Basicamente, uma resposta possível para o intragável “fazer o quê?”
Em Julho de 2017, o comediante Hari Kondabolu lançou o documentário chamado O Problema com Apu. Ele conversou com diversos outros artistas indianos sobre a reprodução de estereótipos na figura de Apu Nahasapeemapetilon, de Os Simpsons, como ser dono de um mercadinho, ter muitos filhos e, principalmente, ser um personagem dublado por um ator não-indiano, Hank Azaria, IMITANDO um sotaque beeeeeem do caricato.
Em 28 anos de existência da série animada, como NINGUÉM pensou que isso poderia ser ofensivo, né? Então.
Passou um bom tempo pós-documentário, mas os questionamentos permaneceram. E depois de vários comentários feitos pelo público e mídia, TCHARAM: eis que foi ao ar o tal episódio d’Os Simpsons exibido no dia 08 desse mês, aquele que trouxe uma cena em que Lisa, ao ouvir uma história sem partes ~problemáticas lida por sua mãe, se mostra entediada e fala que “algo que começou há décadas, foi aplaudido e inofensivo agora é politicamente incorreto. O que você pode fazer?”.
Aí ela olha pra uma foto do Apu em que está escrito “Don’t Have a Cow”. RUIM de engolir.
A decisão de seguir nessa lógica do “fazer o quê?” motivou algumas respostas (falamos um pouco disso AQUI) sobre COMO, afinal, lidar com esses conceitos que antes pareciam não causar nenhum tipo de desconforto. PARECIAM, veja bem. E muitos imediatamente lembraram desse aviso que a Warner Bros. coloca nos DVDs com coletâneas de antigos desenhos dos Looney Tunes:
“As animações que você verá agora são um produto de sua época. Nelas, pode existir um pouco da discriminação étnica e racial que era comum na sociedade dos Estados Unidos. Isso era errado antigamente e atualmente. Muito embora o que virá a seguir não represente a visão social atual da Warner Bros., esses desenhos serão apresentados como foram originalmente criados, porque editá-los seria o mesmo que negar a existência desses preconceitos.”
E eis que temos maaaaaaais um capítulo da controvérsia envolvendo o personagem: dessa vez, Hank Azaria, dublador do dono do Kwik-E-Mart, foi lá no Late Show with Stephen Colbert e, perguntado sobre o assunto, disse que nunca quis que ninguém se ofendesse e que “só queria fazer algo engraçado” mas que, cada vez mais desde que o retrato que o desenho faz dos indianos passou a ser questionado, tem pensado sobre o assunto e inclusive sugere algumas soluções.
“Eu acho que a coisa mais importante é escutar pessoas indianas e suas experiências [com Apu]. Eu realmente quero ver roteiristas indianos e sul-asiáticos na equipe”, diz Azaria, que se recusou a falar sobre o assunto para O Problema com Apu. “Não de uma maneira simbólica, mas sim genuinamente, nos apontando novas e melhores direções a serem tomadas… incluindo como Apu deve ou não ser dublado. Eu aceito perfeitamente me afastar ou fazer algo novo. Pra mim, parece o certo a ser feito”.
Reformular um personagem consolidado há VINTE E OITO anos não deve ser tarefa simples, mas existe nisso uma importância muito maior do que apenas dificuldades de roteiro e produção — que podem e DEVEM ser revistas.
Em uma pesquisa recente do National Center of Educational Statistics, órgão do governo americano dedicado à pesquisas sobre educação nas escolas públicas dos EUA, vemos que o bullying motivado por preconceito étnico/racial está entre os mais citados entre os estudantes americanos.
Responsabilidade social é real, amiguinhos. E, quem sabe, com essa abertura do Hank, não tenhamos um novo futuro pro Apu?