Mais um, titio Coverdale?! | JUDAO.com.br

Novo ao vivo do Whitesnake nos leva de volta para o passado sem qualidade de som e imagem

“Quando você fecha com David Coverdale, ele faz você se sentir como se fosse o seu melhor amigo. Quando termina o que quer, ele nunca mais lhe dirige a palavra”. Quem disse isso foi John Sykes, em 1989, já à frente do breve Blue Murder, mas ainda magoado pelo desfecho de sua passagem pelo Whitesnake. Assim como Coverdale e Sykes já foram grandes parceiros, o Whitesnake já foi uma grande banda. Não que hoje em dia seja uma merda — famoso “até quando é ruim, é bom” —, mas, sem idolatria por aqui: tem como sair satisfeito de um show da banda hoje em dia? Tem como dizer com total imparcialidade que David Coverdale ainda tem um vozeirão? Frontman nato ele continua sendo; poucos comandam uma plateia como ele. Mas cantar... Enfim.

Em janeiro de 1984, o Whitesnake lançara Slide It In, seu álbum mais badalado até o momento. Com uma formação peso pesado, a banda, desde sempre sob a batuta de Coverdale, caiu na estrada e nos braços do público como nunca antes em sua história. Olhando para trás, o vocalista se dá conta de que metade da formação responsável pelo clássico já foi desta para melhor. “Cozy Powell, Mel Galley, Jon Lord. Pessoas incríveis e músicos fora de série. Minha saudade vai além das palavras”, diz o vocalista. Até Sykes, um dos líderes em viúvas, tem a performance reconhecida (“...a guitarra incendiária do talentosíssimo...”). O “implacavelmente melódico” Neil Murray completa o scratch.

Para celebrar os 30 anos da belezura que é Slide It In (ou ampliar catálogo, ou faturar em cima dos fãs mais inquietos, ou para desviar o foco ante ao fato de que o Whitesnake hoje em dia está na capa da gaita), acaba de ser lançado Live in ’84: Back to the Bone, artigo de luxo contendo CD e DVD exaustivamente anunciado como a última apresentação de Jon Lord na banda. No repertório, como era de se esperar, os hits Guilty of Love, Slow An’ Easy e Love Ain’t No Stranger muito antes do comercial do cigarro Hollywood, quando disputava queda de braço com Too Late for Love, do Def Leppard, nas rádios. Um braço caiu e vocês sabem de quem foi (piada de humor negro mode: ON). Bom para o Whitesnake, que tomou a vaga que pertencia ao Def Leppard no primeiro Rock in Rio, em 1985.

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Voltando ao show, meus caros, estamos falando da cobra branca já sem chapéu e bigode, mas ainda sem a patente do glam metal, que (tra)vestiu o grupo segundo as lógicas do mercado de discos norte-americano. Aqui a sonoridade é britânica, flutuando entre o velho e o novo. No palco, a performance é inspirada, motivada pela grana que entrava à medida que Slide It In galgava posições nas paradas. Coverdale, esse não preciso nem falar; estava no auge. Dividindo o centro do palco, um Sykes furioso, que se fizesse ideia do desenrolar da história, teria tocado ainda mais inspirado.

Mas nem tudo são flores neste Back to the Bone. Apesar do anúncio à la Cinema em Casa “pela primeira vez na televisão”, não existe um fã de Whitesnake que não possua uma cópia pirata que seja desta apresentação. Em outras palavras, Coverdale oficializou um bootleg e, por não ter tido acesso ao som da mesa, todo o trabalho de restauração do áudio foi feito em cima das fitas de vídeo, impossibilitando qualquer toque de Midas em busca do som cristalino que todos nós adoraríamos ouvir. A imagem, confesso, poderia ser pior. Resumindo: melhor continuar de boas com o meu DVD-R aqui.

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Coverdale: hoje em dia, show demais e gogó de menos

E antes que eu me esqueça, lá em 1989, Coverdale respondera Sykes: “Faz sentido eliminar quaisquer influências negativas da nossa vida pessoal e profissional”. Me parece legítimo falar tamanha baboseira... sobretudo quando se tinha na banda ninguém menos que Steve Vai. Chorem, viúvas.