Pelo menos isso é o que Christopher Nolan diz…
“Existem cineastas que, por mais que tentem, não conseguem fazer filmes ruins”.
Esta constatação é válida? Honestamente, não faço ideia. Adoro Wes Anderson e David Fincher, apenas para citar dois contemporâneos, e a meu ver, nenhum deles cometeu nenhuma tragédia... até o momento. Tudo bem, opinião de fã não vale tanto assim, já que sempre haverá argumentos em defesa dos ídolos. Mas até eu preciso aceitar que A Vida Marinha Com Steve Zissou só agradou a quem é sócio do fã-clube de Anderson e que Alien³ foi uma pedra no sapato do diretor de Clube da Luta. É claro que qualquer cineasta pode fazer um filme ruim – embora eu realmente espere que nenhum dos dois citados acima façam isso comigo. :)
Mas confesso que, a cada filme novo, destruo todas as unhas das mãos e dos pés até que apareça a primeira crítica. E se não é favorável...
Imagino que deve ser mesmo difícil para quem está há algum tempo em franca ascensão perceber que cometeu uma leve derrapada na carreira. O que nos leva ao curioso caso de Christopher Nolan (acho que não preciso explicar a ninguém aqui quem é esse camarada, certo?) e seu polêmico Interestelar, aquele épico espacial vendido como seu clássico definitivo, o novo 2001, o novo Solaris (a versão original russa, por favor) e cheio de elementos filosóficos, Teoria da Relatividade, Kip Thorne e blá blá blá. A polêmica se deve pelas reações empolgadas que o último trabalho de Nolan despertou na crítica e no público. Não me lembro de qualquer outra produção tão equilibrada na visão geral, tão na corda bamba entre o “excelente” e o “medíocre”. Nolan saiu levemente maculado desse lance todo, já que foi acusado pela crítica de ser pretensioso demais e vazio demais – uma sentença de morte quando estamos falando do camarada que nos deu O Cavaleiro das Trevas, o melhor “filme de super-herói” da história, além dos indiscutíveis neoclássicos Memento e A Origem, todos trabalhos que primam pela qualidade das tramas.
Nem tanto céu, nem tanto inferno: Interestelar não causará em ninguém um desejo sincero de cometer suicídio, mas também não é, nem de longe, a obra-prima insuperável vendida pelos blogueiros-pop e pelos nolanetes espalhados por aí, que provocaram uma pororoca de chorume ao acusar os detratores de não terem “sensibilidade o suficiente” para entender a complexidade da trama. Não é como se fosse assim um roteiro tããããão complexo...
O último capítulo desta novela foi protagonizado pelo próprio Christopher Nolan, que aproveitou a ocasião do lançamento de Interestelar em Blu-ray para declarar em uma entrevista ao site francês Allocine que “há todos os tipos de complexidade nesse filme que o público certamente não consegue analisar assistindo apenas uma vez”, mas que respeita quem tem uma interpretação errada de sua história. Uma forma bem suave de dizer que Interestelar “não é ruim, VOCÊ É QUE NÃO ENTENDEU DIREITO, então assista de novo para sanar suas dúvidas”.
Cara, não faz isso. Não apela pro mimimi.
Sabe, as duas únicas dúvidas que afligem meu coração com relação ao assunto: a) por que raios as pessoas simplesmente não aceitam que terceiros tenham opiniões contrárias às suas?, e b) por que diabos os fanzoquinhas não aceitam que seus ídolos podem dar uma bola fora de vez em quando? Isso não é demérito.
A primeira questão é simples demais, e ao mesmo tempo tão complexa quanto as teorias científicas de Thorne que serviram de base para as ideias de Interestelar: é complicadíssimo para o ser humano admitir que sua opinião sobre qualquer assunto seja a errada. E cinema, de modo geral, diz muito ao emocional do espectador no momento em que ele está ali, em frente à tela, recebendo as imagens e construindo sua percepção do filme na cabeça. O emocional manipula o espectador e esconde os defeitos. Será fácil para você, portanto, ser “tocado” por Para Sempre Alice se você conhece alguém que sofra do Mal de Alzheimer, apenas para citar um exemplo. Mas vamos lá, o que se salva do filme: Julianne Moore. Analisando o trabalho como um todo, o roteiro é clichê, as atuações do elenco secundário são sofríveis e o enredo nem é tão interessante assim. Por outro lado, é fácil criar um vínculo e uma opinião favorável quando você se identifica. E a emoção pode mascarar um filminho bem lixo, viu...
Não me identifiquei, em momento algum, com nenhuma das ideias apresentadas por este novo trabalho de Nolan, o que me deixou livre para explorar o resultado final em suas nuances técnicas. Tudo no lugar. Mas o roteiro... Quem aceitou aquela explicação tosquíssima para a cena que culmina na órbita de Saturno, só para citar um único exemplo? E também não consigo levar a sério a explicação rasteira de “poder do amor” para o inexplicável, desculpa por ter nascido.
O problema maior, contudo, foi a necessidade de Nolan de vir a público para defender seu trabalho e afirmar que o público não foi inteligente o suficiente para acompanhar as ideias lançadas pela produção. Jogar a culpa no espectador é sempre uma saída válida, principalmente na indústria norte-americana, onde os longas são mastigados sempre que possível e parte do público não está mesmo interessada em pensar quando vai ao cinema. Isto é, nas palavras do senhor Borbs, PAUNOCUZISMO. É saber que, depois de vários trabalhos geniais em sequência, cometeu uma bela gafe e agora não sabe lidar com a possibilidade de ter seu talento (ou o ego) questionado. E jura mesmo que alguém achou Interestelar assim tão dificil de ser compreendido? Na boa, a única explicação para esta comoção é mesmo a adoração ao ídolo – vale lembrar que sites como o Rotten Tomatoes e o Metacritic, compiladores de críticas especializadas de todo o mundo, apontaram a mísera média SETE para o longa, que sequer figurou entre os vinte filmes melhores ranqueados de 2014.
Realmente, a culpa não pode ser da falta de compreensão, né?
Apenas para resumir, e para dar o recado definitivo a Christopher Nolan (sabemos que ele lê o JUDÃO) e a todos os nolanetes e os fanzoquinhas críticos-de-Facebook que não admitem e surtam quando aparece alguém com uma opinião contrária à sua: o discursinho de “você não gostou porque não entendeu” é banal, raso, ridículo até. É contra-ataque de quem não sabe argumentar. É feio. Demais.
E honestamente, pra mim, Interestelar é como a nova fase do U2, é como Guaraná sabor Açaí, é como livro do Paulo Coelho, é como a revistinha em quadrinhos do Neymar: eu não preciso assistir, ler, ouvir ou experimentar mais de uma vez para ter certeza de que não é bom. Quem sabe um dia, se o amigo Nolan aparecer com mais um Inception da vida, a gente não esquece essa gafe, né?
Mals aê. Flw vlw.
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