HQs para ler DEPOIS de ver Doutor Estranho | JUDAO.com.br

Conheça um pouco mais do personagem e dos elementos que inspiraram o filme

SPOILER! A magia e o ocultismo chegaram ao Universo Marvel dos cinemas: Doutor Estranho, o filme, já é uma realidade e essa pode ser a porta de entrada para as HQs de um dos personagens mais interessantes (e pouco valorizados) da Marvel Comics.

Sim, “pouco valorizados”. Apesar de oito entre dez marvetes falarem que gostam do cara, ele nunca foi campeão de vendas em seus títulos-solo (o que talvez prove alguns pontos sobre fãs e seus poderes de barganha). Além disso, apesar de todo o potencial que a magia e o ocultismo representam, ele nunca teve uma constante de boas histórias, como aconteceu, lá pelos lados da DC, com John Constantine. É sempre um desafio saber dosar esse lado mágico com as necessidades e exigências dos gibis de super-heróis, e muitos roteiristas acabam se perdendo no meio disso.

Nada tema, caro leitor. Vamos guiar essa sua viagem muito louca no lado sombrio da Marvel, indicando agora quais HQs você precisa ler depois de assistir ao filme do Doutor Estranho.

Você quer, eu sei. ;)

strange

| Strange Tales #110-115
Aqueles eram os primórdios da explosão criativa da Casa das Ideias. Em menos de dois anos, a editora havia lançado Quarteto Fantástico, Homem-Formiga, Hulk, Homem-Aranha, Thor, Homem de Ferro e até Nick Fury, ainda junto de seu Comando Selvagem. Foi aí que Steve Ditko, co-criador do Aranha, teve a ideia de buscar inspiração em outro lugar.

Veja: Stan Lee, até aquele momento, estava bebendo do inconsciente coletivo gerado pela Guerra Fria. Seus heróis eram, basicamente, pessoas que sofreram mudanças após algum desastre radioativo ou algo do tipo (como Peter Parker e Bruce Banner), eram resultado da corrida espacial (o Quarteto) ou eram cientistas/industriais criando novas ferramentas de combate (Tony Stark e Hank Pym). O Comando Selvagem era herança das HQs de guerra, muito famosas e com as quais Lee trabalhou por bastante tempo, enquanto o Thor era o único personagem realmente fora da curva – um deus nórdico, mas totalmente baseado em tecnologia.

Apesar de que, bom, dizem que o Thor é mais criação do Jack Kirby do que do Lee, o que explica muita coisa...

O que Ditko fez foi olhar pro outro lado da cultura sessentista. Ele viu a descoberta da medicina do oriente, do movimento hare krishna, de todo o debate sobre a existência do ch’i, a energia básica do universo que existe em toda a matéria, inclusive nós mesmos. O quadrinista, inclusive, era fã de Chandu the Magician, um seriado de rádio exatamente sobre um homem ocidental que vai até a Índia aprender sobre o oculto.

O que o quadrinista fez foi transportar toda essa inspiração para uma pequena história de cinco páginas, na qual um homem branco, ocidental, chamado Stephen Strange usa esses conhecimentos, tidos como magia negra, para combater o mal. Um detalhe: a ideia não era representar de forma exata essa cultura, mas justamente de retratá-la pelos olhos de de alguém do OESTE.

Ditko apresentou a HQ pra Lee, que, apesar de ter umas ressalvas, gostou da ideia geral. Inicialmente o personagem se chamaria Sr. Estranho, mas o editor e roteirista achou que ficaria muito parecido com o Sr. Fantástico. Foi assim, então, que nasceu o nome Doutor Estranho, que teve uma história curta publicada em Strange Tales #110, com arte de Steve Ditko e roteiros de Stan Lee.

Até hoje, a Marvel oficialmente credita a dupla como os criadores do herói – mas, ainda nos anos 60, Lee falava abertamente que Doutor Estranho é uma criação exclusiva de Steve Ditko.

Doutor Estranho

Naquelas primeiras histórias, Estranho dividiu Strange Tales com o Tocha-Humana, com a origem dele sendo finalmente contada na edição 115. A história é aquela que você conhece: Stephen Strange era um cirurgião famoso preocupado apenas com dinheiro, sem se ligar muito nos pacientes ou até em novas pesquisas. Depois de perder parte do movimento das mãos em um acidente de carro, ele para de trabalhar e vai viver nas ruas. Porém, ao descobrir a existência do Ancião e de seus poderes de cura, vai até a Índia em busca de ajuda.

Inicialmente, o Ancião não quer ajudar Strange, que é motivado por razões mesquinhas. No entanto, ele presencia um ataque do Barão Mordo e, a partir daí, se sente motivado a aprender as artes ocultas. Finalmente o Ancião aceita Strange como discípulo.

Essas primeiras HQs do Doutor Estranho foram republicadas no Brasil recentemente, na edição 31 da coleção Heróis Mais Poderosos da Marvel, da Salvat, e em Coleção Histórica Marvel: Os Defensores. Obviamente, todos os exemplares podem ser comprados digitalmente no ComiXology, ou ainda estão disponíveis pra quem assina o Marvel Unlimited Comics.

| Strange Tales #126-128
DormammuEm Strange Tales #115, uma misteriosa figura fumacenta já havia aparecido, ainda sem nome. Aquele conceito seria aprofundado por Ditko e Lee quase um ano depois, na edição 126.

Na história, o Ancião informa para Strange que o maligno Dread Dormammu está tentando sair da Dimensão Sombria e atacar a Terra. Stephen então vai para essa outra dimensão, avisando EM PESSOA que a treta é forte no Universo Marvel. Lá, enquanto enfrenta guerreiros malignos, Estranho conhece uma garota, que mostra onde Dormammu está. Ela se revelaria como Clea, o futuro INTERESSE AMOROSO do personagem.

A HQ, que continua na edição 127, saiu recentemente no Brasil em Coleção Histórica Marvel: Os Defensores, além da distribuição digital.

Outra HQ dessa fase, disponível apenas digitalmente por aqui, é Strange Tales #128, que é quando o Ancião, finalmente confiando mais em Stephen Strange após ele derrotar o Dormammu, entrega o poderoso Olho de Agamotto, que, na real, é o TERCEIRO olho do grande mago Agamotto. O amuleto possui diversas capacidades, como emitir uma luz que “revela tudo” e “reverter” eventos recentes.

| Doctor Strange Vol.1 #169
Aos poucos, o Doutor Estranho foi crescendo em importância. Stan Lee, também cada vez mais atarefado, deixou o título. O mesmo aconteceu com Steve Ditko, que brigou com a Marvel e foi para a Charlton e, depois, para a DC Comics. Danny O’Neil assumiu os roteiros e, depois de uma rotação de artistas, a tarefa de dar forma ao herói ficou com Dan Adkins.

Em 1968, depois de renegociar seus contratos de distribuição, a Casa das Ideias deu um título próprio para o Estranho – na verdade, a editora renomeou Strange Tales para Doctor Strange na edição 169, jogando as histórias de Nick Fury, que dividia a publicação, para uma nova revista. Além disso, Roy Thomas começou a cuidar do roteiro, ainda trabalhando ao lado de Adkins.

A primeira publicação dessa nova fase é marcante por recontar a origem do Doutor Estranho. Agora com mais páginas, a dupla Thomas-Adkins traz mais detalhes para este começo do herói, relatando inclusive que ele se tornou um alcoólatra após o acidente de carro. No geral, o caminho é aquele mesmo: depois do que aconteceu e de perder tudo, ele vai em busca do Ancião, salvando-o de um ataque do Barão Mordo, e é finalmente aceito como discípulo das artes místicas.

Uma curiosidade sobre a HQ: ela é a única vez, em toda a história do personagem, que Stephen Strange fuma — o que é bem estranho pra um médico na sala de operação...

No Brasil, essa história não é republicada desde o final dos anos 1970. Ainda assim, distribuição digital tá aí pra resolver isso, não é?

Apesar do holofote todo para si, o Doutor Estranho não conseguiu manter as vendas que justificassem um título próprio, com a revista sendo cancelada no número 183, publicado em 1969.

Doutor Estranho

| Marvel Feature #1-2 + Defenders #1-4
Com aquela cena no meio dos créditos do filme, com Stephen Strange trocando uma ideia com Thor Odinson, muita gente deve ter pensado: como será a interação de um personagem tão diferente com o resto do Universo Marvel? Bom, as pistas estão nos gibis desde o começo dos anos 1970. :)

Tudo começou na cabeça de Roy Thomas, que, depois de um ABRUPTO cancelamento de Doctor Strange, continuou com o plot que ficou incompleto em edições dos gibis de Namor e Hulk. Dessa forma, esses três personagens – diferentes entre si e até do resto dos heróis da editora – passou a ter um laço em comum. Finalmente, em 1971, Thomas escreveu a história para unir todos eles na luta contra o alien Yandroth, formando a super-equipe chamada Os Defensores em Marvel Feature #1.

A iniciativa deu tão certo que, na edição seguinte de Marvel Feature, eles voltariam a se unir pra enfrentar o Dormammu. Em 1972, o time ganharia um gibi próprio, Defenders. A Valquíria, aquela do Thor, passaria a fazer parte da equipe na edição 4. Sim, a Valquíria que será interpretada pela Tessa Thompson no filme Thor: Ragnarok, que também contará com o Hulk. Será que teremos uma nova versão dos Defensores no filme (com outro nome, claro, já que esse tá reservado pra série do Netflix), com o Thor fazendo o papel do Namor? Hmmm...

No Brasil, essas HQs saíram na revista do Capitão América no começo dos anos 1980. O primeiro volume da equipe pelo Marvel Masterworks tá esgotado na Amazon, mas no digital... ;)

Defensores

| The Avengers #116-118 + Defenders #9-11
Com dois grandes times nas mãos, não demorou pra surgir a ideia de botar todo mundo pra lutar entre si, tudo escrito por Steve Englehart: Dormammu e Loki se unem para acabar com seus grandes antagonistas. O irmãozinho do Thor então manipula os Defensores a buscarem para ele o Olho do Mal, destruído pouco antes. Em seguida, ele foi procurar os Vingadores “pedindo ajuda” contra a equipe do Estranho, que estaria reunindo os pedaços do tal Olho para “fins sinistros”.

Isso é o suficiente pra colocar as duas equipes uma contra a outra – sendo que, nessa época, os Vingadores contavam com Thor, Visão, Capitão América, Homem de Ferro, Feiticeira Escarlate, Espadachim, Pantera Negra e Mantins; enquanto os Defensores tinham a trinca Namor-Estranho-Hulk, além da Valquíria, Surfista Prateado e Gavião Arqueiro. Duas grandes equipes duelando num crossover em oito partes.

Eventualmente, claro, as equipes descobrem que estão sendo manipuladas pelos vilões, se unindo para atacá-los.

O arco completo foi publicado no Brasil em 2008, em Os Maiores Clássicos dos Vingadores vol.4.

Thor vs Hulk

| Marvel Graphic Novel #49
Essa aqui é uma das maiores histórias do Doutor Estranho, escrita por Roger Stern e desenhada por Mike Mignola, o criador do Hellboy. Na HQ, Strange se vê obrigado a fazer uma inesperada união com o Doutor Destino. Sim, uma JUNTA MÉDICA.

Juntos, os dois vão até o inferno em busca da alma da mãe de Von Doom, que está nas mãos do maligno Mephisto. A HQ então coloca frente a frente essas personalidades tão diferentes, mas ao mesmo tempo com trajetórias tão parecidas, em uma arte incrível do Mignola.

Claro que o plano do Destino é ainda maior do que salvar a própria mãe, mas vamos deixar a surpresa pra quem ler a história. :P

Em 2013, a Panini republicou a graphic novel no Brasil no especial Doutor Estranho & Doutor Destino: Triunfo e Tormento.

Triunfo e Tormento

| Doctor Strange: The Oath #1-5
Wong é, desde sempre, o grande parceiro de Stephen Strange, sempre salvando o herói das enrascadas. Uma dessas acontece quando o Estranho é ferido mortalmente por uma bala, sendo levado pelo fiel amigo até o PS gerido pela Linda Carter, a Enfermeira da Noite, aquela que ajuda os super-heróis feridos e não a Presidente dos EUA. Sim, a antiga parceira de Christine Palmer, personagem presente no filme do Doutor Estranho.

Com um Estranho em forma astral, relevando que irá morrer se ela não agir logo, Carter retira a bala de prata do peito do herói. Em meio a isso, descobrimos que Wong está com um tumor no cérebro e, ao saber a doença terminal do amigo, Stephen resolveu agir. Em outra dimensão, ele encontrou um ELIXIR para salvá-lo.

Só que esse elixir, que pode curar qualquer doença, atrai uma atenção desnecessária ao Sanctum Sanctorum, que é atacado. No entanto, os vilões não são o que você está pensando: são de uma indústria farmacêutica, a Timely, que tem medo de perder mercado com a existência de um remédio que pode curar qualquer coisa. No final, Strange e Linda Carter chegam a ter uma breve relacionamento.

Escrita por Brian K. Vaughan e desenhada por Marcos Martin, a minissérie foi publicada no Brasil ainda em 2007, na revista mensal Marvel Action. Em 2014, foi republicada no volume 53 da Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel, da editora Salvat. Também é bem fácil de ser encontrada na distribuição digital.

The Oath

| Doctor Strange vol. 4 #1-5
Na última década o Doutor Estranho encontrou um novo público, muito por ter se tornando um integrante importante dos Novos Vingadores. Assim, no final de 2015, a Casa das Ideias resolveu ressuscitar o título próprio do personagem. Doctor Strange vol. 4 #1 chegou com roteiro de Jason Aaron e arte de Chris Bachalo, além de um roteiro bem interessante para o primeiro arco.

Doutor Estranho

Chamado The Way of the Weird, a HQ mergulha de cabeça na magia do Universo Marvel, e os danos que ela causa a toda a existência. Os malvados são os Empirikul, uma raça que vem de outra dimensão e estão em uma cruzada para “purificar” todos aqueles que usam as artes ocultas. Sem poderes, o Estranho chega a usar um machado para enfrentar os vilões.

Por ser extremamente recente, esse arco ainda não foi publicado no Brasil, mas está disponível como encadernado e na versão digital gringas.