Reflexão sobre um acampamento de idiotas
Essa semana eu fiquei sabendo que tem meia dúzia de abobados acampados na calçada em frente ao portão principal de acesso ao quartel-general do Exército, no Ibirapuera, Zona Sul de São Paulo. Eles querem a tal “intervenção militar constitucional”, instrumento tão real dentro de uma democracia quanto um unicórnio correndo pelos pastos de Goiás em meio a milhares de cabeças de gado.
Na hora que vi esse vídeo, lembrei da carta do Henfil pra mãe dele, logo após o exílio do irmão, Betinho, decretado pela infame e genocida ditadura militar.
Posto abaixo a carta e desde já destaco que é dolorido de ler, mas é bonita, pode crer.
Mãe,
Não suporto mais a saudade sufocante do meu irmão Betinho. Minha vida segue sem sentido e sem alegrias. Sai um disco do Chico e não consigo me entregar no canto que gostaria de partilhar com ele e com a Maria. E grito de gol fica preso no peito porque me sinto sozinho no Maracanã mais lotado.
Profissionalmente? Estou bem, muito bem. Mas eu queria que eles também se orgulhassem de mim ao receberem o jornal de manhãzinha, na porta da casa deles, aqui, como todos. Faltam duas palmas, duas risadas brancas e quentinhas na hora em que as cartas são lidas ou as gracinhas são feitas na “Revista do Henfil”.
Não. Não é por causa de mulher que eu vou parar. Olho e sou olhado, beijo e sou beijado, mimo e sou mimado.
Perdoa, mãe, mas biscoito de farinha só é gostoso se mastigado olhando nos olhos do irmão que sente na mesma hora a mesma delícia.
Compreenda,
Será que se comoveram? Será que agora vão apressar a anistia como apressaram a queda da denúncia vazia depois que um casal de velhinhos se suicidou, um dia antes de serem despejados?
Se é para o bem da nação, diga ao povo que me mato.
A bênção de um dos seus filhos,
Henfil”
A vida é mais dura pra quem tem coração, pra quem se vê no outro, pra quem não finge que não sabe que muita gente sofre num sistema militar por pura arbitrariedade da dinâmica que faz um bater continência para o outro como se algo disso fizesse algum sentido.
Eu sei lá quando essas pessoas se perderam, o que faz elas se sentirem tão acuadas a ponto de acreditar que precisam de babás com metralhadoras na mão, assim como outros pensam que baluartes da moralidade como Eduardo Cunha, os Bolsonaros ou Marco Feliciano são necessários, que alguém deve levantar bandeiras que ditem como deve ser sua sexualidade, como você deve amar, o que você deve ter, o que você deve pensar, que você deve fazer tudo que anula cada vez mais o que você é.
Eu sei lá, mas eu sou mais a Gal.
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