O brasileiro Beto Skubs vendeu roteiro de série original para o Crackle, foi aprovado e agora segue para a fase de desenvolvimento. Falta pouco. E ele está confiante.
Pra quem curte quadrinhos independentes, talvez o nome do roteirista e produtor paulistano Beto Skubs não seja totalmente desconhecido. Em 2011, o que era originalmente um roteiro para cinema se tornou uma HQ, em parceria com Rafael de Latorre (arte) e Marcelo Maiolo (cores), que foi batizada de Fade Out: Suicídio Sem Dor. Selecionada e publicada via edital do Programa de Ação Cultural – ProAC da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, chegou a ser indicada ao HQMix e recebeu ótimas críticas nas publicações especializadas. Tamanho êxito levaria Skubs de vez para o lado dos gibis... Ou não.
No ano seguinte, ele se mudaria para os EUA, com o objetivo de estudar roteiro de cinema na UCLA (Universidade da California, Los Angeles — sim, esse é o significado da sigla). Lá, começou a escrever pilotos de séries de TV, já que este é um mercado bastante aquecido atualmente. Um deles, chamado Cataclysm, foi semifinalista de uma premiação específica, o PAGE International Screenwriting Awards, em 2014.
E agora, Skubs teve um projeto comprado pelo Crackle, plataforma online que pertence a Sony Pictures e que, a exemplo de Amazon, Hulu e Netflix, está investindo pesadamente na produção de conteúdo original. “Você pode assumir riscos nesse modelo, ir na contramão das gigantes. É isso que o Crackle está tentando fazer”, explica Skubs, num papo exclusivo com o JUDÃO.
O roteirista conta que a aproximação começou quando a empresa procurou a UCLA justamente em busca de conteúdo original de qualidade. “Eles pediram pra identificar 10 alunos tops pra escrever novos pilotos para eles, e eu fui um desses 10. O piloto foi desenvolvido fazendo um bate-e-volta com executivos do Crackle. Quando terminei o piloto, eles gostaram muito, e compraram”.
Mas o que acontece agora? Bom, o projeto está na fase de “desenvolvimento”. Isso significa ir afinando o roteiro do piloto, escrever o segundo episódio, e criar a “bíblia” do seriado – essencialmente, elevar o material criativo até ele ficar perfeito. “No final da fase de desenvolvimento, os executivos mandam as coisas pra cima e resolvem se vão dar o greenlight pra produzir a série”, explica ele. “Não tenho ideia de quanto tempo isso demora, acredito que seja diferente para cada projeto e tenha um milhão de fatores influenciando. Da minha parte, quero escrever os melhores roteiros que eu puder, e dar confiança a eles de que, se o greenlight vier, vamos produzir um seriado incrível”.
Caso receba a aprovação final para produção, Skubs acumulará as funções de roteirista e co-produtor executivo da série – que vai se chamar Singular (não, não se trata de uma adaptação de Fade Out, que Skubs enxerga como uma história fechada. “É um filme. Aliás, ainda quero fazer o Fade Out como filme”, confessa). Fã de histórias de gênero – sci-fi, mistério, ação, teorias de conspiração – o roteirista pretende contar a história de Jane Jones.
“Ela sofre um acidente de carro, que deveria ter sido fatal. Mas ela acorda, anos mais tarde, num laboratório médico sinistro, sem memórias – quer dizer, sem memórias dela”, conta. A garota tem memórias de um monte de outras pessoas, inclusive uma que diz que, se ela não fugir dali, ela vai morrer. “A Jane consegue fugir, e descobre que foi ajudada por um cara chamado Ben, que tem seus próprios motivos para querer tirar ela de lá – mas a idéia geral é que uma empresa chamada Singular Technologies andou fazendo experiências com as memórias dela. E pior, eles querem ela de volta, ou morta. Para conseguir se livrar deles, ela tem que descobrir quem são essas pessoas na cabeça dela, quem é ela mesma, desvendar essa conspiração”.
Apaixonado por séries (Lost, Breaking Bad e Os Sopranos são as três melhores da história, em sua opinião), Skubs conta que sempre quis se mudar para LA, para estudar e trabalhar. “Uma das coisas legais em LA é que a cidade vive e respira produção audiovisual. Nesse sentido, sim – mudar pra cá foi essencial. Aqui existe uma indústria estabelecida, existe um sistema de suporte. Em todo lugar que você vai, você conhece produtores, atores, escritores, diretores. Tem os empresários, agentes, pessoas procurando material novo e de qualidade para produzir. E uma coisa legal aqui é que se produz histórias de todos os tipos e gêneros”.
Mas antes que comece o #mimimi de “ah, lá fora é tudo muito melhor do que aqui”, ele faz questão de deixar claro que acha que o Brasil está no caminho certo. “Especialmente por conta dessa recente lei da TV a cabo, que demanda que boa parte da produção seja feita aí. No começo, é complicado – mas a tendência é que, com isso, seja criada uma nova safra de profissionais, tanto técnicos quanto criativos, para atender essa demanda. Isso vai acabar por elevar o material criado, e diversificar o tipo de história que se conta. Eu estou muito animado com o que vem por aí no Brasil, e quero muito me envolver na criação e produção de TV por aí também”.
A respeito de Singular, uma última questão: sem amarras financeiras, apenas criativamente; deu tudo certo, a série vai mesmo sair, quem ele escolheria para os papéis principais? “Eu escalaria a Natalie Portman para ser a Jane. Ela é linda, extremamente talentosa e tem aquela mistura de fragilidade e bad ass que a personagem precisa”. Para o antagonista da série, integrante da Singular Technologies ainda mantido em segredo, ele apostaria em John Noble (o Walter Bishop de Fringe e/ou o Rei Denethor, de O Senhor dos Anéis, como queira). E para o conselheiro Ben, que tal Michael Emerson, de Lost? “Se ele topasse fazer mais um Ben, seria demais”, brinca.
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