A nova Canário Negro de Arrow não é tão nova assim | JUDAO.com.br

Personagem que entra como parte do #TeamArrow na série pra assumir a identidade heróica da finada Dinah Laurel Lance é inspirada em outra encarnação da heroína nos gibis

Na quarta temporada de Arrow, quando Oliver Queen ouviu ao pé do ouvido a última frase de sua amiga/ex-namorada Dinah Laurel Lance, ali, em seu leito de morte, o segredo do que ela tinha dito tornou-se menor do que sua perda. Os fãs logo cravaram que nunca mais teríamos uma Canário Negro na série, que Laurel – aquela mesma que muita gente passou a odiar assim que Felicity surgiu no pedaço, é bom que se lembre – era insubstituível sob a roupa preta de couro, coisa e tal.

O lance (entendeu o que eu fiz aqui?) é que a tal frase de Laurel foi, na verdade, um pedido que ela deixou para Oliver. Aliás, mais do que isso, uma missão: que a Canário Negro fosse maior do que ela e Star City continuasse tendo sua defensora, por mais que a jovem se fosse. Com a morte de Laurel, logo trataram de especular sobre as potenciais substitutas. Sara Lance, sua irmã e primeira Canário Negro da série, era carta fora do baralho, agora firme e forte no papel de líder do time de Legends of Tomorrow. Thea Queen? A própria Felicity? Talvez a vilã Black Siren, a Laurel da Terra-2, devidamente reabilitada? Ou quem sabe uma ressurreição da personagem...?

Por sorte, os roteiristas da série não cagaram – pelo menos, não até agora – uma quinta temporada que vem caminhando de um jeito bem bacana (diferente de COF Flash COF) com nenhuma destas saídas preguiçosas. Ao contrário, aliás. Foram, isso sim, buscar uma solução inteligente na própria mitologia da DC Comics e eis que acabamos apresentados à metahumana Dinah Drake (Juliana Harkavy) e seus poderosos gritos sônicos que lembram demais o aparelho que Cisco aperfeiçoou para a Canário original.

Se a nova personagem, que até o momento é ótima como contraponto para a jornada de redescoberta do passado de Oliver que se tornou tema central deste quinto ano, vai durar, se vai vestir o uniforme da Canário e assumir a sua identidade de heroína, ainda é cedo pra dizer. Mas o ponto interessante aqui é que Dinah Drake também existe nos gibis. E sim, ela TAMBÉM já foi a Canário Negro.

A personagem apareceu pela primeira vez em Flash Comics #86, gibi publicado originalmente em agosto de 1947. Heroína de meia arrastão, botas de pirata, collant e uma jaqueta sempre aberta, Dinah foi inicialmente coadjuvante de uma história da dupla Johnny Trovoada e Relâmpago – mas, logo depois, tornou-se parte integrante da Sociedade da Justiça da América. Treinada pelo pai, o detetive Richard Drake, ela sonhava em seguir sua carreira na polícia de Gotham City. Mas, quando ele morreu graças aos problemas no coração, seus planos mudaram radicalmente. De dia trabalhando como uma pacata e inocente florista, à noite a moça cobria os cabelos morenos com uma peruca loira e saía por aí vestida de Canário Negro pra estapear os criminosos.

Sumida durante grande parte dos anos 50, a Canário seria resgatada, ao lado de diversos companheiros da Era de Ouro, ao longo da década seguinte, vivendo em uma espécie de Terra paralela. Casada com o eterno companheiro Larry Lance, ela decidiu se mudar para a chamada “Terra Ativa”, o lugar onde viviam os personagens correntes da chamada Era de Prata, assim que o amado morreu durante o ataque da estrela consciente Aquarius (NÃO PERGUNTE). Já em “nossa” realidade, a moça conheceu e se envolveu com o Arqueiro Verde, se tornou convidada especial frequente do gibi do Batman e até entrou pra Liga da Justiça.

Para tentar “corrigir” a diferença de idade entre Dinah Drake e seus colegas de equipe/namorado (não se esqueçam, estes eram os gibis dos anos 60, como assim uma mulher mais velha namorando um garotão, que absurdo?), inventaram uma trama muito louca: ela e Larry tiveram uma filha. A garota tinha o chamado Grito do Canário, um poder incontrolável e com grande potencial de destruição. Sem uma cura, a menina foi mantida em animação suspensa na Quinta Dimensão, mas continuou crescendo. As memórias dos três sobre o ocorrido foram apagadas, para evitar sofrimento (como se os pais acharem que a menina morreu não fosse sofrimento o bastante). Enquanto isso, Dinah foi diagnosticada com uma doença incurável, um câncer causado pela luta contra Aquarius. E aí, então o Superman e Relâmpago decidiram transferir suas memórias para o corpo da filha, agora adulta.

Que solução brilhante, não é mesmo? Pronto, toma aí um rejuvenescimento no capricho!

Só que aí veio a Crise nas Infinitas Terras. E alguém sacou o quão insólita era esta história toda. Então, a mudança ficou assim, mais simples: Dinah Drake foi a primeira Canário Negro. Atuou na SJA, casou-se com Larry Lance, teve a floricultura, aquela porra toda. Aí, ela envelheceu, largou esta vida de perigos, o casal teve uma filha, uma menina chamada... Dinah Laurel Lance.

Sim, acho que você já sacou aí. Laurel – assim batizada em homenagem a uma bibliotecária de quem sua mãe se tornou amiga – vivia rodeada de heróis, amigos de Dinah, por todos os lados. Larry ainda era conhecido do Comissário Gordon, pra completar a história. Assim, a menina cresceu querendo muito tornar-se uma justiceira uniformizada, como a mãe, para honrar o seu passado de glórias. Mas a primeira Canário desaprovava, achava que o mundo tinha se tornado frio e obscuro demais. Só que sua filha nasceu com o tal poder do grito sônico, que ela jamais teve. E, mesmo contra a vontade de sua mãe, Laurel foi treinada (por caras como Ted Grant, o Pantera) e em breve se tornaria a segunda Canário Negro.

Viriam então a Liga da Justiça, o romance com o Arqueiro Verde (que, agora, era mais velho do que ela, reparem só a ironia), o relacionamento com as Aves de Rapina...

Mas calma que o negócio fica um pouquinho mais complicado depois... Especialmente, quando rola o evento chamado Flashpoint, aquele mesmo que resultou nos Novos 52.

A mudança de cronologia transformou a Canário novamente em Dinah Drake, filha de uma mãe solteira adolescente, entregue num orfanato aos quatro anos de idade. Uma pequena encrenqueira, pulou de lar adotivo para lar adotivo até que, aos dez anos, decidiu morar nas ruas de Gotham City.

Descoberta por Desmond Lamar, um ex-agente das forças especiais, acabou sendo cuidada e treinada em troca de comida e um lugar pra dormir, em seu dojo de artes marciais. Anos mais tarde, foi descoberta por um certo John Lynch e transformada em operativa do grupo de agentes secretos Time 7, uma mistura de personagens da DC e da Wildstorm. Foi ali, como parte do grupo, que ela conheceu seu futuro marido, Kurt Lance, além de ser testada como “positiva” para o metagene, enfim manifestando seus poderes do grito sônico superpotente.

Fazendo uso do velho expediente do “homem amado dado como morto mas que mais tarde volta como vilão”, a DC ainda a usaria para ser membro reserva da Liga da Justiça e fundadora oficial das Aves de Rapina. Perceba aqui, no entanto, que em NENHUM momento a garota se envolveu com o Arqueiro Verde. Na verdade, eles mal chegaram a se conhecer.

A reaproximação – muito provavelmente incentivada pelo renovado sucesso da personagem em Arrow, aliás – começaria apenas a partir de Rebirth. Na primeira edição da saga, o velocista Wally West reflete, lá do lado de fora do universo, sobre como o casal tinha um destino junto, que deveriam ter sido marido e mulher, mas graças às alterações na linha do tempo, tudo isso se tornaram apenas possibilidades. Mas em Green Arrow: Rebirth #1, os dois se reencontram e, BOOM!, algo acontece ali. O casal se envolve e, alguns números depois, descobrimos que ela na verdade se chama – que rufem os tambores – Dinah Drake-Lance. É, isso aí, uma mistura dos dois nomes, que só aconteceu quando a primeira Canário se casou com Larry Lance.

Bagunçou a sua cabeça? Se você costuma acompanhar os gibis da DC e da Marvel, é preciso admitir que esta parada é fichinha de entender.

O que fica aqui como potencial desdobramento interessante para a já confirmada sexta temporada de Arrow, todavia: a possibilidade de termos um Arqueiro Verde enfim exorcizado dos fantasmas de seu passado, no fechamento do ciclo de cinco temporadas, e tendo ao seu lado uma Canário Negro cheia de personalidade, durona, divertida, que assim como sua contraparte dos gibis, dá menos mole pro Oliver do que pra bandidagem e nunca leva desaforo pra casa.

Eu gosto da ideia. :D