Casa das Ideias lançou o Marvel Global Comics e, pela primeira vez, olha para o Brasil sem intermediários
Desde que as histórias em quadrinhos são histórias em quadrinhos, a publicação de gibis no Brasil funciona da mesma forma. Uma editora brasileira faz um acordo com a Marvel (ou a DC), analisa o que sai lá fora, escolhe o que é relevante, traduz e publica por aqui no formato de revistas mix. No passado, esse processo levava alguns anos. Hoje, demora um pouco menos de um ano. Só que tudo isso está mudando com o lançamento do Marvel Global Comics, que aconteceu na última semana.
Pela primeira vez (por meio de uma parceria com a iVerse), a Casa das Ideias está disponibilizando diretamente ao público brasileiro o material na nossa língua. Tudo isso facilitado com a distribuição digital, já que a editora elimina etapas complicadas como impressão e distribuição. Só que a Panini, que atualmente publica as HQs da Marvel no Brasil em formato físico, não foi pega totalmente de surpresa. Nem nada vai mudar nada por lá por causa disso, ao menos por enquanto.
“A Marvel pede, faz um tempo, que nós enviássemos os mesmos arquivos que usamos para fazer as revistas para eles. Imaginávamos que era para uma iniciativa como essa”, explica Rogerio Saladino, editor da linha da Casa das Ideias na Mythos, responsável pela parte editorial da Panini.
Por enquanto, o app tem pouco material disponível. A maioria de sagas como Guerra Civil e Invasão Secreta, ou ainda o arco Origem das Espécies, do Homem-Aranha – tudo, no máximo, publicado até 2010, ou alguns poucos clássicos -, como Desafio Infinito. “Não nos informaram exatamente como vai funcionar, mas pelo que eu sei, é material mais antigo, que já foi publicado aqui”, confirma Saladino.
A estratégia lembra o que as grandes editoras fizeram nos EUA, mas em parceria com outro aplicativo: o ComiXology. Inicialmente colocaram edições antigas. Depois, mais recentes. Por fim, passaram a lançar as revistas no mesmo dia que a versão física. Foi aí, de certa forma, que a distribuição digital teve seu boom no resto do mundo.
Não é só no Brasil que esperamos alguns meses para ler as histórias traduzidas em nossa língua. Isso é praticamente um padrão. Assim, muita gente viu no ComiXology a oportunidade de superar barreiras e ler histórias dos X-Men e dos Vingadores no mesmo dia que os estadunidenses. Provando isso, a própria ComiXology liberou um infográfico que revela a penetração deles em quase todo o mundo.
Resta saber, claro, como ficaria a parceria com a Panini nesse cenário. Uma coisa é fornecer traduções de histórias antigas. Outra é dar isso pra um serviço que vai vender as histórias ao mesmo tempo. É aquele tipo de coisa que vale uma bela discussão entre advogados. “O que sei é que toda a parte digital não fazia parte dos contratos originais [entre Marvel e Panini], e que seria discutido e etc. Não sei como é que está sendo negociado, não”, nos conta o Saladino. Para tirar essa dúvida, tentamos contato com os executivos da Panini e da Marvel, mas as duas empresas não quiseram falar sobre o assunto. [/one-half]
De qualquer forma, como bem lembra o editor, o digital chega como alternativa ao físico, e não como substituto. “O mercado para edições digitais ainda está no começo, e uma grande maioria ainda prefere o físico.”
O Marvel Global Comics funciona de forma bem parecida ao aplicativo principal da iVerse, ou até mesmo que o ComiXology. No momento, está disponível apenas para iOS (iPad e iPhone), mas a versão para Android não deve demorar.
Você escolhe a língua no primeiro uso do app (são diversas, inclusive incluindo o hindi e até o chinês, além do português) e, depois, tem acesso a uma biblioteca de revistas, com destaque para as atualizações mais recentes. Ainda são poucas HQs, mas isso deve ser ampliado com o tempo. Ah, você também pode usar um usuário já existente no Marvel.com, mas não é possível (ao menos por enquanto) importar edições que você tenha comprado por lá.
Os preços estão todos em dólares, provavelmente por conta das restrições da Apple e dos bancos brasileiros — o valor ~padrão é US$ 1,99. As traduções estão de acordo com aquelas feitas pela Panini (há, por exemplo, edições de “O Espetacular Homem-Aranha” no lugar de “The Amazing Spider-Man”). O que incomoda, mesmo, é a fonte utilizada. Não é aquela que estamos acostumados.
A questão, agora, é ampliar a biblioteca. Além das obvias edições mais recentes, um serviço do tipo também tem como diferencial uma grande quantidade de histórias clássicas, aquelas difíceis de achar em livrarias, comic shops e sebos, mas que você quer ler.
Será que essa iniciativa pega? Não sei, até porque ainda falta muita coisa para ser polida e definida, mas pela primeira vez a Marvel olha para o mercado brasileiro (e diversos outros) com uma atenção especial. Todos nós ganhamos com isso.
[text-box title=”Outras iniciativas” width=”100%”]Há ainda um outro serviço da Casa das Ideias, chamado Marvel Digital Comics Unlimited. A ideia é parecida com a da Netflix: você paga uma assinatura mensal para ler quantos gibis quer no computador, tablets e smartphones – os planos começam em US$ 9,99 por mês. Só que o serviço fica devendo as publicações dos últimos seis meses.
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