Não é a gente falando, não: isso é o que comprova a pesquisa de uma universidade norte-americana que analisou os principais filmes lançados por lá nos últimos 7 anos
Meu velho avô costumava dizer que os números não mentem. Acho que não só o meu, como o avô de muita gente, professores de matemática, e esse pessoal que, obviamente, não é de humanas.
Por exemplo: as mulheres representaram apenas 30,2% dos personagens com nome e/ou algum tipo de fala (ou seja, que não eram apenas um extra que aparece no fundo da cena e é esmagado pelos destroços de um prédio ou algo assim) nos 700 filmes de maior bilheteria lançados nos EUA de 2007 até 2014. E destas senhoritas representadas, somente 19% tinham mais do que 40 anos.
Nos focando apenas nos 100 filmes de maior faturamento na terra do Tio Sam em 2014, 73,1% destes personagens com nome/fala eram brancos. Apenas 19 dos personagens retratados eram gays, lésbicas ou bissexuais – e nenhum era um transgênero. E isso analisando um total de mais de 4.600 personagens. DEZENOVE.
Apenas dois destes 100 filmes foram dirigidos por uma mulher. E nenhum, mas NENHUM deles teve uma mulher com mais de 45 anos em um papel principal. Conforme bem nota o jornal The New York Times, nem mesmo Meryl Streep, uma das formiguinhas mais trabalhadeiras da indústria, conseguiu estar entre as protagonistas de um blockbuster.
Ainda em 2014, a pesquisa dá conta de que 27,9% das personagens femininas usavam roupas sexualmente reveladoras, contra 8% dos personagens masculinos; que 26,4% delas apareciam nuas ou parcialmente, contra 9,1% dos homens; e que 12,6% das garotas receberam comentários sobre sua aparência, contra somente 3,1% dos caras.
Entre todos os 700 filmes estudados, 100 deles por ano, apenas TRÊS foram dirigidos por um negro.
Espantoso, não? Pois é. Na real, nada que a gente já não soubesse fazendo apenas um exercício simples de observação. Mas quando alguém vai lá e faz a contagem disso tudo e joga os números na sua cara, a situação fica ainda mais gritante e assustadora.
Os números, no caso, são de um estudo chamado Inequality in 700 Popular Films, divulgado no final da semana passada pela Media, Diversity & Social Change Initiative, um grupo de pensadores e pesquisadores criado pela University of Southern California’s Annenberg School for Communication and Journalism. “Examinando as tendências desta pesquisa ao longo do tempo, fica claro que não fizemos nenhum progresso tanto na frente das câmeras quanto atrás delas”, afirmou a professora Stacy L.Smith, uma das autoras do estudo, em entrevista ao jornal The Guardian. “O estudo reflete um péssimo desempenho não apenas para um grupo, mas para mulheres, pessoas de cor e toda a comunidade LGBT”.
Mas, vejam só, nem tudo é notícia ruim: em 2014, tivemos um crescimento de 25,4% na representação étnica dentro do segmento específico dos filmes ANIMADOS. Viva! Só que mais da metade deste número é distorcido pela imensa quantidade de personagens mexicanos em Festa no Céu, produzido por Guillermo del Toro. Ou seja... ¯\_(ツ)_/¯
Sabe o que é engraçado de constatar nesta história toda? Que de acordo com os últimos relatórios da MPAA (Motion Picture Association of America), as mulheres não são apenas metade da população, mas são também responsáveis pela compra de metade dos ingressos para cinema vendidos em todo o país. E os mesmos relatórios, puxa, nos mostram que os hispânicos já representam 25% do que os marketeiros chamam por lá de “frequent moviegoers”, aqueles caras que vão ao cinema com certa regularidade, independente do que tá em cartaz, e são o público-alvo primário de toda boa campanha de comunicação.
Olha... sei lá, mas acho que tem alguém perdendo algumas grandes oportunidades de conversar com fatias de público que podem se tornar ainda mais ativas e fiéis ao se verem representadas DE FATO em alguns filmes.
O The New York Times ainda faz questão de deixar claro que blockbusters com foco nas mulheres como Jogos Vorazes, dramas estrelados por negros como Selma e filmes que façam um retrato interessante e diversos dos latinos como o mais recente Velozes e Furiosos permanecem exceções em um campo largamente homogêneo. “A arte pode ser o espelho da vida, mas geralmente oferece um reflexo distorcido no caso do cinema mainstream dos EUA”.
Só que, né, nós somos um bando de chatos. A gente fica falando neste assunto o tempo todo porque, vai, isso é coisa das nossas cabeças cheias de paranoias e teorias da conspiração. Está tudo lindo, perfeito e maravilhoso. Ficamos enchendo o saco e “maculando” os seus abençoados hobbies com este papo de sexismo, de representatividade, de empoderamento...
Apenas para deixar claro: manda mais diversidade aê, galera. Mas manda MUITO mais porque ainda tá pouco. Bem pouco.