Kong: A Ilha da Caveira é pipoca pura, pipoca raiz, pipoca da boa | JUDAO.com.br

Você tava querendo um filme divertido com uma porra dum macaco gigante socando meio mundo? Bom, então é isso que você vai ter. Precisa de mais alguma coisa…? ;)

Eu sou um autodeclarado tarado por filmes com bichos gigantes. Talvez seja herança da minha adolescência vendo os Changeman da vida na Rede Manchete, mas o ponto é que adoro ver uns monstrengos detonando metade da cidade com seus movimentos desajeitados.

O tal Godzilla de 2014 é um bom filme. Gosto bastante. Mas acho que ele sofre de um pecado mortal: ainda tem pouco Godzilla. Porque, vejam vocês, se estou pagando ingresso pra ver um filme chamado “Godzilla”, suponha você que eu gostaria de um pouco mais do que apenas uns 10, 15 minutos do Rei Lagarto botando pra quebrar em sua gloriosa forma.

Eu juro que entendo a tática meio Tubarão da coisa, tentando criar uma espécie de tensão, guardando a surpresa para o final. Mas a merda é que, pra preencher as lacunas entre os momentos em que o lagartão aparece de relance, somos brindados com uma trama MODORRENTA com uns humanos chatos pra diabo, cuja historinha não interessava a ninguém. A cada cinco minutos, eu ficava pensando “gente, socorro, este soldado é um mala, cadê o Godzilla?”.

Neste sentido, Kong: A Ilha da Caveira, o filme que se conecta com o Godzilla para começar a construir um universo compartilhado no qual os dois bichões vão se enfrentar, é radicalmente diferente.

AINDA BEM.

O filme não é NADA econômico ao mostrar o protagonista monstruoso, que já dá as caras assim que a expedição de cientistas e militares desembarca na misteriosa ilha no meio do Pacífico, mantida escondida dos olhos do mundo graças a uma muralha de tempestades perpétuas. E ele chega mostrando quem é que manda: nada de suspense, nada de mistério, nada de apenas os olhos ou o nariz. É o macaco gigante, forte e malvado, que recepciona os recém-chegados com uma boa dose de “putaquepariu, fodeu a porra toda”.

Este King Kong, por falar nisso, é muito mais cruel do que as versões anteriores. Não espere um animal inicialmente assustador, mas que em algum momento se mostra doce e indefeso. Porra nenhuma: o gorilão dá medo de verdade. Muito maior do que aquele que vimos em 1933, 1976 ou 2005, ele anda muito mais ereto, de peito estufado e expressão orgulhosa, do que agachado, apoiado nas patas dianteiras.

Ele é visivelmente um guerreiro, cheio de cicatrizes, que bota ordem da casa, numa versão de elevada à décima potência da luta do Kong com os dinossauros naquele filme do Peter Jackson. É muito, mas MUITO mais porradeiro. Sabe aquele olhar assustador do César, dos novos filmes do Planeta dos Macacos, quando tá puto da vida? Bem por aí. Agora imagina isso do tamanho de um prédio e sem muita pena de pisar pra esmagar os humanos estranhos que vieram botar banca nos seus domínios. Foda demais.

Tá bom, claro, em certo momento, a gente descobre que ele não é um demônio e que tem, isso sim, um puta papel importante para o ecossistema da ilha – o que o faz ser cultuado como um deus pela silenciosa tribo que habita aquelas florestas repletas de perigos. E digamos também que ele cria, longe da obviedade, uma relação com a fotojornalista antiguerra vivida pela Brie Larson (uma das melhores coisas do filme, aliás). Mas em nenhum momento isso tira dele o seu aspecto ameaçador, cortesia de um trabalho primoroso de efeitos especiais.

Além de termos mais tempo de Kong em tela, também é preciso destacar que os coadjuvantes ao seu redor têm muito mais graça. Estamos em 1973, pós-Guerra do Vietnã. Em meio a uma fotografia lindíssima, saturada, de cores fortes e fazendo uso inteligente da luz do sol como em todo bom filme de guerra, somos apresentados aos primeiros integrantes da Monarch – lembra deles? A organização científica secreta que apareceu no filme do Godzilla, oficialmente fundada em 1954 e que descobriu não apenas o lagarto gigante, mas também mantinha um espécime do M.U.T.O., aquele parasita tamanho família de muitas pernas, em uma de suas bases de pesquisa no Japão? Isso aí, o MonsterVerse acaba de ganhar oficialmente a sua SHIELD.

São eles que descobrem a Ilha e, dentro dela, a resposta para a sua teoria quase lovecraftiana das criaturas ancestrais que se escondem bem debaixo dos nossos olhos. E eles vão para lá acompanhados de um bando de soldados de um batalhão de helicópteros de guerra que não estão muito felizes com a nova missão, já que a bendita apareceu justamente quando a batalha em solo vietnamita acabou e eles estariam, em tese, liberados pra voltar pra casa. Junte a isso uma trilha sonora de responsa, com clássicos de David Bowie, Black Sabbath, Creedence Clearwater Revival, Jefferson Airplane e demais velharias setentistas, além de um personagem igualmente carismático e engraçado que o John C.Reilly entrega pra roubar a cena, e o palco tá montado.

Duas ressalvas, talvez? Tom Hiddleston é lindo, tá bom, mas digamos que ele convence bem pouco como o ex-militar inglês renegado que é contratado como uma espécie de rastreador para ajudar o grupo. Eles tão no meio de uma floresta repleta de insetos gigantes e com um macaco imenso de dentes afiados vigiando tudo ao redor mas ele continua lá, cabelo sem desarrumar, camisetinha colada tipo James Dean, cheio de atitude e um olhar misterioso. Não cola. Assim como cola muito pouco o Samuel L.Jackson, que a gente adora, que é um puta cara legal, só que fazendo MAIS UMA VEZ aquele mesmo personagem badass de sempre. Deram o roteiro pra ele e, pimba, deve ter saído meio no piloto automático. Sam, vamos procurar uns desafios diferentes na carreira, faz favor?

Kong: A Ilha da Caveira não é nada genial, incrível, revolucionário. Longe disso. Talvez até você esqueça dele depois da pizza que inevitavelmente rola ao final da sessão. Mas talvez este também seja o blockbuster divertidão e sem compromissos que a Warner tanto andava precisando nos últimos tempos. Pipoca pura, pipoca raiz, pipoca da boa.

AH! Tem até cena pós-créditos, vejam vocês. O clima da dita cuja você meio que já imagina qual é. Mas que é legal já começar a ligar os pontos e imaginar como vai ser quando, em 2020, o duelo entre o macacão e o lagartão chegar às telonas, isso é. Por mim, podiam lançar este filme tipo HOJE.