Axel Alonso, o editor-chefe, nega que a editora esteja tirando a equipe de circulação para atrapalhar os planos da Fox com o novo filme
Há tempos nós sabemos sobre a complicada relação entre Marvel e Fox, muito porque o contrato da Casa das Ideias com o Estúdio da Raposa foi assinado em tempos desesperadores, e que agora as teorias dizem que eles querem mais que o ~parceiro se dê mal boicotando os próprios personagens nos quadrinhos. Os defensores da tal teoria apontam mês a mês uma queda no número de gibis dedicados ao Quarteto Fantástico e aos X-Men na lista de lançamentos da editora, ~confirmando assim as acusações. Pra ajudar ainda mais nestes argumentos, o Quarteto vai deixar de ter uma revista própria após o fim do crossover Secret Wars...
Só que Axel Alonso, o editor-chefe da Marvel Comics, aproveitou o painel Uncanny Inhuman, que rolou nesta quinta (9) lá na San Diego Comic-Con, pra negar essas acusações e mandar o seu recado: “Não acredite em tudo que você tem lido na internet”.
A declaração não surgiu do nada, claro – nem estava na pauta do painel, que foi até mais focado em lançamentos mutantes do que dos Inumanos. Na verdade, tudo começou com uma pergunta de um fã durante o Q&A, momento que é justamente a beleza desses painéis em uma Comic-Con. “Foi uma decisão de negócios não incluir o Quarteto Fantástico no All-New, All-Different Marvel?”, questionou o cara, se referindo ao relançamento da Casa das Ideias que rola em outubro lá nos EUA.
Alonso, claro, sabia que a pergunta iria surgir uma hora ou outra, então digamos que a resposta estava na ponta da língua. E ele aprendeu bem a disparar frases de impacto com o chefe Joe Quesada, que ocupou o cargo de editor-chefe antes dele. “Você precisa terminar Secret Wars para saber o destino daqueles que ainda não contamos. [...] É uma questão desgastante. Nós amamos os personagens. É a nossa prerrogativa movê-los, e é isso que estamos fazendo”, completou.
Ok, antes de desferir o seu “mimimi” e afirmar que ele nunca falaria a verdade caso fosse realmente um boicote à Fox (e eu concordo, juro), é preciso notar que ele tem alguns pontos importantes por de trás dessa resposta. E não digo apenas não acreditar em tudo que você lê na internet.
Pra começar, desista completamente dessa ideia de que ter uma revista com o título “Fantastic Four” nas comic shops ajudaria a Fox com o reboot da franquia nos cinemas, que rola em agosto. Neste caso, 2 + 2 não é 4. As lojas de HQs são extremamente espaçadas nos EUA, frequentadas apenas por quem é fã. Não há venda em banca e quadrinhos são coisa de nicho, algo que cinema não é.
Depois esqueça, por um momento, que os direitos de adaptação dos personagens estão com a Fox. Vamos analisar friamente o Quarteto Fantástico como produto, afinal uma editora ainda é uma empresa. Por mais que o título tenha importância histórica, literalmente colocando a Marvel Comics no mapa das HQs modernas, ele não vende bem há tempos.
Fantastic Four #645, o último número antes do cancelamento, vendeu menos de 40 mil exemplares no mercado direto dos EUA em abril – aliás, ~vendeu naquelas, já que esse número representa os exemplares que a editora vendeu para os lojistas, mas não representa efetivamente quantos foram comprados pelos leitores. Pode (e deve) haver um encalhe aí.
De qualquer forma, a revista ficou no posto de 62ª mais vendida no mês, levando pau de gente como Howard o Pato, Gavião Arqueiro, Silk, Arlequina, Titãs... Por mais que tenha vendido mais que o novo Capitão América e o Homem de Ferro, é pouco para a última edição de um título histórico.
Sem o incentivo desta coisa que, uau, é última edição, os meses anteriores foram ainda piores. Antes do anúncio do cancelamento e da renumeração, Fantastic Four #14 teve míseros 24 mil gibis comercializados, algo no nível do Nova.
O que realmente surtiu algum efeito com a franquia foram os relançamentos. Só que fizeram isso duas vezes em um espaço muito curto de tempo sem conseguir resultados duradouros, em novembro de 2012 e em maio de 2011 (como FF), fora quando retornaram para a numeração original da publicação.
O que é fácil perceber é que não importa muito mais a qualidade das histórias e dos quadrinistas envolvidos (gente como James Robinson, Matt Fraction, Mark Bagley, Jonathan Hickman e Steve Epting passou pelo gibi), parece que não há mais apelo entre os leitores pra acompanhar as aventuras da pegada do Quarteto, nessa coisa de família heroica protegendo a Terra junta, incluindo seus acertos e erros. Os leitores podem até comprar o primeiro número, o segundo, mas pouca gente é fisgada pra continuar.
Afinal, vivemos num mundo onde o Superman precisa raspar o cabelo e andar por aí de motoca. Parece que a nossa realidade ficou muito dura pra se empolgar com o dia a dia de uma família, tenha ela superpoderes ou não...
É provável também que os dois filmes feitos pela Fox tenham ajudado a afundar ainda mais a percepção do Quarteto junto aos leitores, já que as duas produções sempre foram muito criticadas – por mais que elas acertem exatamente na hora transmitir esse lado “família” na tela grande. E, talvez, só acertem nisso.
Ao invés de investir uma boa grana em nomes consagrados e numa máquina de marketing pra divulgar mais um relançamento, faz mais sentido ir lá e criar uma nova versão dos Vingadores. Ou achar uma equipe criativa mais barata e descobrir um sucesso como Spider-Gwen.
Só que Reed Richards, Sue Richards, Johnny Storm e Ben Grimm ainda são propriedades valiosas pra Marvel, individualmente. Elas podem não mais funcionar juntas, como equipe, mas são nomes importantes pra serem adicionados à outras franquias da casa. Por isso teremos, no All New, All Different Marvel, o Tocha-Humana nos Inumanos e o Coisa nos Guardiões da Galáxia. Nesses novos contextos, a editora torce não só pra que eles funcionem, mas como também atraiam os leitores por conta dos nomes conhecidos. É justamente isso o que Axel Alonso quer dizer com “é nossa prerrogativa movê-los”.
Ainda não foi dito o que acontecerá com o Sr. Fantástico e a Mulher Invisível na nova fase da Casa das Ideias, mas é de se imaginar que o destino deles esteja atrelado ao final de Secret Wars – e divulgar agora seria um spoiler disso. Ao menos é o que dá pra deduzir das declarações do Axel Alonso...
Se houvesse um boicote tão forte, a Marvel não continuaria nem com os dois personagens citados anteriormente, muito menos colocaria justamente o Doutor Destino como o grande vilão de Secret Wars, que está deixando de ser o cara malvado de um só time pra ser aquele que atrapalha o Universo Marvel por inteiro.
A mesma coisa pode ser dita sobre os X-Men. Serão 10 revistas estreladas por mutantes, ou equipes com algum mutante, na nova fase. É menos que aquelas estreladas pelo Homem-Aranha e seus amigos (são 11 publicações com personagens aracnídeos solo ou como parte de alguma equipe), mas é completamente de acordo com um processo que é tocado pela editora há muito tempo. É que depois do excesso mutante nos anos 90 ter sido um dos motivos para a quase falência da editora, eles começaram um processo de enxugamento desses títulos, que teve seu ápice na chamada Dizimação, quando ficaram com um pouco mais de 200 mutantes.
Na verdade, o que a Marvel fez nos últimos anos foi voltar a povoar o Universo Marvel de mutantes. Ao mesmo tempo, passou a dar mais espaço para os Inumanos simplesmente porque, nessa complicada disputa de contratos, é com eles que a empresa pode contar no cinema – então, nada mais justo que dar uma levantada na franquia também nos quadrinhos.
Pode ser tudo bullshit, uma desculpa pra esconder um boicote safado? É, pode ser. Mas você também pode ter uma coisa na cabeça: a Marvel Comics não rasga dinheiro, precisa dar lucro independente da divisão de filmes e nunca deixaria o Quarteto Fantástico de lado se as vendas fossem realmente boas. Seja com ou sem a Fox.
Então, leitor de gibis, antes de apontar o dedo pra Fox ou pra Marvel, aponte pra você mesmo. Afinal, quando foi a última vez que você comprou uma revista do Quarteto Fantástico, hein?
Posso apostar que aquilo que a Casa das Ideias mais quer é que essa ausência do Quarteto nas comic shops funcione como uma moratória (aquela que é feita pelo pessoal de home video da própria Disney), e que o novo filme bombe tanto, mas tanto, que faça com que essa demanda reprimida pelo gibi exploda como uma panela de pressão, aumentando as vendas de encadernados antigos – e trazendo um novo Fantastic Four #1 pela vontade desses mesmos leitores que hoje passam longe da equipe.
Sonhar não custa nada, né?
Pra não concorrer com Mulan, Bill & Ted 3 vai estrear em VOD mais cedo: 28 de Agosto! https://t.co/Bu3VBYYW8X