Depois do sucesso de Umbrella Academy, gigante do streaming supera de vez a saída da Marvel com um acordo envolvendo outra conceituada editora americana de HQs para produzir novos filmes e séries
Era uma vez um popular e consagrado serviço de streaming que se apaixonou pela maior editora de quadrinhos do planeta. Como resultado deste belo relacionamento, eles resolveram produzir juntos um belo conjunto de séries, como parte de um universo interligado que, de alguma forma, fazia sutis menções a um OUTRO universo interligado que ia muito bem, obrigado, nas telonas dos cinemas. E foi desta relação que surgiu uma combinação de bons momentos e outros não lá muito memoráveis.
O relacionamento chegou ao fim, bem naquela pegada de “não é você, sou eu“. Não é como se as séries Marvel dentro do Netflix, agora todas oficialmente canceladas (a terceira temporada de Jessica Jones, que estreia em breve, será o último suspiro da parceria), fossem imediatamente ganhar nova morada no Disney+, o serviço de streaming que a casa do Pateta lança em novembro. Tem toda uma questão contratual, em tese estes personagens da Cozinha do Inferno só poderiam ser utilizados novamente depois de um determinado período contratual. E tudo bem pra Disney/Marvel correr este risco: afinal, por que alimentar um concorrente direto?
Mas se você acha que o Netflix ficou lá, chorando as pitangas e enchendo a cara com um potão de sorvete de chocolate, se engana redondamente. Afinal, o movimento para comprar o Millarworld de Mark Millar não foi por acaso: além de colocá-la ainda que indiretamente no mercado de publicação de gibis, o acordo com o autor escocês também permite uma dezena de oportunidades em termos de séries e filmes envolvendo uma outra gama considerável de justiceiros uniformizados e seres superpoderosos.
Só que o Netflix, que não é bobo nem nada, resolveu entrar nesta de adaptar gibis pra brincar de poliamor. E resolveu flertar com outra gigante dos gibis americanos. Se a Marvel tava praticamente fora do mercado e a DC é um daqueles casos para uma noite apenas (aka o que rolou com a exibição internacional de Titans), por que não dar uns beijos por aí, só pra ver o que rola com uns outros crushes? E foi exatamente o que aconteceu quando deram de cara com a Dark Horse.
As primeiras bitocas entre as duas empresas resultaram em um par de produções com resultados variados. Tivemos o longa Polar que, cá entre nós, é um grande foda-se. Mas o que realmente deu indícios de que esta pegação gostosa podia se tornar namoro foi mesmo Umbrella Academy, que no fim correspondeu ao hype. Um recente relatório de reports financeiros trouxe números a respeito da audiência da série, uma coisa bastante incomum em se tratando de Netflix: Umbrella Academy foi visto por mais de 45 milhões de domicílios de seus assinantes, apenas no primeiro mês.
Mas além de já confirmar a segunda temporada da adaptação inspirada na obra de Gerard Way e Gabriel Bá, o Netflix deu um passo adiante e pediu pra ter um compromisso sério com a Dark Horse, inclusive já mudando o status no Facebook e tudo mais. Agora, ambas as empresas assinaram um first look deal. O que isso significa na prática? Que o Netflix tem prioridade pra dizer se quer ou não transformar qualquer uma das propriedades da editora em filme ou série para a sua plataforma de streaming. No anúncio da nova parceria, as duas companhias já deixaram claro que começaram imediatamente a explorar possibilidades de projetos futuros.
“Estamos muito empolgados por este acordo com as pessoas talentosas do Netflix”, afirmou Mike Richardson, presidente e fundador da Dark Horse Entertainment, em comunicado oficial. “Nós temos fortes relações criativas além de uma enorme biblioteca de conteúdo para trabalhar e, conforme vimos nestes projetos recentes, o Netflix é um parceiro perfeito para levar nossas histórias para fãs ao redor do mundo”. O mesmo tom veio da parte da Cindy Holland, vice-presidente de conteúdos originais do Netflix. “Nossos times já estão trabalhando em colaboração profunda com a Dark Horse para identificar projetos que vão além do mundo dos super-heróis tradicionais — nos debruçando em horror, fantasia e entretenimento para a família — e que achamos que nossos assinantes vão amar”.
Neste sentido, em termos de variedade de material, dá pra dizer que o Netflix acertou na mosca. Não dá pra saber bem, claro, como seriam as negociações, porque a Dark Horse publica MUITO material licenciado, como Alien, O Exterminador do Futuro, The Witcher, Starcraft e Avatar (até bem pouco tempo, por exemplo, eles eram responsáveis pelos gibis do Conan e de Star Wars, antes de ambos voltarem pra Marvel) mas também muita coisa bastante autoral, nas quais os autores têm total poder de apitar. Então, diferente de um Homem-Aranha ou Batman da vida, que é propriedade da editora, tem um passo adicional envolvendo o roteirista/desenhista original — o que, cá entre nós, é algo bastante justo de se fazer.
Mas digamos que Bá e Way, com seus créditos de produtores executivos, pareciam bastante satisfeitos com o que foi feito com Umbrella Academy, então talvez isso seja um ~problema menor. ;)
A lista de propriedades dentro dos domínios da Dark Horse é bastante interessante: de 300 a Sin City, dois dos pontos mais altos da carreira de Frank Miller, passando por coisas como Hellboy, O Máskara, Calamity Kate, Bad Luck Chuck, Crimson Lotus, Invisible Kingdom, Wyrd e a elogiadíssima Black Hammer.
Este último, aliás, é um caso emblemático que a gente ainda precisaria entender como seria impactado pelo acordo entre Netflix e Dark Horse. De longe um dos melhores gibis atualmente publicados nos EUA, Black Hammer tem um piloto de série de TV já sendo escrito pelo próprio criador da HQ, o roteirista Jeff Lemire. Ao lado do cocriador Dean Ormston, o cara fechou um acordo de produção com a Legendary Entertainment e seu primeiro pedido foi ter envolvimento criativo direto em cada passo do projeto, que a produtora promete transformar em um “universo multiplataforma e interconectado de personagens”.
Como a HQ sai pela Dark Horse, o Netflix poderia estar na primeira fila para negociações envolvendo esta nova série — levando em consideração, inclusive, que já existe uma parceria entre a empresa de Los Gatos e a Legendary para coisas como Perdidos no Espaço, Love e o vindouro anime de Círculo de Fogo?
Bom, isso a gente vai descobrir em muito breve. ;)
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