A heroína dos anos 90 abriu muitas portas na televisão, mas uma ainda teima em estar fechada – e justamente pra ela
A Xena pode voltar. Uma das mais influentes personagens da TV dos anos 90 está encabeçando um projeto de reboot na NBC. O canal, inclusive, tá procurando um roteirista, informa o Hollywood Reporter.
A ideia é ter uma heroína inteligente e sofisticada, que tenha o charme que tinha a Lucy Lawless, a Xena original, junto com uma pegada de Katniss. “Não acredito que vá ser apenas uma continuação, mas ainda não pensamos nisso. É uma grande personagem, e nós devemos tentar encontrar uma forma de revivê-la”, disse Bob Greenblatt, o chefão da NBC, que também confirmou que estão envolvendo os produtores originais Sam Raimi e Rob Tapert (que é casado com a Lucy) no projeto.
Até agora, a própria Lucy Lawless disse que não sabe de nada dessa história – chegando a comentar que, se tá rolando um reboot, ela, o marido e Raimi não tão envolvidos. “Eu amaria ter a Lucy como parte disso – se não sentirmos que a presença dela não irá sobrepor a nossa interpretação da série. Eu não tenho certeza se ela pode ser parte disso se ela não estiver interpretando a Xena, e não sei se essa é a direção que seguiremos”, disse Greenblatt.
Pelo visto, o que o executivo quer é uma versão jovem da protagonista, o que, bom, não seria possível com a antiga intérprete da personagem. “Tenho 47 anos, mas com toda a certeza tem alguém ótimo por aí”, disse a própria, que atualmente tá no elenco de Ash vs. Evil Dead. Por outro lado, quem viu a participação dela no começo da segunda temporada de Agents of SHIELD sabe que Lucy continua chutando bundas. Quem sabe este não é o momento dela levantar a bandeira, bater no peito e dizer “eu sou a Xena”, pra provar um ponto?
O ponto é de que idade, meu amigo, já não quer dizer muita coisa. Afinal, Robert Downey Jr., com seu Tony Stark, continua voando por aí de armadura aos 50 anos, enquanto Tom Cruise pode fazer o Ethan Hunt viver missões impossíveis aos 53.
Pra quem abriu tantas portas há 20 anos, seria uma grande forma de revolucionar o entretenimento mais uma vez, já que as mulheres acabam sendo as maiores vítimas dessa questão da idade.
Sim, revolucionar mais uma vez. Quem conhece um pouco da personagem já sabe que ela fez bastante: no começo dos anos 90, o espaço pras mulheres na TV dos EUA ainda era pequeno. Foi aí que na série Hércules: A Lendário Jornada (aquela estrelada pelo Kevin Sorbo) surgiu uma vilã, chamada Xena. Depois de três episódios ela já era uma heroína, um sucesso e uma aposta da Renaissence Pictures pra ter uma série própria. Em setembro de 1995 estreava Xena: A Princesa Guerreira.
E ela não tinha um canal, um horário fixo.
Eram outros tempos, da explosão do “first run syndication”, com séries criadas para preencher os horários locais das grandes (e pequenas) redes dos EUA. A própria produção do Hércules e Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, que são da mesma época, seguiam esse formato. Só prá você entender, mais ou menos: é como se uma novela fosse exibida na Globo no Acre e na Record no Rio Grande do Sul, de manhã e de tarde.
Não estar em rede nacional na grade de uma grande emissora não atrapalhou a vida da Xena. Ela marcou presença como a protagonista de uma série e foi, ainda que nas entrelinhas, a primeira delas a ter um relacionamento lésbico, com a sidekick Gabrielle.
Era tão nas entrelinhas que os roteiristas escreviam os episódios pra deixar tudo dúbio, o que facilitava a venda para os canais, já que se relacionamento entre as duas fosse tão aberto... Cidade pequena dos EUA, você com certeza sabe como é. Por outro lado, essas referências já foram o suficiente pra movimentar os fãs e todas as lendas sobre a série – e também pra movimentar o debate sobre relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, que estava começando a ferver nos EUA.
Foi um primeiro passo gigante pras mulheres na TV. Buffy, por exemplo, estreou em março de 1997, marcando época por ter conseguido um espaço em uma rede nacional, na The WB. O próprio criador da personagem, Joss Whedon, cita a importância da Xena pra Buffy.
Chegando em 2015, não dá pra dizer que homens e mulheres, héteros, gays e lésbicas possuam as mesmas oportunidades no entretenimento, principalmente na televisão. Só que esse debate e essa presença mais diversa evoluíram bastante desde 1995.
E a Xena é uma das principais responsáveis.
Se tudo der certo e uma nova série da personagem estrear na NBC, vai ser um grande retorno. A Xena fez tanto há 20 anos sem ter uma casa de verdade, imagina agora, presente numa das quatro grandes emissoras abertas dos EUA?
Pena que, no fim disso tudo, estejam começando errado ao buscarem uma menina mais nova, perdendo a chance de mostrar que essa história de idade pouco importa, seja pra homens ou seja pra mulheres.
Poderia ser uma grande (e, quem sabe a última) luta pra Princesa Guerreira.