Gibis que, de alguma forma, inspiraram o que você viu no cinema – ou que se relacionam com o que foi contado no filme. Um guia pra você que não sabe por onde começar a ler as HQs do herói. :)
SPOILER! Sempre que tem filme baseado em personagem de quadrinhos nos cinemas, os gibis originais obviamente ficam em evidência. Afinal, o que poderia ter inspirado isso ou aquilo? O que de fato valeria a pena ler no meio de uma cronologia complicadíssima e que já dura décadas?
Com esses filmes maiores, da Marvel e da DC, virou tradição a gente fazer este tipo de ~guia aqui no JUDAO.com.br mas, no caso de Thor: Ragnarok (já leu a nossa resenha?), é quase que uma necessidade mesmo. Tem tanta coisa acontecendo na telona que não dá pra ignorar. É Thor sem martelo, é Thor lutando com o Hulk, é Hulk gladiador, é a Hela aparecendo, é o próprio título do filme que indica o apocalipse para a mitologia nórdica...
Sabíamos que cê tava esperando. Então... :D
Um verdadeiro clássico de 1964, obra da dupla Stan Lee e Jack Kirby, Journey into Mystery #102 é o gibi no qual Hela apareceu pela primeiríssima vez. A história é meio rocambolesca, com Thor viajando para o século 23 junto com o cientista maluco Arthur Zarrko, para impedir que ele mesmo destrua o nosso planeta aqui, no século 20 (que era o presente naquele momento sessentista, lembre-se). Mas tudo bem, esta era a Casa das Ideias em uma época em que ser rocambolesco não só era permitido mas incentivado – e eu acho que ainda é, mas vamos deixar pra discutir isso depois.
Todavia, aqui o que importa é a SEGUNDA história da edição, parte da série Tales of Asgard, que tem o título de Death Comes to Thor. Tamos falando de um jovem Thor, que finalmente encontra as três Nornes, deusas do destino, esperando que elas possam lhe dizer se, no futuro, ele será digno de empunhar o martelo mágico de seu pai. E aí ele descobre que vai ter que enfrentar a morte primeiro. No caso, LITERALMENTE. ;)
Lady Sif é entregue para Hela pelo Rei Rugga, que buscava uma negociação para ter vida eterna. E lá vai o Deus do Trovão, ainda sem barba na cara mas cheio de coragem, oferecer a sua própria vida em troca de sua amada. Tocada pelo honra do herdeiro de Odin, ela deixa o garotão levar a guerreira consigo. E digamos que aí estava garantido o seu direito a ter o Mjolnir para sempre também.
Nascida em Jotunheim, terra dos gigantes, Hela é filha de Loki (embora um Loki de uma encarnação diferente, que existia antes de um dos muitos Ragnaroks asgardianos) e da gigante Angrboða. Vista como uma ameaça fundamental para Asgard, ela é decretada por Odin como sendo a deusa da morte e comandante dos espíritos dos mortos em Hel e Niffleheim — a não ser, é claro, os guerreiros que morreram em batalha como heróis. Estes, obviamente, seriam levados para curtir a vida eterna nos salões de Valhalla, como diz a lenda.
Essa história pode ser encontrada no Brasil como parte da
Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel #2 (de 2016) ou, em inglês e digital, no ComiXology.
Importante lembrar aqui que parte do conceito de Hela no terceiro filme do Thor é inspirado também em Gorr, o matador de deuses que Jason Aaron nos apresentou em Thor: God of Thunder #2 (Janeiro de 2013). Além da Necro-Espada, é ele que tem esta habilidade de criar armas/lâminas de onde bem entender, como a Deusa da Morte faz nas telonas.
Outra edição imperdível de Lee e Kirby, Journey Into Mystery #112, de 1965, traz o primeiro confronto de verdade entre o Thor e o Hulk. Os dois já tinham tretado dois anos antes, em Avengers #3, mas era uma história dos Vingadores, teve uma força do Namor pra deter o Gigante Verde que estava putaço o bastante para amarrar o Deus do Trovão com os trilhos de uma ferrovia.
Aqui, a luta era pra tirar a dúvida que afligia as jovens cabecinhas dos leitores na época: afinal, quem é mais forte, o Thor ou o Hulk? Embora o computador de bordo do Quinjet tenha uma resposta para esta pergunta, o questionamento pairava no ar. Sobrevoando NY, aliás, Odinson dá de cara com umas crianças debatendo justamente isso aí. Então, o Deus do Trovão desce pra conversar com a molecada e conta exatamente um pedaço da história anterior, aquela do gibi dos Vingadores, que não tinha sido revelado ainda. Porque teve SIM um momento em que os dois lutaram sozinhos, um contra o outro.
Sacando a força do oponente, Thor chega a pedir para Odin suspender o encantamento que o faz voltar a ser o médico Donald Blake depois de se separar de seu martelo por sessenta segundos – já pensou o que poderia acontecer? Era a hora de testar apenas força contra força, punhos contra punhos. Basicamente, depois de trocarem SOPAPOS e de inúmeras tentativas de destruir aquele Mjolnir inconveniente, o Hulk derruba uma caverna na cabeça do oponente. No fim, os dois escapam, não fica a certeza de quem diabos é mais forte ou não (claaaaro) e aí eles encontram os Vingadores e o restante da história se desdobra do jeito que os leitores já tinham lido algum tempo antes.
Ou seja... Ao longo dos anos, eles tiveram que continuar brigando pra caralho pra tentar chegar a um acordo sobre o resultado. Mas nunca chegaram. ¯\_(ツ)_/¯
No Brasil, você também pode ler essa história em Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel #2 ou na Coleção Histórica Marvel #2 (de 2012), além, é claro, do ComiXology.
Obviamente que o tema mitológico do fim do mundo foi algumas vezes abordado nos gibis clássicos do personagem – mas esta passagem, cortesia da dupla Roy Thomas e John Buscema (o mesmo time criativo que cuidou do Conan) em Thor #272-278 (1978), é das mais lembradas. As pistas de que o Ragnarok se aproxima estão em todas as partes, incluindo a aparente morte de Balder – e é aí que Loki brilha como o Deus da Trapaça. Porque é ele que abraça o caos de uma vez por todas e, convencido de que talvez nunca mesmo se torne o regente de Asgard, começa a armar de tudo pra profecia se cumprir. Se não sou rei, ninguém mais vai ser e vou queimar esta caralha toda.
Da presença de uma equipe de reportagem vinda da Terra para desvendar os segredos da cidade dourada dos deuses (nem pergunta...) até a abertura das portas do reino de Hel, para que Hela liberasse seus demônios e trolls sobre Asgard, tem de tudo, inclusive o surgimento de um outro Thor (pois é, criado por Loki, um sujeito de barba ruiva como nos mitos originais dos povos nórdicos), o sacrifício de Odin (mais um) e até a lendária luta do trovejante com Jormungand, a Serpente de Midgard, um confronto ÉPICO há muito tempo cantado, aguardado e comentado nas lendas de seu povo.
Ah, claro. Aqui conhecemos ninguém menos do que a coitada da Sigyn, simplesmente a esposa do Loki. Aquela que sempre o apoiou e intercedeu por ele em julgamentos mesmo quando Odin estava disposto a exilar o dito cujo para sempre.
No Brasil, a história só foi publicada uma vez, em 1987, em Heróis da TV #95-99. Em inglês, você encontra as edições avulsas no ComiXology OU pode comprar o único encadernado existente até agora, na Amazon.
Talvez o momento mais brilhante da icônica passagem de Walt Simonson pelo título do Thor – simplesmente o cara que, depois de Jack Kirby, mais fez pela mitologia e pelo visual/ambientação do personagem. Publicado entre 1984 e 1985, The Surtur Saga durou do número 340 até o 353 de Thor e trata do retorno de Surtur, o mais antigo e poderoso dos demônios de fogo de Muspelheim, aquele destinado a dar fim ao reino de Asgard durante o Ragnarok, cravando sua imensa espada flamejante não apenas na Chama Eterna mas também no coração da cidade e explodindo para sempre todos os Nove Reinos (Midgard aka Terra incluído aí, tá?).
Se os escritos de Simonson à frente do Thor usavam e abusavam (ainda bem, aliás) da extravagância não apenas visual mas temática, este pedaço de seu trabalho é daquelas superproduções hollywoodianas que gastaram todo o orçamento possível em efeitos especiais bombásticos (quem não se lembra da onipresente onomatopeia DOOM?), cenários megalomaníacos e centenas de extras nas monumentais sequências de batalha.
Agora com uma nova identidade secreta, o desajeitado trabalhador da construção civil Sigurd Jarlson, o Deus do Trovão conta não apenas com a ajuda de seus CONFRADES Vingadores em determinados momentos da batalha demoníaca, mas também com o melhor coadjuvante que mereceria ainda mais espaço nos gibis da Marvel (e, sei lá, quem sabe, nos cinemas), ninguém menos do que o alienígena Bill Raio Beta (que, assim como Hulk, tem seu BUSTO encravado na torre do Grão-Mestre e, dizem, é um dos donos daquela nave espacial) e seu martelo dourado Rompe Tormentas.
A Saga de Surtur pode ser encontrada no Brasil nos dois primeiros volumes de Os Maiores Clássicos do Poderoso Thor (de 2006 e 2007) ou, em inglês, no ComiXology.
Com o título original de Avengers Disassembled: Thor, esse foi um crossover que rolou entre 2004 e 2005, preparando a revolução que Brian Michael Bendis fez nos gibis dos Vingadores, que acabou atingindo os títulos periféricos, de personagens como o Thor. Em seu próprio gibi, na trama escrita por Michael Avon Oeming nos números de 80 a 85, vemos o Thor em busca da sabedoria de seu pai e entendendo que ELE mesmo deve ser o arquiteto do Ragnarok, que o dito cujo tem mesmo que acontecer como parte da história dos deuses de Asgard. Te lembra algo? ;)
Na real, o que acontece é que o Deus do Trovão descobre que a eterna repetição de destruição e renascimento à qual seu povo é submetido nada mais é do que o alimento supremo para os “deuses acima dos deuses”, criaturas supremas chamadas de Aqueles Que Se Sentam Acima nas Sombras. Então, Thor resolve quebrar o ciclo vicioso, enquanto uma batalha monstruosa acontece diante de seu nariz. E aí os deuses entram em hibernação, incluindo ele. Esta história, bem da boa aliás, serve de ponto de partida para o renascimento dos deuses que J. Michael Straczynski conduziria depois, em um dos melhores momentos do herói em MUITOS anos. É quando Thor retorna e, enquanto tenta tirar seus amigos e familiares igualmente da hibernação e remonta a cidade de Asgard em Broxton, Oklahoma, descobre o que rolou durante a Guerra Civil.
Com Thor desaparecido, Tony Stark precisava de seu apoio para a Lei do Registro dos Super-Heróis. E aí que o seu coleguinha bilionário resolve criar um CLONE-CIBORGUE do loirão a partir de seu DNA. Claro que dá bosta, o Thor postiço fica descontrolado e faz um monte de cagadas, incluindo matar o Golias. Quando o verdadeiro retorna, vai tirar satisfação com o Ferroso. E descobre que sua versão maléfica ainda está à solta. Atendendo pelo codinome de... Ragnarok.
No Brasil você pode procurar por Vingadores – A Queda (de 2008) ou ir direto na versão em inglês e digital no ComiXology.
Ah, essa aqui era meio óbvia, né? Publicada originalmente entre Abril de 2006 e Junho de 2007, no intervalo entre os números 92 e 105 da revista Incredible Hulk, a saga hoje cultuada do roteirista Greg Pak mostra os desdobramentos de um acesso de loucura do Gigante Esmeralda – que, depois da explosão de outra Bomba Gama, perde o controle e ataca Las Vegas. Então, os Illuminati (Namor, Homem de Ferro, Doutor Estranho, Reed Richards, Professor Xavier e Raio Negro) decidem que ele é perigoso demais pra ficar na Terra, criam uma armadilha, metem o grandão num foguete e o jogam no espaço. Ponto.
Sua nave então cai no planeta marcial Sakaar. Com um disco de obediência para controlar seus impulsos e torná-lo originalmente um escravo, ele é levado a lutar na arena de gladiadores, para o entretenimento do monarca local, o Rei Vermelho. Além de se tornar o favorito das massas, Hulk também começa a se tornar amigo de um movimento de INSURGENTES que surge nos bastidores da porra toda, incluindo um certo sujeito de pedra chamado Korg. A revolução toma conta, o nosso monstrão favorito vira o rei em exercício, devidamente casado com a Caiera, outrora braço direito do Rei Vermelho, e pai de dois filhos, Skaar e Hiro-Kala. Mas eventualmente, o alter-ego de Bruce Banner voltaria pra Terra, em busca de VINGANÇA contra os ex-coleguinhas...
Planeta Hulk foi relançada no Brasil nos números 46 e 47 da
Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel e em Marvel Deluxe: O Incrível Hulk, ambas de 2014. No ComiXology, claro, tem a versão digital e em inglês.
Originalmente, a Valquíria é uma guerreira asgardiana chamada Brunnhilde, selecionada pessoalmente para liderar as Valkyrior, sua tropa de elite. Mas a primeira aparição dela nos gibis, em Dezembro de 1970, foi como um disfarce da feiticeira Encantor no gibi The Avengers #83. Um ano depois, ela apareceria de fato como a Valquíria que conhecemos, em The Incredible Hulk #142 — só que novamente com uma manipulação da Encantor, colocando a essência de Brunnhilde no corpo da mortal Samantha Parrington, sendo então colocada para lutar contra o Gigante Esmeralda. Pois é, a garota era uma vilã. Ou quase isso.
Depois do pacto ancestral que Odin fez com os Celestiais, tanto ele quanto os deuses de outros panteões foram proibidos de fazer interações diretas com os humanos, o que encerrou os serviços das Valkyrior, que buscavam os guerreiros caídos no campo de batalha e levavam as suas almas para o Valhalla. Perdida e sem propósito em Valhalla, ela conheceu Encantor, com quem passou a viver uma vida de aventuras. Mas ao descobrir que a feiticeira não era exatamente a pessoa mais boazinha da existência, tentou se afastar e acabou aprisionada num cristal místico de almas, sendo usada durante séculos como alguém que dava seus poderes para os lacaios de Encantor.
Sua aparição enfim como heroína só se daria em 1972, na quarta edição do gibi dos Defensores. Ali, sob a batuta do roteirista Steve Englehart e com arte do Sal Buscema, ela foi colocada no corpo de ooooutra humana, uma certa Barbara Norriss, e enfim se tornou integrante do grupo (originalmente formado por Hulk, Doutor Estranho e Namor), montada no cavalo alado Aragorn.
The Avengers #83 nunca foi publicada no Brasil, mas você encontra digitalmente no ComiXology. Já The Incredible Hulk #142 saiu por aqui em 1972, no número 16 de O Incrível Hulk; mais fácil ler a versão em inglês do ComiXology.
Já The Defenders #4 está na Coleção Histórica Marvel: Os Defensores #1 (de 2016) e, claro, no ComiXology. :)
Atualmente saindo por aqui no gibi mensal da Thor (no ComiXology já existe um encadernado), esta é uma saga escrita por Jason Aaron e com a belíssima arte de Oliver Coipel, que apresenta o filho de Odin em uma situação que, de alguma forma, lembra aquela que podemos ver no final de Ragnarok. Ele tá de cabelo curto, perdeu o Mjolnir (aqui, por conta do segredo sussurrado por Nick Fury em seu ouvido durante a saga Pecado Original) e tentando se reencontrar na porra da vida. Bem menos polido e bem mais pistola de tudo, ele descobre que é bem mais do que apenas um martelo, apesar de passar parte de seu tempo em busca do martelão do Thor Ultimate, que veio parar na “nossa” Terra ao final de Guerra Secreta.
Além disso, se o Thor do cinema perdeu um olho, nessa HQ (que desemboca na cronologia atual dos EUA), ele teve o braço esquerdo cortado pelo elfo das trevas Malekith, substituindo-a por uma prótese feita do mesmo metal uru do qual é feito o seu Mjolnir véio de guerra. E, claro, ele usa como arma de combate o enorme machado Jarnbjorn, outro item frequentemente mencionado na mitologia nórdica e que, segundo consta, vai ser seu companheiro de aventuras em Vingadores: Guerra Infinita.
A conferir. ;)