Na tripulação clássica de Star Trek, o brilhante escocês que operava o sistema de teleporte acaba sendo ECLIPSADO pelo trio Kirk, Spock e McCoy. Uma injustiça que vamos reparar agora mesmo! :D
Quando você fala na Enterprise, a ESPAÇONAVE da Federação dos Planetas Unidos em sua lendária missão de cinco anos para explorar cantos inexplorados da galáxia, que nomes vêm à sua cabeça? Capitão James T. Kirk, claro; seu oficial de ciências cheio de lógica, o vulcano Spock, também, sim; o reclamão e rabugento oficial médico-chefe Leonard McCoy? Pode ser.
Eles são, de fato, o coração da tripulação. Só que tem um sujeito que é tipo o pulmão. Ou dada a sua predileção pelas preciosidades etílicas, o fígado. Um escocês divertido que sempre tem uma solução pouco convencional no último minuto para resolver os problemas mecânicos da nave – com quem tem uma relação bastante emocional, na real.
Cêis podem ficar aí babando o ovo do Kirk, do Spock e do McCoy. Mas não haveria Enterprise se não existisse Montgomery Scott, o glorioso Scotty.
Por muito pouco, na verdade, Scotty não fica de fora do elenco. No livro Inside Star Trek: The Real Story, de 1996, os autores Herbert F. Solow e Robert H. Justman contam que, por mais que o diretor do episódio Where No Man Has Gone Before (de 1966, oficialmente o segundo piloto de Jornada nas Estrelas), James Goldstone, tivesse defendido a escalação do ator James Doohan, um militar veterano do Dia D, para o papel do engenheiro, o personagem contava com um opositor de peso. Gene Roddenberry, criador da franquia, chegou a mandar uma carta para Doohan dizendo que ele estava dispensado, porque “não achamos que precisamos de um engenheiro na série”. O agente de Doohan não se conformou, ficou puto, acionou a emissora e, no fim, Scotty entrou para o elenco. E para a história.
Referindo a si mesmo como “um velho frequentador de pubs da cidade de Aberdeen (ao norte da Escócia)”, nascido no ano de 2222, o tenente-comandante, segundo-oficial (portanto, o cara que assumiria o comando se Kirk e Spock estivessem fora, apesar de dizer que “nunca quis ser nada além de engenheiro”) e engenheiro-chefe da USS Enterprise começou o seu trabalho para a Frota em 2242, ainda no meio de seus estudos na Academia, e chegou a servir num total de 11 naves diferentes. No entanto, foi apenas em sua passagem inicial pela nave comandada pelo Capitão Kirk, a partir de 2265, que ele assumiu pela primeira-vez o cargo de chefe da equipe de engenharia.
Isso, é claro, depois de ser conhecido e reconhecido por seu ato de coragem na chamada Estação Drozana (Setor Donatu do Quadrante Beta), onde foi capturado como parte de um plano dos Devidianos para invadir a Zona Neutra entre a Federação e os klingons. No fim, foi ele pessoalmente o responsável por deter a raça de humanoides metamorfos e impedir que toda a estação fosse tomada pelas chamadas ondas triolicas – rajadas de energia com o poder de deteriorar completamente o tecido vivo. Já chegou, portanto, na Enterprise cheio de marra e com uma boa história para contar. ;)
Todas as vezes em que o intrépido Capitão tinha uma brilhante e ambiciosa ideia tática para salvar o dia com seu sorriso cativante, cabia ao coitado do Scotty se reinventar para fazer a parada acontecer dentro das possibilidades e limitações da Enterprise. Em Jornada nas Estrelas III – À Procura de Spock (1984), o intrépido escocês é promovido à capitão de engenharia da USS Excelsior, mas acaba sabotando a nova nave para poder ajudar Kirk a roubar a Enterprise e então partir em busca de seu velho amigo vulcano. Ao final de Star Trek IV, ele se reintegra ao time de Kirk a bordo da USS Enterprise-A.
Três anos depois da conferência de paz em Khitomer, no ano de 2293, Scotty já tinha comprado seu barquinho, pensando na aposentadoria, mas Kirk ainda conseguiu convencê-lo a ficar no time por mais algum tempo. A aposentadoria definitiva só viria no ano seguinte, aos 72 anos, depois de mais de cinco décadas servindo a Frota. A bordo da nave USS Jenolen, ele partiu para a colônia de Norpin, onde passaria o resto de seus dias. Mas a embarcação simplesmente desapareceu — e, durante 75 anos, não se ouviu falar do destino do lendário engenheiro-chefe da Enterprise. Isso até o ano de 2369, claro.
Na época do batismo cerimonial da chamada USS Enterprise-B, ele ainda ajudou a salvar a nave da destruição pelas faixas temporais do Nexus e a resgatar os refugiados de El-Aurian. Mas é claro que ele acabou forçado a testemunhar a (aparente) morte de Kirk no meio do processo — aquele mesmo que levaria o capitão a viajar no tempo e encontrar ninguém menos do que Jean Luc-Picard em Star Trek Generations (1994).
No episódio Relics, da Nova Geração, a equipe da Enterprise-D de Picard o encontrou mantido vivo ironicamente graças a um raio de teletransporte em loop eterno. Ele foi o único sobrevivente da tripulação, depois de um acidente no exterior da Esfera Dyson. Para o sujeito chamado por Kirk de “engenheiro milagroso”, definitivamente não existe milagre maior do que este.
Depois de trocar um monte de figurinhas com o engenheiro-chefe de Picard, Geordi La Forge, e ainda ajudar a salvar mais uma vez a Enterprise, só que no futuro, Scotty ganhou do novo capitão um presente especial. Uma shuttlecraft permanentemente emprestada, a Goddard, que ele poderia usar para viajar pela galáxia por conta própria.
No universo não-canônico dos livros e dos games de Star Trek, Scotty ainda teria forças para assumir o comando da USS Challenger, em 2382, mas a empreitada só duraria um ano porque, graças a um ferimento, ele se afastaria, cedendo a cadeira de comando para ninguém menos do que o próprio La Forge.
Antes de sua morte, em 2005, o ator James Doohan ainda reprisaria o papel de Scotty na comédia (?) Máquina Quase Mortífera, de 1993, que traz o amigo William Shatner no elenco.
E, pra esclarecer de uma vez por todas: lembrado quase sempre pela frase “Beam me up, Scotty”, ela nunca foi dita EXATAMENTE DESTA FORMA ao longo da série original. Kirk pedia para o seu engenheiro-chefe, o grande especialista em teletransporte da equipe, para levá-lo de volta – mas com sentenças que eram variações como “Scotty, beam me up”, usada em Jornada nas Estrelas IV: A Volta para Casa (1986).