Com mais humor e ainda mais referências pop, continuação do inesperado hit da Marvel mantém o tom do primeiro, evitando cair em certas armadilhas e salpicando uma dose de olhos marejados que mexeria até com o coração do Drax
Sabe aquelas cenas dos Guardiões, no espaço, lutando contra um bichão cheio de tentáculos e uma BOCARRA cheia de dentes? É, aquelas mesmas, que estão em destaque nos trailers de Guardiões da Galáxia Vol. 2? Então, aquela treta tá logo nos primeiros 10 minutos de filme. E tudo que você vai (ou precisa) ver dela tá ali. Porque todo o restante acontece desfocado, como pano de fundo, enquanto um verdadeiro espetáculo de fofura rola em primeiro plano. É a sequência que reapresenta nossos heróis, tanto na tela quanto nos créditos iniciais, dando uma boa ideia do filme que vem pela frente: um filme sobre FAMÍLIA.
Guardiões da Galáxia Vol. 2 continua sendo um delicioso filme da Sessão da Tarde (ainda que esse termo talvez não tenha mais tanto significado em 2017, mas vamos ficar no clima oitentista desse filme), na mesma pegada do primeiro. Mas, desta vez, James Gunn se sentiu mais leve, mais solto, mais no controle da situação toda, e aí deu uma turbinada em tudo que conseguiu. Por exemplo, o humor: estamos diante de um filme que chega a causar gargalhadas em alguns momentos, que não tem medo de tirar sarro de si mesmo. É praticamente o anti-Zack Snyder, até no espetáculo de cores berrantes e brilhantes.
Nesse sentido, o Drax, no papel do tiozão do pavê cósmico, dá um show cada vez que abre a boca. Uma verdadeira metralhadora de trocadilhos e vergonha alheia. Aliás, até quando tá calado, nas caretas, nos olhares, no jeito de se mexer. Dave Bautista rouba todas as cenas em que aparece, tendo se tornado a maior evolução entre todos os personagens — uma evolução até um pouco estranha, já que muito pouco tempo se passou entre os dois primeiros filmes, mas...
O Baby Groot é uma gracinha, um amor, vai vender horrores, vai sim. Mas o filme não gira em torno dele e, muito menos está lá só pra vender tais horrores. Baby Groot tem um propósito, tem uma motivação, tem uma história pra contar — uma história que, de certa maneira, tem relação com a de Peter Quill e Yondu.
Enquanto eu fico aqui dizendo “muito obrigado” por tratarem a tensão sexual / romance entre Peter e Gamora, James Gunn pegou o aspecto dos Guardiões entendendo a si mesmos como parte de algo novo e elevou à enésima potência. A treta entre a Nebulosa e a irmã Gamora, a dificuldade do Rocky em se encaixar junto aos parceiros humanos e, obviamente, a descoberta do pai do Peter Quill, o relacionamento do Ego (Kurt Russell, numa canastrice espetacularmente anos 80) com a Sra. Quill... A história ganha uma camada adicional de densidade.
Mas o Yondu, bicho... Quando o saqueador entra em cena, e a gente começa a descobrir um pouco mais sobre seu passado, sobre os motivos que o levaram a não entregar Peter para o seu pai, Michael Rooker mostra a que veio e entrega um espetáculo de carisma, ajudando a encher seus olhos de lágrimas até que eles não consigam mais segurar. De odioso, Yondu Udonta passa a ser aquele cara em quem você queria muito dar um abraço apertado.
Drax e Yondu roubam todas as suas cenas e, enquanto um é tipo o Tiozão do Pavê Cósmico e tá lá pra fazer rir, o outro enche nossos olhos de lágrimas e quase que pede por um abraço
Aí, como é de costume, a gente pode se focar naquele velho calcanhar de Aquiles dos filmes da Marvel: os vilões. Aqui, eles parecem funcionar bem, até. E sim, vilões, no plural, começando com a primeira, que cê já sabia quem era, a tal da Ayesha. Ela e seu povo dourado até que dão certo, mas não é nada espetacular. Não é, de fato, uma ameaça, e sim um recurso do roteiro pra colocar Nebulosa, o Yondu e o restante dos saqueadores na trama. É para isso que ela serve e cumpre bem sua função.
Já o outro vilão... Ele nem é EXATAMENTE um vilão, é mais um, digamos assim, Doutor Destino da vida. Um maluco megalomaníaco filhodaputa cuzão pra caralho que REALMENTE acredita que está fazendo o bem e pode mudar o universo por meio da conquista. É um personagem que segue na melhor tradição dos gibis da Marvel e que não é apenas um clone/doppelganger do personagem principal. Já estamos no lucro só com isso, mas o seu “monólogo do vilão”, em que explica toda sua malevolência, é realmente assustador, então... :P
O Vol. 2 dá umas escorregadas, claro que sim. A Mantis, por exemplo, tadinha, nem chega a ser uma PERSONAGEM de fato. Ela é praticamente uma função, graças aos seus poderes. Um objeto com antenas andando pra lá e pra cá em cena que, quando muito, tem direito a UM diálogo relevante na trama, servindo de escada pro Drax. Como nova integrante do grupo, ela não chega a ganhar uma apresentação decente e tampouco desperta algum tipo de empatia do lado de cá, do tipo “olha que legal quem chegou pra juntar com o bonde”.
Além disso, tá bastante claro que, diferente do filme anterior, este segundo se esforça um pouquinho demais em colocar os Guardiões da Galáxia como parte integrante do Universo Marvel dos cinemas — no caso, um terceiro ato praticamente inteiro. No Volume 1, a única conexão acaba sendo mesmo o diacho da Joia do Infinito, até a presença do Thanos serve muito mais à própria história que o Gunn queria contar, como elemento que causa uma disfunção na relação entre as duas irmãs, do que propriamente como “olha aquele cara queixudo do final do filme dos Vingadores”. Tá bom, a gente sabe que os Guardiões vão aparecer em Guerra Infinita, que legal. Mas, apesar de ser divertido um mundo de filmes que se conectam entre eles, é preciso que eles existam primeiro como um BOM filme, com começo, meio e fim. E ponto. Uma história que funciona sozinha.
Lembra quando a gente repete à exaustão que Agents of SHIELD dá mais resultado quando se liberta das amarras de TER necessariamente que conectar com o que tá rolando nos filmes? Bem por aí. Não estraga? Não estraga. Mas podia sair sem estas...
Colocadas estas SALVAGUARDAS, a gente te diz que Guardiões da Galáxia Vol. 2 é aquele filme Marvel por essência, por natureza. Pra curtir com os amigos, pra se acabar com a família, pra levar a molecada toda, para fazer uma nova geração se interessar por estes personagens e pular de cabeça no mundinho da Casa das Ideias.
É um filme que usa muitos elementos da tal da space opera, o gênero que Star Wars ajudou a popularizar, que tem ação, aventura, faz rir, faz chorar, faz pular da cadeira. Porque, gente, vamos lá: não é pra isso mesmo que a gente vai ver a porra dum blockbuster no cinema? Pois é.
ps. Cenas pós-créditos? Sim, elas existem. E são cinco. Falaremos sobre elas depois, então volte aqui depois que você assistir ao filme, ou fique ligado nas nossas redes sociais AND no canal do YouTube. Mas, enfim, não saia do cinema até desligarem a tela e preste atenção NOS PRÓPRIOS créditos que tem coisa interessante ali também. ;)
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