Narcos e o poder de uma história bem contada | JUDAO.com.br

Sim, Pablo Escobar morre na segunda temporada da série. Mas, acredite: isso é o que menos importa.

Logo nos primeiros minutos da segunda temporada de Narcos, um membro do Grupo de Buscas, assustadíssimo por estar na selva, no meio da noite, procurando um dos fugitivos mais perigosos do universo, comenta que ouviu dizer por aí que Pablo Escobar é capaz de resistir a tiros e renascer das cinzas — literalmente falando, nesse caso específico.

Em pouco tempo ele aparece e, com toda a educação, informa ao Grupo de Buscas que, naquela noite, infelizmente, não poderá ser preso. Todos abaixam as armas e Escobar segue seu caminho pra longe de La Catedral.

Não sabemos até que ponto essa passagem é real (ele não resistia a tiros, pelo menos) mas também não me surpreenderia se as coisas tiverem acontecido exatamente assim. E esse é o trunfo dessa segunda temporada, o que a torna não só melhor, como mais completa que a primeira.

Segunda temporada de Narcos conta muito bem uma ótima história

Uma rápida busca no Google — e não venha me dizer que você não fez algumas enquanto assistia aos episódios, depois de trailers e coisas assim — te mostra os principais fatos da vida de Escobar, seus familiares e SICÁRIOS. É realmente muito complicado chegar completamente ignorante a uma série como essa e Narcos incluiu algumas mudanças e invenções no roteiro, se aproveitando do MITO pra contar a história dos últimos dias de Pablo Emilio Escobar Gaviria e fazer uma virada importante na série.

Começando do exato momento em que a temporada inicial acabou, seguimos Escobar pela floresta, por túneis e pelas mais diversas residências. O cerco se fechou, já que muitos enxergaram nessa fuga uma oportunidade, como Judy Moncada, o Cartel de Cali e os irmãos Castaño, grupo conhecido como Los Pepes (Perseguidos Por Escobar).

Enquanto acompanhamos o fechamento de laboratórios, o encerramento de rotas de tráfico, mortes e mais mortes e o consequente fim do dinheiro, acompanhamos também os bastidores da guerra ao tráfico, tão nojentos quanto o próprio, algo que, pra muitos, ficou faltando durante a primeira temporada.

Conhecemos e enxergamos melhor o envolvimento dos EUA nessa história toda (Los Pepes só surgem e só conseguem funcionar por conta de americanos), vemos os mais diversos limites sendo ultrapassados em busca de uma tal de justiça e já podemos e devemos imaginar o futuro da série por aí — sim, num cliffhanger muito parecido em termos de estrutura ao de Stranger Things, Narcos deixa claro que vai continuar... Caso você não tenha lido nenhuma entrevista com os produtores da série nesses últimos dias. :P

Meu único problema com o futuro é que ele talvez não seja tão cativante. Porque não existe um outro personagem no universo como Pablo Escobar, que fez Wagner Moura se superar nesse segundo ano. Cercado por uma mãe que não só o acha a melhor pessoa do mundo com acredita que ele estava certo; por uma esposa apaixonada, que “nem por um segundo” se arrepende de ter casado com ele e, assim como o Pablo de Wagner Moura, ganha muito mais profundidade na interpretação de Paulina Gaitan; e, enfim, por uma lenda que, 23 anos depois, continua mais viva do que nunca.

Deixemos isso com o amanhã. Narcos pode nunca ter sido sobre Pablo Escobar e sim sobre o tráfico de cocaína (o nome é bem claro, nesse ponto, aliás). Mas sem Pablo Escobar, Narcos não seria uma das grandes séries dos últimos tempos, deixando bem claro que uma história bem contada é infinitamente melhor e mais importante do que um final surpresa.