James Horner: um dos responsáveis pela trilha sonora da sua vida | JUDAO.com.br

Compositor morreu nesta segunda (22), quando o avião que ele mesmo pilotava sofreu um acidente na Califórnia

Tudo bem, sabemos que é inevitável que se pense da trajetória do compositor James Horner sem começar por seu premiadíssimo trabalho na trilha sonora de Titanic — a mais vendida da história do cinema, com mais de 30 milhões de unidades em todo o mundo. Foram dois Oscars e uma música que se começar a tocar agora, você acompanha até o fim.

Aliás, ela já tá tocando na sua cabeça.

Sim, além da trilha instrumental, Horner também é compositor de My Heart Will Go On, interpretado por Celine Dion. Não tinha como ser diferente que isso se tornasse sinônimo de seu trabalho. Mas é pouco. Muito pouco para os 30 anos de carreira e mais de 100 filmes nos quais trabalhou este prodígio que nos deixou nesta segunda-feira (22), vítima de um trágico acidente de avião.

A aeronave de dois assentos do modelo S312 Tucano caiu ao norte do condado de Santa Barbara, na Califórnia, por volta das 9h30 da manhã, gerando um incêndio que foi prontamente apagado pelos bombeiros locais. Horner, um piloto treinado, estava sozinho no pequeno avião – mas ainda não se sabe quais foram as causas que levaram à queda.

“Perdemos uma pessoa maravilhosa com um coração imenso e um talento inacreditável”, escreveu, no Facebook, sua assistente Sylvia Patrycja, ao confirmar a morte de Horner. “Ele morreu fazendo o que amava”.

Parte da tropa de elite dos compositores de Hollywood, ao lado de nomes como Alexandre Desplat, Hans Zimmer, John Williams e Ennio Morricone, Horner nasceu em 1953 na cidade de Los Angeles, em meio ao cinema, filho do designer de produção Harry Horner. A maior parte de sua formação se deu em Londres, onde cursou a prestigiada Royal College of Music, mas quando retornou aos EUA e acabou na USC e depois na UCLA, rapidamente fez os contatos para embarcar na mesma indústria na qual seu pai passou grande parte da vida.

Embora tenha iniciado os trabalhos com curtas do AFI (American Film Institute) e filmes de baixo orçamento do rei do trash Roger Corman, no começo da década de 1980 teve suas primeiras chances e Hollywood e não fez feio. Eis um de seus primeiros trabalhos, que já foi memorável para nerds de todas as formas e tamanhos: Star Trek II – A Ira de Khan. É pouco pra você? :)

Quem cresceu e se criou vendo filmes nos anos 80, aliás, deve ter sido embalado por dezenas de trabalhos com trilhas compostas por ele: 48 Horas, Cocoon, Willow, Campo dos Sonhos, O Nome da Rosa, Fievel, Querida, Encolhi as Crianças, Em Busca do Vale Encantado... Ele fazia de tudo.

Também foi nesta época que iniciou uma parceria duradoura com o diretor James Cameron, em Aliens, que se repetiria em Titanic, Avatar e estava planejada para continuar ao longo das outras quatro sequências programadas para a saga dos alienígenas azulados.

Oito vezes indicado ao Oscar, além das nominações recebidas por Titanic, ele ainda foi responsável por duas trilhas lindíssimas, que merecem todo o destaque: Apollo 13 (inspiração clara para o trabalho de Hans Zimmer em Interestelar) e, a minha favorita de toda a sua filmografia, Coração Valente, uma parceria acertadíssima com a orquestra sinfônica de Londres. “A trilha é apropriadamente agitada, cheio de músicas grandiosas e arrebatadoras escritas especialmente para o filme. Ela captura perfeitamente o patriotismo e a aventura”, escreveu à época o All Music Guide.

Impossível não se emocionar e rever mentalmente a cena da morte de William Wallace ao ouvir esta música...

Sempre em movimento, existem pelo menos mais três filmes com trilhas de Horner a serem lançados: Southpaw, drama de boxe com Jake Gyllenhaal e Rachel McAdams no elenco; o drama histórico Wolf Totem, de Jean-Jacques Annaud; e The 33, filme sobre a história dos mineiros chilenos que ficaram presos em uma mina durante 69 dias, com Antonio Banderas e Rodrigo Santoro no elenco.

Certa vez, o brilhante cineasta Billy Wilder afirmou que, nos filmes, você faz as sutilezas serem óbvias. E isso é parte do que um grande compositor faz: criar música para ser percebida em conjunto com imagens, mas fazendo sutileza e força caminharem juntas. Quando a música é óbvia demais e chama muita atenção, mais do que o filme, o compositor não está fazendo o seu trabalho direito.

Horner seguia bem esta cartilha.

“Meu trabalho é garantir que as pessoas sintam com seus corações a cada virada do filme”, afirmou Horner, em entrevista ao Los Angeles Times publicada em 2009. “Quando perdemos um personagem, quando alguém vence, quando alguém perde, quando alguém desaparece – todas estas vezes estou registrando o que o coração deveria sentir. Este é meu principal trabalho”.

E isso, Horner, você fazia muito bem, cara. Pode ter certeza. Fique em paz, enquanto a gente revisita aqui as trilhas que você fez para as nossas vidas.