Parece que o Frank Miller foi mesmo substituído por um Skrull | JUDAO.com.br

Sabe aquelas merdas todas que ele falou e escreveu nos últimos anos? “Eu não estava pensando claramente quando disse aquelas coisas”

Em 2014, a gente disse aqui que “desde a famigerada HQ O Cavaleiro das Trevas 2 que tenho uma teoria sobre Frank Miller: o verdadeiro foi abduzido e tacaram um Skrull no lugar”. Era uma brincadeira com o fato de que o escritor competente de outrora virou uma verdadeira caricatura criativa nesta forçada continuação de seu clássico. Mas vale, obviamente, para o seu comportamento que mudou substancialmente de lá pra cá, transformando o roteirista questionador em um reacinha assustador.

Tamos falando de um cara que disse que os jovens do movimento Occupy, que tomaram o centro financeiro de Wall Street para protestar contra a situação social e econômica dos EUA, deveriam estar no exército, de armas em punho. “Uma matilha de ladrões e estupradores. Acorde, sua escória. A América está numa guerra contra um inimigo implacável”, afirmou ele em seu blog, hoje fora do ar. “Talvez, entre ataques de autopiedade e todos os outros petiscos saborosos de narcisismo que vocês têm experimentado em seus pequenos mundos confortáveis e protegidos, vocês tenham ouvido termos como a Al Qaeda e o islamismo”. Se você não reparou no erro, em especial neste último trecho, é importante ler de novo.

Tamos falando de um cara que escreveu Holy Terror, gibi sanguinolento publicado em 2011 no qual o herói mascarado (originalmente pensado para ser o Batman MAS NÉ) se depara com os estereótipos muçulmanos mais óbvios e babacas da face da Terra, no que talvez seja uma das HQs mais equivocadas, nojentas e ofensivas a terem o luxo de ganhar uma impressão em papel. Logo, você percebe claramente porque que essa história dele querer escrever o Capitão América e, mais tarde, a sua confirmação no papel de roteirista de Superman: Ano Um, eram todas umas ideias BEM MERDA.

Com base em tudo que ele andou falando e fazendo nos últimos anos, portanto, dava pra dizer que, olha, talvez ele tivesse mesmo sido mesmo trocado por um Skrull. E, bom, talvez até ele mesmo concorde com isso, de alguma forma.

Numa entrevista recente pro Guardian, o autor fez o possível pra deixar claro que hoje é outra pessoa. “Quando olho pros meus trabalhos antigos, consigo sentir e lembrar o que eu estava sentindo na época. E quando olho pra Holy Terror, o que eu não faço com muita frequência, eu sinto a raiva pingando daquelas páginas. Tem lugares nos quais ele é sanguinário além do que se possa acreditar”. Mas ele se arrepende? “Olha, não quero voltar no tempo e começar a apagar os quadrinhos que fiz. Não quero apagar capítulos de minha própria biografia. Mas eu não seria capaz de fazer aquele gibi de novo”.

Ele se diz bastante feliz em inverter os valores da “família branca e heterossexual” e afirma que não defende mais aquela visão sobre o Occupy Wall Street. “Eu não estava pensando claramente”. Portanto, qual seria a sua posição sobre um certo sujeito que ocupa a cadeira principal da Casa Branca atualmente? “Homens de verdade assumem suas carecas”, afirmou, ostentando sua atual falta de cabelos escondida por baixo do chapéu, em referência ao esforços que o Laranja faz pra esconder as suas.

Frank Miller sorrindo. QUEM DIRIA.

Ano passado, a gente lembrou que há quem defenda que, nos últimos anos, depois de tudo que APARENTEMENTE aconteceu com ele (porque, apesar de jamais ter tocado no assunto publicamente, a degradação da aparência física de Miller é mostra clara pra qualquer um de que o cara passou ou ainda passa por algum problema gravíssimo de saúde), ele teria mudado. A ficha teria caído.

“Certa vez, brinquei com o Alan Moore. Eu fiz Cavaleiro das Trevas, ele fez Watchmen, e logo depois começaram a fazer este monte de heróis sombrios”, disse ele, pro Deadline, depois de se derreter em elogios aos filmes da Mulher-Maravilha e do Homem-Aranha. “Eu disse ‘Alan, a gente arruinou tudo. Ninguém mais está se divertindo’. E ele disse ‘você tá certo, Frank’. Meu sentimento agora é que o cinismo puro é um refúgio, um lugar para onde os covardes vão. Você tem que repelir isso com idealismo e propósito. O trabalho que estou planejando pro futuro... as pessoas podem ficar desapontadas com o quão não cínico ele é”.

As pessoas mudam? Mudam sim. AINDA BEM. Elas podem evoluir, crescer, amadurecer, aprender. Sabe esta coisa toda de desconstrução via empatia? Bem por aí. Este site que você lê, neste exato momento, é prova viva e PULSANTE disso. Eu quero, de verdade, acreditar no Miller. Adoraria dar uma segunda chance. Confesso que ainda mantenho os dois pés atrás, ainda me mantenho bastante cínico. Mas que bom que temos a possibilidade de um “mas” aqui.