Lições que os marmanjos aprendem com a Turma da Mônica | JUDAO.com.br

Novo volume das Graphic MSP, novamente cortesia dos irmãos Cafaggi, talvez seja o trabalho mais doce, delicado e emocionante da série até o momento

Dá para dizer que Turma da Mônica: Lições é uma espécie de continuação direta de Laços, a outra Graphic MSP dos irmãos Victor e Lu Cafaggi. Não apenas em termos de qualidade (já, já falamos sobre isso), mas também em termos cronológicos – porque a história se passa depois que a turminha do Bairro do Limoeiro desapareceu na edição anterior, em busca do Floquinho, deixando todo mundo em polvorosa.

Na verdade, é justamente a consequência deste episódio + o apronto que Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão cometem juntos determinado dia na escola, logo nas primeiras páginas de Lições, que leva o quarteto a ter que encarar seus maiores desafios. O mais complicado de tudo? Eles vão encarar estes desafios sozinhos. Porque não vão poder contar um com o outro. Vão estar, pela primeira vez em suas curtas vidinhas, separados.

Que lições eles vão aprender? Como isso vai ajudá-los a crescer? E como esta separação vai mudar as suas amizades?

Aliás, digo mais: enxergo este Lições como um link direto entre as crianças fofinhas de Laços e os adolescentes que vamos (?) acompanhar em Turma da Mônica Jovem. Bom, pelo menos EU acompanho, ainda que não com tanta regularidade assim, porque leio meio que junto com a minha filha de 11 anos. E mais do que as similaridades e referências para a versão adolescente, vejo a força das diferenças, das liberdades, do fim das amarras com aqueles clichês aos quais nos habituamos quando nós, ainda pequenos, líamos os gibis da turminha.

A arte de Lições, nem precisava dizer (mas vou dizer e pronto), é um deslumbre. Tudo consegue ser ao mesmo tempo delicado, fluido, sutil...e tão intenso, tão forte, tão direto. Mas aqui o segredo está na condução brilhante da narrativa. É. Eu usei mesmo este adjetivo, “brilhante”. Porque, pelo menos para mim, esta é uma das edições mais sensacionais das Graphic MSPs, deixando até mesmo os Astronautas do Beyruth comendo poeira. Talvez aquela que, até o momento, ocupa o topo da escala pra mim.

Inteligentemente, os Cafaggi nos fazem acompanhar o “castigo” de cada um dos quatro de maneira bastante equilibrada – não, o foco não fica na Mônica, o que é fantástico. Ela é a garota que mudou de escola e, claro, está sofrendo demais com isso. Mas o que dizer do Cebolinha, que agora encara a fúria de um valentão que, enfim, se vê livre para agir sem a presença opressora daquela baixinha dentuça fortona? E a Magali, obrigada a frequentar um curso de boas maneiras para se tornar uma “princesa”? E o Cascão, que acaba matriculado pelo pai num curso vespertino para tentar tirar um pouco o foco dos coleguinhas – no caso, aulas de NATAÇÃO? :D

Arrisco dizer até que, por mais que as cenas da Mônica e do Cebolinha talvez sejam as mais emocionantes, as do Cascão e da Magali são aquelas que mais te envolvem, no fim das contas. Dá vontade de ver ainda mais.

Por sinal, tudo vai caminhando de maneira que é impossível não se envolver, não sorrir ao mesmo tempo em que você também sofre um tantinho com eles, com a falta que um sente do outro. Para os mais atentos, vão aparecendo alguns coadjuvantes clássicos no meio do caminho, alguns fáceis de reconhecer, outros nem tanto – somente os entendedores mais entendedores é que entenderão. Um deles dá pra entregar: eu, que simplesmente ADORO o Xaveco, pirei no jeito que ele foi retratado, brincando com a faceta mais exposta do personagem, que é a coisa da fama. Gargalhei sozinho.

O final, gente... o final é de arrepiar. Está longe de ser óbvio, para qualquer um dos quatro. “Ah, certeza que vai ficar tudo bem”. Então. Sim. E não. Exatamente como acontece na vida. Nem é tudo é tão binário, tão cartesiano, seja pra mim ou pra você, não é mesmo? É tudo mais cinza do que preto ou branco.

Li Turma da Mônica: Lições no dia do meu aniversário de 36 anos. Sozinho na sala, depois de uma tarde toda de reavaliação sobre o que faria (e farei) nos meus próximos anos, sobre quem sou e quem quero ser, sobre as coisas que tenho que deixar no caminho, que me fazem pesar, e sobre aquelas que quero de verdade carregar comigo. Mais cedo, tinha lido (e postado) uma frase que dizia assim: “a gente muda e pensa que está mais feliz. Daí vai ler algo do passado, de quando era criança, e descobre que mudou para ser o que já era, voltou para o seu coração”.

A obra dos Cafaggi fala rigorosamente sobre isso. Sobre o que a gente aprende ainda criança, neste difícil processo de se tornar adulto. Sobre as barreiras que a gente transpõe, ainda com medo, ainda assustado, ainda descobrindo a vida. Sobre crescer. E sobre tudo o que a gente esquece quando se torna adulto.

Li Turma da Mônica: Lições no dia do meu aniversário de 36 anos. Sozinho na sala. E chorei. Mas um choro bom. Que veio acompanhado de um sorriso. De alguém que, naquele breve instante, lembrou da própria infância. E de uma força que sempre teve, aquela que caminhava juntinha da inocência...e que acabou se perdendo com o tempo.

Talvez seja hora de reencontrá-la. Muito obrigado, irmãos Cafaggi. Por mostrarem o caminho de Mônica, Cebolinha, Magali, Cascão... e do pequeno Thiago, também.