A história do retrato que Aretha Franklin nunca viu | JUDAO.com.br

O fotógrafo Bruce W. Talamon contou a história da tarde que passou fotografando a rainha do soul e nos deu um gostinho de como ela era sublime

Diva é uma palavra que deriva do latim divus. Significa “divindade feminina”. Atualmente, a gente associa com um comportamento meio mimado de grandes cantoras e atrizes de fama mundial e claro que existe bastante machismo nessa classificação que vê mulheres poderosas como “mandonas” e homens poderosos como “líderes”.

Mas sabemos bem que pessoas como Mariah Carey, Beyoncé, Madonna e Janet Jackson, todas tratadas como “divas”, são igualmente conhecidas por terem sempre grandes exigências nos bastidores e níveis altíssimos de perfeccionismo com suas carreiras.

Aretha Franklin era diva. Ela aprendeu a tocar piano sozinha; tinha só 18 anos quando entrou pros Hot 100 da Billboard com Won’t Be Long; sua voz pertencia à rara categoria “absoluta”, atingindo quatro oitavas; foi a primeira mulher a entrar pro Rock and Roll Hall of Fame; e fez TANTAS outras coisas que eu poderia passar um tempão aqui listando tudo. Mas deu pra ter uma ideia, né?

Recentemente, o fotógrafo FODÃO Bruce W. Talamon resolveu publicar uma foto nunca antes vista da cantora. Ele, que registrou especialmente o cenário de R&B, soul e funk durante as décadas de 70 e 80, disse que aquele registro também nunca tinha sido visto pela própria Aretha.

Tudo rolou em 1977. Bruce trabalhava para o jornal Soul. Era uma publicação especializado em artistas negros no mundo do entretenimento que não tinha lá uma GRANDE apoio comercial. As coisas andavam meio ruins e eles sabiam que ter Franklin como destaque seria algo importante – e venderia feito água no deserto.

“O dinheiro era curto”, disse Talamon. “[O jornal] precisava dela na capa, e ela disse ‘Mas é claro.’”. É bom lembrar que, nesse ano, a cantora já era MUITO premiada, famosíssima e voava bem alto. Só por isso, já poderia parecer intimidadora. Mas Bruce garante que as coisas eram beeeem diferentes do que ele imaginava.

—-////Aretha não tinha maquiadores. Não andava com os próprios cabeleireiros e figurinistas, não tinha uma equipe que a paparicava. “Ela se maquiou sozinha. Arrumou o próprio cabelo, puxando-o para trás e prendendo tudo num coque”, conta. Além disso, ela não foi cercado por seguranças ou assistentes pessoais. Eles ficaram sozinhos na sala da casa de Franklin e, segundo ele, a cantora prezava DEMAIS pela sua imagem e queria muito saber sobre a composição e iluminação de seus retratos. Mas tudo de uma maneira tranquila.

Ela sabia muito bem como posar. E, pra ficar confortável, tocou uma música que Bruce não lembra bem se foi ao piano ou à capella. “Eu disse a ela que amava seus olhos”, ele lembra. “E falei ‘Gostaria que você se debruçasse no piano,’ e pronto, lá estava. Acho que ela está olhando pra mim de uma maneira sedutora. Não pra mim mesmo, mas para a câmera”, afirmou. “Ela estava se divertindo. Aqueles olhos... aqueles olhos te seguiam por todo lugar”.

A imagem de artista mimada caiu naquele dia para o fotógrafo. “Eu lembro que ela queria me deixar à vontade, me perguntando de onde eu era. Disse que havia crescido em Los Angeles e conversamos sobre isso. Pra mim, ela nunca foi uma diva. Ela era gentil com seu próprio tempo”.

A foto acabou não entrando para a matéria da Soul, mas foi publicada no novo livro de Talamon, Soul. R&B. Funk. Photographs 1972-1982, publicado pela Taschen. E, realmente, não há nada a acrescentar. Duvido você olhar para o retrato que ilustra a matéria lá em cima e não pensar também naqueles olhos.

Aretha era diva no sentido mais puro da palavra. Era deusa. <3