A mulher que deu nome à nova nave dos Guardiões da Galáxia | JUDAO.com.br

Perguntaram pro James Gunn, no Twitter, se a nova nave dos Guardiões tinha nome. Tinha. E, exatamente como a primeira, é uma ótima referência pop ;)

Talvez você se lembre que a nave de Peter Quill, o Senhor das Estrelas, tem um nome no primeiro filme dos Guardiões da Galáxia: Milano. O batismo é em homenagem ao CRUSH absoluto do herói quando era moleque, antes de ser abduzido por Yondu, uma garota chamada Alyssa Milano — cê sabe, a atriz, uma das irmãs de Charmed, enfim.

A Milano foi destruída na batalha contra Ronan em Xandar, mas depois gentilmente reconstruída pela Tropa Nova, para que os Guardiões pudessem SINGRAR a galáxia em paz. E eles fizeram isso, claro, até o Volume 2, quando a nave foi novamente detonada (muito além da possibilidade de reconstrução, conforme o Rocky mesmo disse), cortesia do povo dourado dos Sovereign.

Mas aí chegou Vingadores: Guerra Infinita, alguns anos depois, Groot já adolescente e, com ela, chegou uma nova nave pro grupo de vigilantes intergalácticos. Daí cê bem podia pensar que é só, sei lá, uma Milano 2. Não, não. Porque foram perguntar isso pro James Gunn, claro, sempre ele, e o diretor contou que a ESPAÇONAVE tem um novo nome: BENATAR.

Tamos falando do sobrenome de uma das maiores representantes femininas, ao lado da Lita Ford, dentro do universo do hard rock farofa com laquê no cabelo. No caso, Pat Benatar, quatro vezes vencedora do Grammy e dona de hits como Hit Me with Your Best Shot, Love Is a Battlefield, We Belong e Invincible.

“Ah, mas sabe, achei que as suas referências musicais pros filmes vinham dos anos 70”, questionou um sujeito, ao sacar que a Pat é muito mais na vibe OITENTISTA. “Bom, todas as MÚSICAS até agora foram dos anos 70, mas não as referências. Dito isso, o primeiro disco da Pat Benatar foi lançado em 1979”, mandou o Gunn no Twitter, naquele melhor modo XABLAU.

Apesar de Pat Benatar não estar na trilha dos dois primeiros volumes dos Guardiões, o seu maior hit é uma das músicas de destaque de Mission: Breakout!, a nova atração dos parques da Disney estrelada por Peter, Gamora, Drax, Groot, Rocky e toda a galera dos filmes/quadrinhos.

Descendente de poloneses, alemães e irlandeses, a cantora nascida Patricia Mae Andrzejewski é mesmo egressa do Brooklyn, em Nova York. Desde pequena, se interessou por teatro e música, cantando seu primeiro número musical solo ainda na escola, com oito anos de idade.

Na faculdade, começou um curso na área de saúde do qual acabou desistindo, aos 19 anos, para se casar com seu namoradinho da época de escola, Dennis Benatar, que foi servir no exército lá na Virginia. E a Pat acabou indo junto, primeiro arrumando um trampo num banco local mas depois decidindo que seu lance era mesmo cantar. Inspirada por um show da Liza Minelli que viu na cidade, se tornou garçonete em um clube noturno e conseguiu uma vaga pra cantar numa bandinha que se apresentava por lá. Foi nesta época, 1974, que lançou seu primeiro single, raríssimo e de circulação limitada, Day Gig.

A virada de fato aconteceria só em 1977, de volta a NY, quando participou de um concurso de Halloween em um café, fantasiada como uma personagem do filme Mulheres-Gato da Lua, de 1953. De lá, correu pra cantar no palco do clube de comédia Catch a Rising Star, com a mesmíssima roupa. Óbvio que a combinação de visual teatral com a voz potente chamou total atenção. Cada vez mais envolvida neste circuito, gravando jingle pra uma série de marcas locais, Pat então acabou tendo alguns representantes de gravadoras nas suas plateias. E foi quando finalmente a Chrysalis Records correu atrás da garota com um contrato na mão. Na mesma época, ela e Dennis se separaram — mas a cantora manteve o sobrenome para seu nome artístico, hoje famoso.

Como bem disse Gunn, seu primeiro single DE FATO, If You Think You Know How to Love Me, saiu em setembro de 1979. Mas não foi lá um grande sucesso. Só mesmo quando a segunda música de trabalho, Heartbreaker, chegou às rádios é que Pat passou a ser notada fora de Nova York. O disco completo inaugural, Crimes of Passion, viria só em agosto de 1980 — mas a tracklist já trazia a faixa Hit Me With Your Best Shot. E a música, como single, fez a carreira de Pat Benatar estourar de vez, indo parar direto na lista dos 10 mais vendidos do país, mais de 1 milhão de cópias, aquela coisa toda.

O álbum também não fez feio, ficando cinco semanas como o segundo de melhor performance nos EUA, perdendo apenas para Double Fantasy, do casal Lennon e Yoko. Graças ao disco, ela também receberia seu primeiro Grammy, como “melhor performance rock com vocal feminino”.

Em 1981, sua versão para You Better Run, dos Rascals, foi o segundo clipe a ser exibido na história da recém-lançada MTV, logo depois do clássico Video Killed the Radio Star (The Buggles), justamente para ajudar a complementar a mensagem de que, gente, o mercado da música mudou, é melhor vocês se prepararem.

Aaaaaaaah se eles soubessem... ;)

No fim das contas, o seu hard rock se tornaria cada vez mais palatável, com mais inspirações pop, o que jamais significou que ela perderia a coragem de cantar sobre assuntos mais duros, como acontece em Love Is a Battlefield, basicamente uma música sobre relacionamentos abusivos. Mas, claro, o novo direcionamento também ajudaria na sua performance comercial, que melhorou substancialmente — seguindo-se turnês mundiais lotadas, discos ao vivo, mais prêmios e a porra toda.

Antes de entrar num declínio natural que acometeu o mercado a partir da metade da década de 90, com o rock cabeludo de calça de oncinha dando passagem para as camisas de flanela do grunge, Pat não teve medo de ousar e chegou inclusive a gravar um disco com uma pegada mais blueseira, como foi o caso de True Love, de 1991. A iniciativa, ao lado da banda Roomful of Blues, obviamente vendeu bem menos do que aquilo que ela estava acostumada, com um interesse reduzido das rádios e da TV.

Desde Innamorata, lançado originalmente em 1997, o último álbum de uma sequência regular, Pat só colocou na rua Go, de 2003, seu décimo-primeiro álbum de inéditas, o único até o momento nos anos 2000. Mas a faixa bônus da bolacha, Christmas in America, cujos lucros seriam revertidos para a caridade dos sobreviventes do atentado de 11 de setembro, já indicava um caminho que ela seguiria bastante nos anos seguintes, com novas canções marcando ocasiões especiais.

Em 2015, por exemplo, como todo bom hard rocker americano já fez alguma vez na vida, ela lançou a música natalina One December Night. No ano passado, mais uma vez a cantora se posicionou e gravou Shine, lançada para apoiar a Marcha das Mulheres que rolou no dia 21 de Janeiro.

E em setembro, foi a vez de se juntar com a multiestrelada produtora/compositora Linda Perry (da banda 4 Non Blondes) para a música Dancing Through the Wreckage, da trilha sonora do documentário Served Like a Girl — sobre veteranas do exército americano que, de volta de missões em lugares como Iraque e Afeganistão, criam uma irmandade e tentam retomar a normalidade de suas vidas civis, participando inclusive de um concurso de miss.

“Todos os dias, desde que me lembro madura o suficiente para pensar no assunto, eu me considero uma feminista”, afirmou a cantora em seu livro de memórias, Between a Heart and a Rock Place. “É muito empoderador poder olhar pra trás e saber que, de alguma forma, eu trilhei um caminho difícil para que as mulheres que vieram depois de mim pudessem seguir de um jeito um pouco mais fácil”.

Olha, Pat, “fácil” eu não sei dizer MESMO. Mas uma coisa é fato: você ajudou a abrir caminhos. MUITOS. Especialmente pras minas que queriam bater cabeça naquela fase Sunset Strip e achavam que tinham apenas que se conformar com o papel de sedutoras no pano de fundo dos clipes das bandas. Você inverteu a lógica. E explorou ambientes desconhecidos. Por isso, claro, faz um BAITA sentido que você ajude a batizar uma nave, né não? :D