A jornada musical do homem das estrelas | JUDAO.com.br

O astronauta canadense Chris Hadfield, aquele do clipe da música do David Bowie, se prepara para lançar seu primeiro disco gravado, em partes, quando ele estava na Estação Espacial Internacional (e não estava tuitando com a gente). :D

“There’s a starman waiting in the sky”, dizia o começo do refrão de Starman, clássico de David Bowie que, por aqui, a gente viu ficar popular na versão Astronauta de Mármore do Nenhum de Nós. O coronel Chris Hadfield, astronauta saído do Canadá, foi um homem das estrelas mas, em nenhum momento, ficou apenas “esperando no céu”.

Em seu período na Estação Espacial Internacional, entre 2012 e 2013, além de trocar mensagens via Twitter com um certo Capitão Kirk, Hadfield separou um tempo das obrigações científicas para se dedicar a uma de suas paixões: a música.

Quando jovem, Hadfield, fã confesso do conterrâneo Leonard Cohen, já tinha se envolvido com algumas bandas – mas acabou não levando nada muito a sério nesta pegada. Mas naquela ocasião, flutuando em gravidade zero, ele encantou o mundo com uma versão violão e voz de Space Oddity, de ninguém menos do que Bowie himself.

Além disso, ele realizou um streaming entre a Estação Especial e um estúdio no Canadá e, com a participação do coral Wexford Gleeks, de uma escola em Toronto, e em parceria com Ed Robertson (vocalista do Barenaked Ladies, a mesma banda que canta a música de abertura de The Big Bang Theory) gravou ISS: Is Somebody Singing, a primeira canção composta e gravada no espaço. Ainda sobraria tempo até para gravar a música natalina Jewel In The Night.

Você pode achar que a coisa toda acabou aí, né? Mas não. Em outubro, Hadfield lança seu primeiro álbum, Space Sessions: Songs from a Tin Can, com faixas compostas em parceria com seu irmão Dave e seu filho Evan.

Só que detalhe: as partes de Chris, vocal e violão, foram todas gravadas enquanto ele estava lá, no espaço. “O primeiro disco produzido fora do planeta Terra”, diz o material de divulgação. A produção, obviamente, foi completada e levou aquele belo tapa assim que ele desembarcou de volta, com a ajuda de parceiros como Robbie Lackritz, produtor dos discos de artistas como Feist e Bahamas.

O primeiro single, no entanto, já pode ser ouvido. Trata-se de Feet Up, uma deliciosa baladinha folk inspirada – é claro – no tempo em que ele passava flutuando pra lá e pra cá.

“Ficar sem peso é glorioso e libertador, uma brincadeira divertida que nunca te deixa pra baixo, uma perplexidade de delícias inesperadas”, contou Hadfield, filosofando, ao site da tradicional revista canadense Macleans. “Sem saber direito o que é a parte de cima ou a parte de baixo, aquele é um lugar no qual você não podia colocar literalmente os pés para cima. E a diversão que vem com isso faz você sorrir, todos os dias”.

Ao jornal The Globe and Mail, ele conta que parte das canções veio debaixo do braço com ele diretamente da Terra, enquanto outra leva surgiu inteiramente no contato com o cosmos. “Era uma atmosfera bastante inspiradora”, diz. Enquanto Window of My Mind foi escrita no momento em que ele ultrapassou, vendo lá de cima, toda a extensão de sua terra-natal em apenas alguns minutos, Space Lullaby registra a sua tentativa de manter contato com os três filhos para apaziguar as saudades. E adivinha qual é a faixa-bônus do disco? ;)

O processo de gravação, óbvio, não foi dos mais fáceis. Inicialmente, o astronauta tentou fazer tudo grudando seu tablet em uma das paredes, com velcro, usando o microfone para tentar capturar o som. Mas logo percebeu que o resultado não ficava lá muito bom. Talvez funcionasse melhor num lugar fechado. Então, Chris partiu para a pequena cápsula na qual costumava dormir – conectando um microfone no iPad e deixando o equipamento flutuando na sua frente. O astronauta-músico ficou bastante satisfeito por levar o violão acústico Larrivee Parlor, totalmente feito no Canadá, justamente por ser um instrumento compacto e pequenino, ideal para ser tocado num espaço tão apertado.

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Tocar o violão, no entanto, foram outros quinhentos. “É difícil tocar violão numa nave espacial, porque não tem nada que te permita manter o instrumento estável”, explica. “Quase sempre, o violão escapa das suas mãos”. Ele revela que um dos produtores que o ajudou, Paul Mills, disse ‘cara, o seu jeito de tocar está meio bagunçado’. Chris riu. “Claro, experimenta vir você aqui e tocar violão”, respondeu.

Seu jeito de cantar também ficou um tantinho diferente, já que os chamados seios paranasais da nossa face não drenam os fluidos mecanicamente como acontece na Terra. “Não tem gravidade para tirar os fluidos da nossa cabeça. Então, você sempre tem uma cabeça cheia de muco”, explica, revelando que isso muda a acústica natural da nossa voz, diminuindo a ressonância (e pode ocasionar uma bela de uma sinusite, aliás).

Ah, sim: alguém avisa o Bowie que seria lindo ele sair da sua caverna e fazer um dueto com o astronauta metido a músico (ou seria músico metido a astronauta?) numa canção inédita ou, quem sabe, na própria Starman que eu menciono no começo do texto? Afinal, cantados por Hadfield, os versos “Then the loud sound did seem to fade / Came back like a slow voice on a wave of phase / That weren’t no DJ / That was hazy cosmic jive” fariam muito mais sentido. ;)

Ou quem sabe o Thedy Corrêa... :D