Homem-Formiga: faltou um tempero de ridículo no teaser | JUDAO.com.br

Enfim mostraram alguma coisa do diminuto herói da Marvel – mas com um tom bem mais sério e menos galhofeiro do que se esperava (ou queria)

Era o longínquo ano de 1997. Eu estava no primeiríssimo ano da faculdade, meros 18 anos na cara mas, vejam só, já escrevia para um site na internet. O projeto, criado por um colega de sala, atendia pelo apelido de PQP – mas podia ser encontrado na nada singela URL www.putaquepariu.com (Não, o domínio não é mais nosso e, da última vez que chequei, direcionava para um site pornô. Por sua conta e risco). Era essencialmente um site de humor, anárquico, feito por um bando de moleques que se achavam engraçadalhos. Mas fez sucesso, nesta internet BR pré-bolha. Sucesso numa internet em que o Google não existia – é, isso já aconteceu – e as buscas eram feitas pelo Cadê ou pelo Altavista. Uma internet sem áreas de comentários (VIVA!) e sem redes sociais. O Facebook ainda estava no saco do Zuckerberg. Assim, pra falar com a gente, os simpáticos “internautas” tinham que recorrer ao jurássico artifício do e-mail.

A PQP tinha os seus recantos nerds, em especial uma área de análise/matérias sobre quadrinhos, na qual eu e um tal de Marcelo Forlani (é, ele mesmo, e vocês aí achando que somos todos inimigos e nos odiamos para sempre) escrevíamos regularmente. Como muitos dos e-mails que a gente recebia tinham essencialmente as mesmas dúvidas/questionamentos e a quantidade recebida era quase enlouquecedora, criamos uma espécie de seção de cartas semanal, para responder às mensagens mais representativas e divertidas. E por algum motivo, diabos, o assunto passou a ser constantemente o Homem-Formiga.

Acho que tudo começou, obviamente, com alguém querendo me sacanear. Lembro claramente que a primeira pergunta era “como as partículas Pym conseguem fazer as roupas do Hank encolherem junto com ele sem se deformarem no começo ou no final do processo?”. Um lance assim, bem nerd mesmo. O cara talvez nem estivesse esperando uma resposta. Mas eu respondi, com um pouco da pseudociência dos gibis, fazendo uma piadinha, enfim. Bingo. Virou graça. Toda semana eram, sem mentira, dezenas de mensagens a respeito dele. Uma pergunta recorrente, a la Brodie em Barrados no Shopping (filme do Kevin Smith que é ao mesmo tempo imbecil e indispensável), era sobre o PINTO do Homem-Formiga, sobre o que aconteceria com ele se acidentalmente diminuísse ou aumentasse de tamanho enquanto estava transando com a Vespa, se ele conseguiria ampliar só esta parte do corpo...

Uma coisa, no entanto, ficou clara pra mim: as piadas se justificavam especialmente porque o Homem-Formiga é um herói que beira o ridículo. Sempre foi. Ah, tá bom, você pode espernear, dizer que é um absurdo, que o Hank Pym é um dos membros fundadores dos Vingadores, mimimi. O fato é que o personagem só se tornou de fato grande para a mitologia da Marvel quando o foco passou a ser no Hank Pym cientista e não no Hank Pym herói. Ele se tornou de fato interessante quando começou a vestir outras roupagens, tornando-se o Golias, o Jaqueta Amarela... Foi aí que ele virou uma das mentes científicas mais brilhantes da Marvel e o criador do Ultron. E não quando encolhia e cavalgava numa formiga. Quando Scott Lang assumiu o capacete, o humor se tornou uma de suas maiores armas, tanto enquanto personagem quanto no tom das tramas. Eram os roteiristas brincando com o quão bizarro é o conceito do herói.

Ou seja: o quão ridículo ele é se tornou um trunfo. O que não é uma coisa ruim, entendam, ainda mais quando se assume esta faceta e quando se brinca com ela. E justamente por isso, depois de tanto tempo respondendo perguntas ridículas sobre um herói ridículo, me surpreendeu o fato de que nos últimos dias só se ouviu falar sobre o tal do Homem-Formiga. Foi pôster, foi capa de revista, foi teaser do trailer (ai, ai...), foi trailer, foi tudo.

O mundo realmente dá voltas, não?

Quanto ao trailer em si – que, na verdade, é um teaser, mais curtinho, só prá dar um gostinho – confesso que eu esperava que no total ele fosse mais, não sei, talvez como foram os seus segundos finais, quando o Lang (Paul Rudd) questiona ao Hank Pym (Michael Douglas) se é tarde para mudar de codinome... Porque é um pouco isso que eu espero do filme, sendo honesto. A Marvel misturando doses mais fartas de humor em um filme de ação/roubo, tirando sarro de si mesma, assumindo o ridículo, meio na vibe dos Guardiões da Galáxia.

Em termos de história, na verdade, não tem nada que a gente não soubesse até então. Scott Lang foi preso, é pai, quer uma segunda chance na vida. Hank Pym é um cientista genial mas um empresário um tanto desleixado, que cria um laço com um ladrão mas não percebe que um escroto como Darren Cross (Corey Stoll) está prestes a roubar sua companhia pelo lado de dentro. A filha de Pym, Hope (Evangeline Lilly), é uma garota que chuta bundas, refletindo o passado heroico de sua finada mãe. Ela parece que vai treinar o Lang – o que já dá a entender que deve rolar ainda uma coisinha entre os dois, enfim. Meio isso. O tom ficou um pouco sério demais, com foco na missão que Pym quer que Lang aceite, em nome da família, para ser o herói que a filha dele já acha que ele é – Lang é pai da Cassie (que aqui é uma menina, mas que nos gibis é uma adolescente que também se tornou heroína), Hank é pai da Hope, ambos pais de garotas... Bonitinho...

Tá bom, tá certo que ainda é o primeiro vídeo, a gente entende isso perfeitamente.

Mas, fazendo novamente referência aos próprios Guardiões, faltou, sei lá, um “hooked on a feeling” ali, para pegar todo mundo de surpresa. Obviamente, eu confio na Marvel. Não, eles não são à prova de erros, à prova de balas, mas até o momento, têm uma taxa de acertos bem alta. O caso é que, conforme o Borbs explicou neste texto aqui, um trailer é uma ferramenta de marketing. Ele tem que vender o produto, vender o conceito. Pra mim, este primeiro vídeo de Homem-Formiga não vendeu algo além de um filme genérico de super-herói. Da Marvel, que legal, u-hu. Mas genérico.

Ant-Man

Espero, de coração, ver um pouco mais de piadinhas num trailer maior, mais completo, que deve sair daqui algum tempo. Um pouco mais sobre a utilização dos poderes do Formigão (porque, neste teaser, não tem nada que a gente não tivesse imaginado nos pôsteres e imagens de divulgação) e, claro, mais cenas que mostrem o sujeito menor, em perspectiva, num daqueles momentos Querida, Encolhi as Crianças. Talvez até um mínimo sinal do vilão, o Jaqueta Amarela no qual Cross vai se transformar. Se você puder, querida Marvel, mostra também pra gente alguma coisinha, por menor que seja, que deixe claro que este personagem está totalmente inserido no Universo Marvel cinematográfico. Uma cena do passado, de Pym com Peggy Carter e Howard Stark? Já seria bem empolgante para esquentar as coisas.

Você até que fez direitinho, com aquele vídeo “tamanho formiga” e o pôster, poxa.

Enquanto isso, prometo ficar de olho vivo em todos os materiais para sacar se, em algum momento, eles não vão usar nenhuma das respostas que eu dava sobre o Homem-Formiga. Vai saber. Vou querer meus royalties! :)