Liga da Justiça: Estrada da Fúria | JUDAO.com.br

Documentário planeja contar bastidores e detalhes daquele filme dos maiores heróis da DC que era para ter sido dirigido por George Miller

É inevitável que quem está acompanhando o desenvolvimento do universo da DC nos cinemas com filmes como Batman VS. Superman e Esquadrão Suicida compare o que vem pela frente com o que já rolou antes. O Ben Affleck, claro, sempre vai ser comparado com o Christian Bale (e talvez com o Michael Keaton, o Val Kilmer, o George Clooney...). Henry Cavill, obviamente, vai ser colocado o tempo todo lado a lado com Brandon Routh e Christopher Reeve. Ou só com o Reeve.

Só que, além de comparar com o que já rolou, a gente agora tem a oportunidade de comparar com o que PODIA ter rolado. Por exemplo: já dá pra comparar o Henry Cavill com ninguém menos do que a mitológico Nicolas Cage – que QUASE foi o Superman em um filme dirigido por Tim Burton. Todo o processo do “quase filme” está sendo registrado no documentário The Death of Superman Lives: What Happened?, a ser lançado ainda este ano.

Da mesma forma, o futuro filme da Liga da Justiça, com Affleck, Cavill e ainda Gal Gadot (Mulher-Maravilha), Jason Momoa (Aquaman), Ezra Miller (Flash) e Ray Fisher (Cyborg), está prestes a ganhar alguma base de comparação por conta do documentário sobre um outro “quase-filme”. No caso, uma superprodução aprovada em 2007 e que seria dirigida por um sujeito que, hoje, está em altíssima conta dentro da própria Warner: George Miller, do sensacional Mad Max: Estrada da Fúria.

O projeto tinha até nome, Justice League: Mortal, e elenco escalado, vejam só: DJ Cotrona (o Flint de G.I. Joe Retaliação, como Superman), Armie Hammer (o Cavaleiro Solitário, como Batman), o rapper Common (Lanterna Verde), Adam Brody (o nerdzinho da série The O.C. como The Flash), Santiago Cabrera (o Isaac Mendez de Heroes, como Aquaman) e Teresa Palmer (a Julie de Meu Namorado é um Zumbi, como Talia Al Ghul). Além disso, Miller tinha garantido também dois nomes que pudemos ver recentemente em Mad Max: Megan Gale, a líder das motoqueiras, como Mulher-Maravilha; e Hugh Keays-Byrne, o vilão Immortan Joe, como o Caçador de Marte (aquele que os velhos como eu ainda chamam de Ajax).

O vilão seria ninguém menos do que Maxwell Lord, velho conhecido da época da Liga da Justiça Internacional, a ser interpretado por Jay Baruchel (a voz do Soluço em Como Treinar Seu Dragão). Nesta foto de 2007, revelada recentemente pelo dublê Greg Van Borssum, vemos Miller e a maior parte do elenco juntinhos, em ritmo de festa.

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A festa, porém, acabaria cerca de dois anos depois, sendo engavetada em 2009.

Primeiro, Miller teve graves problemas com a greve dos roteiristas, que entre 2007 e 2008 colocou Hollywood em polvorosa, atrasando projetos, diminuindo temporadas de séries... Mas, quando se resolveu a questão, a Warner decidiu que era hora de seguir em frente. Da mesma forma que os primeiros Mad Max, o filme da Liga seria inteiramente rodado na Austrália, com os respectivos incentivos fiscais. Palmer, Byrne e Gale eram os únicos membros do elenco de fato australianos – mas toda a equipe de produção, Miller incluído, era do país. Mas a Australian Film Commission não ficou lá muito satisfeita com isso e começou a criar empecilhos, queria mais australianos no elenco. Resultado: produção fora da terra dos cangurus.

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Proposta de maquiagem pro Ajax

“Uma oportunidade de uma vida inteira para a indústria cinematográfica australiana está sendo jogada fora por conta de um pensamento preguiçoso”, disse Miller para o Sydney Morning Herald. “Eles estão desperdiçando centenas de milhões de dólares em investimentos pelos quais o mundo inteiro está lutando – e, de maneira mais significativa, desperdiçando oportunidades de emprego para profissionais altamente criativos”.

Mas tudo bem, Miller não é do tipo que desiste fácil, por mais que os atrasos estivessem deixando a Warner sem muita paciência, já que a grana continuava saindo para manter a pré-produção rolando e a Weta, responsável pelos efeitos visuais, trabalhando. Filmagens transferidas oficialmente para o Canadá, no Vancouver Film Studios. Agora vai? Quase foi. O ano era 2008, o mesmo do sucesso estrondoso de Batman: O Cavaleiro das Trevas, com Christian Bale. Eita.

Mas, vem cá, Miller já não tinha escalado Armie Hammer como Batman/Bruce Wayne? E o que rolaria com o Bale? Pro Miller, bom, Nolan é que deveria ser cancelado nesta brincadeira e Bale estaria fora da jogada. O Batman do filme da Liga da Justiça é que deveria ser considerado a partir daquele momento. Mas... a Warner não comprou a ideia. E preferiu, num primeiro momento, desenvolver seus personagens em produções individuais antes que a a Liga fosse convocada para os cinemas. Justice League: Mortal estava, definitivamente, engavetado.

“Era um ótimo roteiro e tínhamos um grande diretor. Não estou dizendo que teria mudado o mundo, mas este filme teria funcionado”, afirmou Brody, que viveria Barry Allen/Flash, ao site HeyUGuys. “Mas acho que eles [Warner Brothers] não quiseram misturar tudo com um monte de Batmans andando por aí em seu universo”.

Num papo com o ScreenRant, Cotrona, escalado para ser o Homem de Aço, faz eco para Brody. “Estava muito empolgado para trabalhar com Miller e o roteiro era realmente muito bom. O trabalho de efeitos especiais que a Weta estava fazendo era incrível. (...) A escala disso era fantástica. Era algo do tamanho do Senhor dos Anéis. Teria sido muito legal”. Em entrevista ao CinemaBlend, o ator ainda completou sua afirmação, dizendo que “a versão que estávamos construindo para o Superman era incrível. Ele não era tão Clark Kent, era mais uma espécie de deus alienígena, mais Kal-El. Estava sempre voando e o design do uniforme era demais, com vários detalhes sutis. Além disso, a relação entre ele e o Batman era do tipo que eu sempre quis ver no cinema”.

O projeto do documentário, a ser dirigido por Ryan Unicomb e com o apoio dos produtores Steven Caldwell, Aaron Cater e Maria Lewis, ganhou o título de Miller’s Justice League Mortal. “Queremos divulgar a história para nos ajudar a levantar interesse a respeito do filme”, afirma Unicomb, em entrevista ao site australiano Inside Film. “Nós sempre fomos fascinados por este projeto”.

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O cineasta afirma já ter alguns investidores privados interessados em tirar o documentário do papel, mas tem planos de aumentar o orçamento, levando-o a uma campanha de financiamento coletivo. A intenção é entrevistar elenco e equipe, tendo acesso a artes conceituais e mesmo uniformes nunca vistos. No momento, por enquanto, o filme ainda está na fase de ser um “projeto” – porque ainda falta ter a benção do próprio Miller e seu parceiro costumeiro, o produtor Doug Mitchell. “Sem a colaboração deles, é difícil ver tudo acontecer de fato”.

A gente já consegue, no entanto, começar a ter uma ideia de como a coisa soaria. Afinal, a própria conta oficial do documentário no Twitter liberou algumas imagens conceituais – com o visual do Aquaman, algumas artes da Mulher-Maravilha voando, em ação, e até o que se planejava ser a máscara de borracha que daria a Keays-Byrne a cara do guerreiro marciano.

O desenhista canadense Steve Skroce, conhecido pelos storyboards de Matrix, aproveitou o embalo e soltou algumas artes que desenhou para o filme, especificamente para uma luta entre o Superman e a Mulher-Maravilha – na qual o Supinho estaria sendo aparentemente controlado mentalmente, de alguma forma, pelo vilão Maxwell Lord.

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Pra completar, o artista digital australiano (claro!) Kode A., conhecido pela alcunha corporativa de Bosslogic, aceitou o desafio e fez para a produção do documentário três lindos pôsteres de divulgação, com o Superman, o Batman e o Lanterna Verde (que, no caso, é a versão John Stewart).

Levando em consideração todas as fontes que leram a íntegra do roteiro, que chegou a cair na net, no entanto, podemos dizer que a trama parecia uma mistura do começo de Crise Infinita com o arco de histórias Torre de Babel, escrito por Mark Waid, no qual o Batman – a parte mais vital do filme – desenvolve o satélite-espião senciente Irmão Olho para manter sob vigilância os heróis superpoderosos que surgem na Terra. A Mulher-Maravilha era mais guerreira, mais áspera, numa versão que lembra sua contraparte pós-Novos 52. E o Flash era o mais novo da comunidade metahumana, o recém-chegado da turma.

O fato é que Maxwell Lord, um vilão com uma pegada mais nerd, uma espécie de obcecado pelos super-heróis (dono de uma rede de restaurantes chamada Kingdom Come – sacou?), rouba o satélite de Bruce Wayne e libera um vírus que cria algo próximo de um exército de cyborgs OMAC para que a Liga combata, usando as fraquezas que o Morcegão catalogou contra eles. O final vai pra uma vibe mais Crise nas Infinitas Terras, com o Flash se tornando um dos OMAC e se sacrificando para salvar o mundo.

No podcast The Word Balloon, Miller conta ainda que tem alguns modelos e maquetes que a Weta preparou e olha para eles todos os dias. “Os uniformes do Batman e do Superman se parecem muito com o que vemos nos Novos 52. Já a Mulher-Maravilha era mais tradicional, mas tinha aquela saia que o Alex Ross fez para o Reino do Amanhã”.

Mas o diretor pondera e acredita que foi até melhor que o filme nunca tenha saído. “Era muito fiel aos quadrinhos da época, muito DCU. Algumas partes estavam muito legais, porque eles tinham sacado certinho, mas algumas delas as pessoas iam odiar. Alguns pedaços eles queriam que fossem dirigidos demais para as crianças”.

No fim das contas, Miller estava enfrentando o MESMO dilema que a Marvel e a DC encaram hoje com as suas adaptações para os cinemas: os fãs dos gibis das antigas têm que curtir; os jovens na faixa dos 20 e poucos anos que não leem quadrinhos têm que curtir; e a molecadinha que compra os brinquedos e as dezenas de produtos licenciados tem que curtir também.

Como agradar todo mundo? Eis a grande questão. ;)