In Nomine FINALMENTE vai ganhar versão em português | JUDAO.com.br

Anjos e demônios invadem o mundo real, na melhor tradição John Constantine, em um sistema de RPG que foi sensação na década de 90

A-Arca JUDÔNICA tem como INTUITO resgatar algumas das melhores publicações dos 15 de existência do Judão... e d’A-Arca. Republicaremos por aqui algum artigo, entrevista, podcast ou qualquer coisa que tenhamos feito na nossa vida que faça algum sentido nos dias de hoje. Gotta get back in time!

Eis que nesta última terça, dia 22, os jogadores de RPG veteranos foram surpreendidos com uma notícia inesperada: o RPG In Nomine vai, enfim, ganhar uma edição em português, a ser lançada em 2016 – exatos 27 anos depois de seu lançamento original. Um verdadeiro clássico da década de 1990, In Nomine joga anjos, demônios e demais deuses da mitologia no mundo real, numa ambientação que tem tudo pra fazer a cabeça de quem curte A Batalha do Apocalipse, do Eduardo Spohr.

O sistema, baseado numa obra da editora francesa Croc batizada de In Nomine Satanis/Magna Veritas, foi desenvolvido por Derek Pearcy para a Steve Jackson Games e ganhou o mercado americano em 1997. Esta, aliás, foi a edição licenciada para a editora brasileira Dimensão Nerd, iniciativa recém-lançada pelos idealizadores da RPGCon, evento que aconteceu em São Paulo entre os anos de 2009 e 2011.

A primeira edição brasileira terá as edições limitadas em capa dura – nas duas versões, branca e preta – além de exemplares em capa dura com a arte da segunda edição da SJG. “Os trabalhos de tradução e revisão já estão avançados e a editoração e diagramação se iniciam em janeiro de 2016. O lançamento está previsto para final de março de 2016”, afirma o comunicado oficial. “Além do lançamento do livro de regras básicas, publicaremos aventuras iniciais em PDF e impressas, que serão utilizadas numa campanha oficial e canônica de jogo organizada para o cenário brasileiro”.

A promessa é que as campanhas By Heaven e By Hell sejam conduzidas nas lojas cadastradas – e os suplementos básicos, que também já estão licenciados (os Guias dos Jogadores para Anjos, Demônios, Etéreos e Corpóreos), devem ser lançados no decorrer de 2016 e início de 2017.

Para relembrar um pouco de In Nomine, fomos buscar uma matéria a respeito do jogo que rolou n’A ARCA. Recomendado ler ao som de Mr.Crowley, do Ozzy. Apenas uma sugestão, claro. ;)

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A eterna batalha entre o Céu e o Inferno. Enquanto os seres humanos vivem suas vidas como se nada estivesse acontecendo ao seu redor, uma misteriosa guerra é travada entre anjos e demônios, tendo como prêmio a alma dos seres humanos. Seria esta a sinopse do último lançamento da série Storyteller, da White Wolf? Não, meu caro. Ou você achou que só Mark Rein-Hagen e sua tchurma abordavam o mundo do sobrenatural em suas ambientações de RPG? Na verdade, este é o mote de In Nomine, jogo lançado na metade da década de 90 pela Steve Jackson Games – sim, sim, a mesma do amado e odiado GURPS. Diga-se de passagem, aliás, que In Nomine é um sistema independente e nada tem a ver com o sistema de regras universal e genérico mais famoso do planeta RPG.

Na época de seu lançamento, In Nomine foi muito bem falado pela mídia especializada porque ele seria “um sistema de RPG que vai fundo nos pecados e temores da alma humana, de uma forma mais assustadora do que os jogos da White Wolf jamais haviam conseguido”. Exagero? A verdade é que In Nomine é um jogo baseado (leia-se uma versão – porque esta história de plágio dá um enorme pano pra manga) de um cultuado jogo francês chamado In Nomine Satanis/Magna Veritas, de uma tal editora Croc. A SJGames, no entanto, garante que o In Nomine que eles criaram é meramente baseado no da Croc e que, de forma alguma, seria apenas uma tradução. Eles teriam se valido de um conceito básico para criar um mundo totalmente diferente do que os franceses criaram. Você acredita?

Bom, In Nomine narra a já milenar disputa entre anjos e demônios, tendo um planetóide azulado chamado Terra no meio. É bom que se diga uma coisa: neste jogo, nem sempre os anjos são estritamente bonzinhos, com suas asas de pena e cabelos loiros. Você pode muito bem ver um anjo de jaqueta de couro e cabelo raspado distribuindo porrada em tudo quanto é demônio por aí – ou até mesmo em outros anjos... Da mesma forma, nem todos os demônios são de todo maus e cruéis. Tudo depende de seu objetivo de vida. O que temos aqui é um complicado jogo de intriga entre o Céu e o Inferno, e vale de tudo para atingir seus objetivos: mentir, roubar, chantagear... Muitos anjos, inclusive, têm uma porrada de inimigos no Céu e até mesmo alguns aliados no Inferno, pro caso de alguma coisa dar errado. Alguém aí consegue ver alguma semelhança com um senhor chamado John Constantine?

E pelo que eles, anjos e demônios, lutam, afinal de contas? Pelo controle da Terra e de todo o tecido da realidade. O papo é assim: Deus criou uma obra-prima chamada A Sinfonia, que controla toda a realidade e o destino de todos os seres dentro dela. A tal Sinfonia é um plano celestial, que Deus quer porque quer que saia nos conformes. Os seres humanos (filhos de Deus, à sua imagem e semelhança) são os músicos e apenas e tão somente suas decisões e escolhas podem mudar os rumos da Sinfonia. Os anjos são os instrumentos responsáveis por garantir o bom andamento das coisas, impedindo distúrbios externos na Sinfonia. São os guardiões do continuum (quem lê quadrinhos da Marvel deve estar familiarizado com o conceito).

Já os demônios são anjos caídos que se cansaram de apenas preservar a Sinfonia, sem poder dar opiniões e influenciar sobre seu andamento. Cada demônio tenta, então, reescrever a Sinfonia à sua própria imagem. Claro que nada é tão simples assim, né? Os demônios se reúnem em diferentes bandos (bands), que são controlados por um Príncipe do Inferno (Prince of Hell). Este Príncipe, por sua vez, controla uma porrada de demônios menores, seus seguidores, para que as coisas saiam como ele quer. São quase como os clãs de “Vampire”: cada um com suas características particulares. Da mesma forma, do lado dos anjos, existem os coros (choirs), grupos de anjos comandados por um Arcanjo (Archangel), que usa seus menores e seguidores para os seus propósitos. E existem dezenas de tipos de coros, assim como os bandos. Anjos e demônios são chamados de Celestiais (Celestials) e trabalham nas sombras da humanidade, interferindo ou tentando impedir interferência direta.

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O mais legal disso tudo é o fenômeno chamado de Distúrbio (Disturbance). Todas as vezes que um Celestial fere fisicamente um ser humano e/ou um objeto terrestre, usando ou não uma Canção (Song – que é como são chamados os poderes e as magias de anjos e demônios) para isso, ocorre uma quebra na Sinfonia, que ecoa bem alto e bem fundo, e que pode ser sentida por um bom tempo. Se você está disposto a jogar com um personagem mais fraco, mais humano, você pode tentar jogar com um morto-vivo (undead), ou com um servo humano (human servant), ou até mesmo com um soldado (soldier). Estes últimos são agentes do Céu e/ou do Inferno na Terra que, dependendo do superior ao qual estiverem servindo, podem possuir certos poderes especiais. Da mesma forma que anjos e demônios, o uso indevido das Canções pode causar o Distúrbio pelas mãos humanas também!

A criação de personagens lembra muito a da White Wolf, com pontos e mais pontos a serem distribuídos. E tem vários termos nos quais você precisa ficar ligado, senão pode acabar se perdendo. O primeiro deles são as Forças (Forces). Inicialmente, você terá nove pontos de Forças para gastar em três categorias: corporeal dealing, que é sua relação com o mundo humano; ethereal dealing, que é sua relação com a mente e com os sonhos; e celestial dealing, que é sua relação com o seu próprio eu e com os reinos celestiais. Pra cada ponto de força, você vai ter quatro pontos para dividir entre duas estatísticas em cada categoria. São quase como os Atributos Básicos, tão conhecidos da White Wolf e até mesmo do GURPS. Você precisa ficar atento ao fato de que, nesta distribuição inicial, você está construindo a personalidade de seu personagem, e isto vai influenciar e muito o seu roleplaying quando a aventura começar.

Depois disso, é a vez de decidir a que coro ou bando você pertence e que Arcanjo ou Príncipe do Inferno você segue. Esta é outra escolha muitíssimo importante, porque vai definir mais ou menos seu comportamento e os limites dele, e ainda certos poderes aos quais você pode ter acesso, assim como certas habilidades e rituais. Dentro de um coro ou bando, você ganha habilidades chamadas de Ressonância (Ressonance): todavia, se você sair das regras que o seu coro ou bando impõe, você cria um fenômeno chamado Dissonância (Dissonance), que não é nada bom para a sua saúde. É bom também escolher a dedo o líder do grupo que você quer seguir. Dependendo do Arcanjo ou Príncipe do Inferno que você siga, você terá acesso a outras habilidades particulares ensinadas por eles, chamadas de Attunements. Depois, você ainda vai ter de distribuir vários de pontos em skills (perícias), artefatos, canções e roles (que são backgrounds que você pode ter no mundo terrestre). Atributos variam de 1 a 10, sendo que apenas alguns Celestiais podem atingir um nível de 2.

Seguindo uma tendência mundial em jogos de RPG, as regras do In Nomine são super simples. Você só vai precisar de três D6 (dados de seis lados), sendo que um deles deve ser de uma cor diferente. Você rola os dois dados de cores iguais e vai sempre ter de tirar um número igual ou menor que sua combinação de atributo + perícia, que variam dependendo da situação. Não esquecendo de que, se o personagem possuir um atributo em 12 ou até mesmo superior, nem precisa rolar os dados porque o sucesso é automático. Se você tiver sucesso rolando os dois dados, então você pode rolar o último dado, aquele de cor diferente, pra determinar o efeito do que ocorreu, ou mesmo sua duração, de acordo com o mestre.

Legal é quando, ao terminar um roll, você tem a combinação 111. Isto significa uma intervenção divina e para você, que é um anjo, isto é ótimo! Já se você for um demônio, a combinação que te favorece é o 666 (por razões óbvias). O que aconteceu com o seu personagem num caso destes? Rá, isto só o mestre pode decidir!

Atualmente, In Nomine continua sendo impresso pela Steve Jackson Games, embora não haja previsão de novos lançamentos por enquanto. No website oficial do jogo, no entanto, dá para baixar suplementos criados especialmente para a internet – como o Liber Umbrarum, livro que expande as regras para jogar com fantasmas e espíritos dentro desta ambientação.