E, pelo jeito, ele livrou o pobre vendedor de uma bela roubada…
Pactos de sangue, a venda da alma... É aquela coisa: a pessoa vende seu pós-vida por uma graça durante a existência que tem nesse mundinho terreno. Pode ser um carro, uma garota, uma mansão, muito dinheiro, não importa: depois o demo vai te trapacear de alguma forma e, quando você morrer, BOOM. Uma eternidade de sofrimento. Pois é.
Por isso, não sei se fico feliz ou triste.
É que surgiu aí um cara vendendo a próprio espectro no Classificadolândia. “Quero dizer que acho totalmente desnecessário ter uma alma”, dizia o pobre coitado. “Se você for religioso ou algo do tipo, talvez a alma possa ter alguma coisa de bom. Mas como eu sou ateu e acredito em vida pós-morte tanto quanto no Papai Noel, prefiro ganhar um troco do que esperar o trenó mágico me levar pro céu”. Só que aí veio finalmente a compra. Quem é o feliz novo proprietário? Sim, ele mesmo: John Constantine, o detetive do oculto, o mago mais trapaceiro já visto na ficção. Sim, ficção, afinal foi tudo revelado como uma ação de divulgação do canal Space para a recém-lançada série Constantine.
AINDA BEM que ele não vendeu a alma de verdade, que era só uma brincadeira. Não que eu também tenha crença no inferno ou algo assim, mas depois de ver tantos filmes, ler Hellblazer (justamente o gibi clássico do Constantine) e, claro, a nova série de TV do personagem, resolvi que é melhor não arriscar. Sabe aquela coisa de “no creo brujas. Pero que las hay, las hay”? Então. :D
Mas eu acredito no mundo da ficção, que cada pedaço do que pensamos e colocamos no papel, TV e cinema daqui existem em alguma fração do multiverso. Nem que sejam como faíscas elétricas de um pensamento. E, cara, digamos que já temos um histórico pra relatar a esse coitado que vendeu a alma pro Constantine.
Vamos dizer que John está muito longe de ser um herói. Muito. Porém, ele tem essa veia humanista, essa coisa de tentar fazer algo de bom na vida – além de ganhar vantagem, claro. Por isso, toda essa história de venda de alma me lembra dum antigo arco de Hellblazer publicado em 1991, escrito por Garth Ennis e chamado “Dangerous Habits”.
Nessa história, Constantine é diagnosticado com câncer terminal no pulmão e resolve procurar o amigo Brendan Finn pra uma ajuda – porém, ele descobre que o próprio amigo está morrendo. Num típico momento do personagem, ambos vão lá e celebram as próprias mortes com uma boa bebida. Brendan, então, morre. Mas esse não é o final da história.
Constantine encontra o diabo, conhecido como o Primeiro dos Caídos. Ele veio pegar a alma do cara, já que havia sido vendida. SIM, assim como nosso “amigo” brasileiro, o coitado ali trocou a própria alma em troca de uma coleção maior de bebidas. Nesse acordo estava escrito que o demônio precisava levar a alma de Brendan para o inferno até a meia-noite do dia em que ele morresse, caso contrário o contrato perderia validade.
O nosso protagonista então chama o capeta pra tomar uma bebida, isso faltando cinco minutos pra meia-noite. O inocente do diabo aceita – e digo inocente porque aquele é John Constantine, e ele sempre tem uma saída. Quando o demônio percebe, já é tarde: aquilo não era uma goró comum, era água benta transformada em álcool. Envenenado, o Primeiro perde o horário – fazendo com que Brendan fosse para o céu – e condena Constantine. O inferno seria o destino dele assim que aquele câncer fizesse o trabalho sujo.
FODEU, né? Que nada, amigo: aquele é John Constantine. Se ele está doente e tem um lorde do inferno o esperando, o que fazer? Vender a alma pros outros DOIS lordes do inferno! Quando ele está prestes a morrer, o Primeiro dos Caídos aparece e se espanta ao encontrar outros dois ~coleguinhas lá. Cada uma tem direitos sobre aquela alma e eles não podem deixá-la assim, de boa pro outro. Não dá também pra resolver o problema no palitinho: só uma GUERRA entre eles, com a alma de Constantine como prêmio final, poderia resolver esse problema sem minar o poder no inferno.
A solução? Simples: resolvem curar o câncer de John. Sem nenhum morto não há uma alma para disputar. Com um sorrido no rosto, Constantine levanta, mostra aquele famoso dedo do meio e vai embora.
Enganar satã é pouco. Precisa logo ser uns três pra ser gostoso.
Vai ver que foi por isso que John Constantine ajudou o nosso amigo do Classificadolândia. Afinal, ele já sabe como é essa treta toda – e os outros interessados em levar o produto pra casa não deviam ser coisa boa. Agora, engana-se o vendedor ao achar que vai receber alguma coisa. Pffff. Pior: vai ficar é devendo um favor...
Enquanto isso, no mundo real, vamos ver se o Constantine da TV se envolve com outras compras de alma nas sextas, sempre às 22h30, no Space. E se você perdeu o que rolou até agora, ainda vai ter uma maratona dos cinco episódios da série neste sábado, 29 de novembro, lá no canal – começando 11h20 da manhã. :D