Lucrecia Martel abre a Caixa de Pandora que explica porque acabou não dirigindo o filme da Viúva Negra | JUDAO.com.br

Hollywood, Marvel Studio e todo esse preconceito com as mulheres dirigindo filmes de ação em Hollywood

Falam tanto sobre o filme solo da Viúva Negra, há tanto tempo, que fica até difícil de acreditar que a produção já tem uma diretora — a australiana Cate Shortland, de A Síndrome de Berlin, Salto Mortal e Lore. São tão poucas informações (o último boato dá conta de que o filme seria o primeiro da Marvel a não ser PG-13) que, além da existência do filme, o que mais se comenta por aí são os nomes de outras diretoras que foram ventilados, pensados e cogitados.

Entre esses nomes, nenhum teve tanto destaque quanto o da diretora argentina Lucrecia Martel. Não apenas pelo seu trabalho como diretora, mas por conta de revelações dadas por ela durante o Festival de Cinema de Mumbai sobre a suposta linha de trabalho que Marvel queria que ela seguisse no filme. “O que eles me disseram na reunião foi ‘precisamos de uma diretora porque precisamos de alguém que esteja mais preocupado com o desenvolvimento da personagem de Scarlett Johansson. Eles também me disseram ‘não se preocupe com as cenas de ação, vamos cuidar disso.’ Eu estava pensando, bem, eu adoraria conhecer Scarlett Johansson, mas também adoraria fazer sequências de ação.”

Ela acabou negando o convite.

Não dá pra saber se a Marvel Studios teve essa mesma conversa com todas as possíveis candidatas, mas, a partir dessa declaração feita por Martel, parece que o estúdio não confia em uma mulher dirigindo cenas de ação. É um péssimo hábito de Hollywood que não vem de hoje.

Segundo um estudo da Women and Hollywood, as diretoras representaram apenas 4% das 100 maiores bilheterias de 2018 e, de 2007 até 2018, 4,3% das diretoras estiveram presentes no mesmo tópico. Em 2018, as mulheres representaram apenas 20% de todos os diretores, roteiristas, produtores, produtores executivos, editores e diretores de fotografia que trabalharam nas 250 melhores bilheterias dos EUA e, no Top 500, apenas 27% dos filmes de ação tiveram mulheres envolvidas na produção.

Desses 4%, apenas Uma Dobra no Tempo tem elementos de filme de ação, apesar de não ser oficialmente classificado como um. A Marvel Studios, como diversos outros estúdios grandes de Hollywood, está apenas perpetuando um pensamento pré-concebido que filme de ação é coisa pra homem. Tanto para assistir, quanto para fazer um.

A maioria dos filmes de ação dirigidos por mulheres é de Kathryn Bigelow, a única diretora a ganhar um Oscar de Melhor Diretor(a). Bigelow dirigiu o filme de assalto Estranhos Prazeres (1995), o clássico da sessão da tarde Caçadores de Emoção (1991), o Jogo Perverso (1990) – protagonizado por Jamie Lee Curtis – e Quando Chega a Escuridão (1987), o segundo filme da sua carreira.

Outra diretora que também contou histórias de ação foi Mimi Leder, que dirigiu Jogo Entre Ladrões (2009), Impacto Profundo (1998) e O Pacificador (1997).

Tanto Mimi Leder quanto Bigelow, a partir de um certo momento, acabaram seguindo o caminho dos filmes de drama. Leder dirigiu Suprema, filme lançado em 2018 que conta a história da juíza Ruth Bader Ginsburg. Já Bigelow dirigiu Guerra ao Terror e A Hora Mais Escura, ambos thrillers de guerra, e Detroit em Rebelião, um drama baseado em fatos reais.

Em 2019, esse percentual irá aumentar moderadamente. Michelle MacLaren dirigirá a versão cinematográfica de Cowboy Ninja Viking que será protagonizado por Chris Pratt e Priyanka Chopra; Elizabeth Banks é responsável pelo reboot de As Panteras, que contará com Kristen Stewart, Naomi Scott e Ella Ballinska como as novas Angels.

Ainda em 2019, Capitã Marvel, o primeiro filme do estúdio protagonizado por uma mulher, será dirigido por Anna Boden e Ryan Fleck. Apesar dos dois trabalharem juntos de forma recorrente e não terem simplesmente juntado dois “estranhos” para dirigir o mesmo filme, ainda é uma mulher e um homem responsáveis pelo projeto. Será que Boden desenvolveu a personagem, enquanto Flynn foi encarregado de criar as cenas de ação? Não tem como saber, mas essa revelação de Martel criou uma dúvida sobre a forma como a Marvel Studios trabalha seus filmes nos bastidores.

Mulher-Maravilha, brilhantemente dirigido por Patty Jenkins, mostrou para Hollywood que mulheres podem contar histórias de ação, mas a indústria ainda tem um longo caminho pela frente até perder preconceitos infundados como esse.