Primeira temporada da série acabou perdendo nas próprias escorregadas
SPOILER! Legends of Tomorrow parecia ser o projeto mais audacioso da DC na TV, quando foi anunciada. Pela primeira vez uma série surgiria como um grande evento, da união de um time de heróis (e dois vilões) previamente estabelecido em Arrow e The Flash, agora com uma grande missão em comum. Quase que como um grande crossover de verão dos gibis.
Passados os cinco meses (e 16 episódios) desta primeira temporada, finalizada na última quinta (19), bom... Não foi tudo isso não.
Ter enredo com viagens no tempo não é algo fácil. É preciso ter regras e seguí-las rigidamente, pois há o risco de criar um monstro incontrolável. Afinal, se alguém morrer, o que te impede de voltar no tempo e tentar novamente, por exemplo? Também há a questão de como uma viagem temporal irá repercutir nos pontos seguintes (e anteriores) da história.
Em Legends, o guardião dessas regras é Rip Hunter, o ex-Mestre do Tempo que arrisca tudo para salvar a família (e, no processo, o mundo) do vilão imortal Vandal Savage. É ele quem reúne Canário Branco, Elektron, Nuclear, Capitão Frio, Onda Térmica, Mulher-Gavião e Gavião Negro nessa missão quase suicida. Só que o personagem se mostrou, em praticamente todos esses episódios, absolutamente perdido na própria missão.
Guiado por um fim mesquinho, mentindo diversas vezes para os companheiros, choramingando pelos cantos e tomando atitudes impensadas, Rip manipula as regras do jogo, deixando-as fracas. “Por que ele não tenta fazer isso novamente?”, alguém poderia perguntar em vários momentos da série. “Ah, ele tá choramingando falando que não dá, ‘porque o destino quer assim’”, é a justificativa quase que padrão.
Não dá pra culpar o ator Arthur Darvill, o Rory de Doctor Who, por isso. Ele faz bem a parte dele. Porém, dá pra culpar os roteiristas, que se estenderam em choramingos e repetiram apenas para justificar as idas e vindas de 16 episódios – que poderiam ser resumidos em 13, ou até em 10.
Também não houve o chamado “team work”, outra banana na qual Legends escorregou. Veja: o Flash e o Arqueiro Verde contam com seus próprios times nas respectivas séries, mas eles ainda são as estrelas e têm o maior tempo de tela. Nesta aqui, estamos falando de uma história na qual o trabalho em equipe tem que ser a principal força, com destaque igual para todos. Porém, na maior parte do tempo, as Lendas do Amanhã eram divididas em grupos menores, arrumavam inúmeras justificativas pra tirar o Nuclear da jogada (afinal, ele é poderoso demais pro contexto da história) e as grandes lutas basicamente se resumiram a atacar todo mundo em conjunto em poucos minutos ou até segundos. Não rolou uma verdadeira interação em batalha, como uma boa luta em equipe deve ser.
O roteiro macro da série também ficou fraco. Vandal Savage, interpretado por Casper Crump, se mostrou um grande antagonista, mas ele aparece em apenas dez episódios – ou seja, menos de dois terços que não foram bem distribuídos, com um enorme buraco rolando no meio da temporada. Numa bola já cantada, descobrimos que ele estava junto dos Mestres do Tempo, os ex-chefes do Rip Hunter. Surpreendente foi descobrir a existência do Oculos, que os caras no Ponto de Fuga usavam pra manipular a história. Porém... como a Gideon, a inteligência artificial da nave do Rip, não falou nada sobre isso antes, mesmo sabendo que as informações temporais vinham de lá?
De modo geral, muito das descobertas dos personagens pareceram muito fáceis, muito “nossa, como nunca pensei nisso antes?”. Ok, é um artifício pra ser usado algumas vezes, mas quando rola sempre E com um personagem completando a fala do outro, é irritante.
Ainda assim, não dá pra pegar os pontos negativos e jogar toda a temporada de Legends no lixo. Fora dos combates, os roteiristas souberam desenvolver o relacionamento e a personalidade dos protagonistas, apesar de algumas escolhas questionáveis – como colocar Ray Palmer e Kendra vivendo por dois anos na década de 1950 pra, quando eles voltarem pro jogo, terem pouco evoluído nesse relacionamento entre eles.
Snart e Sara Lance foram os grandes “vencedores” da jogada. Personagens já interessantes antes de Legends of Tomorrow, tiveram mais tempo pra serem desenvolvidos, ficando nessa atraente área cinzenta do anti-herói e quase sempre com ótimas tiradas nas falas. Pena que, bom, o Capitão Frio morre...
(Ao menos já ta garantindo que, de alguma forma, o ator Wentworth Miller fará aparições na segunda temporada, assim como nas outras séries do Arrowverse).
A série pareceu ter se acertado mais na parte final da temporada, principalmente na luta contra os Mestres do Tempo no Ponto de Fuga. Sem se preocupar tanto em viagem no tempo e com uma cara de luta espacial, Legends empolgou bem mais.
Também foi muito interessante ver outros momentos do Universo DC no passado e futuro, principalmente Jonah Rex e o Oliver Queen sem braço, ao esquema O Cavaleiro das Trevas. Talvez até poderiam ter colocado mais desses elementos ao invés de alguns vilões genéricos feitos a partir das tecnologias do Nuclear e do Elektron. Adoraria ter visto, por exemplo, o Soviete Supremo nos episódios que rolam durante a Guerra Fria. Daria um sabor a mais pra um doce que tava sem açúcar.
Se Legends fosse um garoto no Ensino Médio, dá pra dizer que passou de ano na recuperação. O que não é totalmente ruim, já que foi o suficiente pra garantir uma segunda temporada. Vamos ver o que será deste segundo ano que, de acordo com o season finale, terá nada menos que as participações da Sociedade da Justiça da América e de Rex Tyler, o Homem-Hora.
Que Legends of Tomorrow seja, então, realmente LENDÁRIA como quer ser.