeito e esta era a principal aposta da imprensa especializada em cultura pop – incluindo a nossa, aqui no JUDÃO. Mas o resultado não deixou de ser interessante, mesmo assim. Divertido. A gente conta. E explica em detalhes para quem ficou boiando. Afinal, quem diabos é aquele PATO?
A cena extra não interliga o filme com nada, com nenhum outro filme da Marvel. Não tem Thanos de novo, não tem Vingadores, não tem Ultron, não tem Nick Fury, não tem Planeta Hulk (tirem o cavalinho da chuva, pelo menos por enquanto). É só uma graça envolvendo o Colecionador (Benicio Del Toro), com cara de desgosto em meio aos escombros de sua coleção, depois da explosão causada pela utilização indevida da Joia do Infinito. Ele leva uma bela lambida de Cosmo, o cão espacial, personagem que, nos quadrinhos atuais dos Guardiões da Galáxia, é uma espécie de de “guardião” (há!) de Luganenhum (Knowhere), a primeira base desta nova formação da equipe, surgida em 2008.
E então surge ele. Howard, o Pato. Entornando uma bebida e questionando por que diabos o Colecionador deixa este bicho lamber a sua cara. Fim.
Antes de mais nada: James Gunn, diretor de Guardiões da Galáxia, revelou que o dublador do pato na versão original foi ninguém menos do que Seth Green, ator e co-criador da sensacional série Frango Robô.
Bom, vamos esclarecer, para quem não conhece ou não se lembra: aquele NÃO é o Pato Donald. E tampouco é um easter-egg cuspido pela Marvel para puxar o saco da Disney, sua nova empresa-mãe. Howard, o Pato, é um personagem clássico da Marvel, criado em 1973 por Steve Gerber e Val Mayerik. O gibi, com altas doses de humor, anarquia, crítica social/política e metalinguagem em doses cavalares muitas décadas antes de resolverem fazer o mesmo com o Deadpool, era um dos mais cultuados pela juventude setentista, em busca de uma piração lisérgica com sabor de LSD.
Questionador e polêmico, Gerber era um mestre da sátira e, nas páginas da revista, tinha autonomia criativa o bastante para tirar sarro até da própria Marvel – empresa com a qual passou anos trocando farpas (e processos) por questionamentos sobre direitos autorais, remuneração e liberdade artística. Gerber foi a primeira grande pedra no sapato da Marvel, articulando e apoiando tantas outras que viriam depois. Mas, recentemente, as duas partes entraram em acordo e Gerber chegou até a escrever uma série de Howard para o selo Max, divisão adulta e ultraviolenta da Marvel.
A revista do pato passou por uma dezena de cancelamentos e retornos ao longo dos anos. Nunca foi um sucesso de vendas. E, pasmem, a Casa das Ideias até levou um processo da Disney pelas similaridades de Howard com o Donald, forçando-os a mudar algumas coisas no personagem – como fato de ele ter que usar calças, por exemplo.
Em termos cronológicos, Howard nunca foi lá grande parte integrante do Universo Marvel. Abduzido de seu planeta natal e jogado em meio a personagens sobrenaturais bizarros como o Homem-Coisa, suas histórias sempre tiveram liberdade suficiente para tratá-lo como uma espécie de caso à parte. No entanto, já encontrou algumas vezes com o Homem-Aranha e teve participação – em revistas paralelas – nas sagas Guerra Civil (tentando registrar-se no governo), Invasão Secreta (lutando contra os skrulls) e Essência do Medo (formando um grupo bizarro com a Mulher-Hulk para derrotar o Homem-Coisa, dominado pelos poderes da filha do Caveira Vermelha).
Em 1986, Howard foi a estrela de um dos primeiros longas estrelados por personagens da Marvel. Com produção executiva de ninguém menos do que George Lucas (que você DEVERIA saber quem é), Howard, o Super-Herói é uma produção B até dizer chega. Mas dá pra dizer que é daquele tipo de filme que é tão ruim, mas tão ruim...que dá a volta e fica divertido.
A grande pergunta que fica aqui, no entanto, é a seguinte: teria Howard, com ou sem a voz de Seth Green, algum tipo de futuro no Universo Marvel daqui pra frente? Será que ele aparecerá no segundo filme dos Guardiões, disputando pau a pau com Rocket Raccoon o título de bicho falante mais sarcástico e mal-humorado? Ou talvez ele tenha um potencial novo filme já sendo imaginado? Depois de fazer este filme dos Guardiões dar tão, mas tão certo, a gente fica aqui sonhando com um pato mal-educado e politicamente incorreto estrelando sua própria película. Vai que...?
Bom, a resposta é provavelmente não. Depois de liberar a primeira cena pós-créditos do filme, com a dança do bebê Groot, a Marvel resolveu liberar também uma foto do Howard, sentadinho ali no meio da coleção destruída do Lulu Santos. O que isso significa? Eles não estão assim TÃO preocupados com o uso do personagem no futuro. Era, mesmo, só uma piada. Mais ou menos como todo o filme, diga-se. E isso é ÓTIMO. Confere aí embaixo! (TB)