Estreia da segunda temporada tenta usar os erros da primeira como trunfos. Só precisa saber se isso é suficiente…
SPOILER! Quando vi o episódio piloto de Gotham em plena San Diego Comic-Con de 2014, não dava pra esconder minha empolgação. Era a chance de misturar o procedural tão usado na TV dos EUA com o submundo corrompido e grotesco da futura cidade do Batman, sem se preocupar com amarras na realidade ou pisar no calo de alguém.
Em algum momento, essa minha empolgação se perdeu – junto com a própria série. Os primeiros episódios continuaram investindo nessa coisa do procedimento numa cidade ainda com seus futuros maiores vilões engatinhando, mas não funciona muito por conta dos roteiros que chegavam a ser até inocentes. Depois, o showrunner Bruno Heller resolver acelerar a construção dos vilões, apresentando quase que semanalmente nomes conhecidos dos fãs de quadrinhos ou das adaptações do Homem-Morcego.
Certos pontos não davam liga, como as primeiras aparições do Jerome (que seria o “proto-Coringa”) e do Jonathan Crane (Espantalho), enquanto personagens como Fish Mooney, Barbara Gordon e Renee Montoya perdiam qualquer sentido. Tanto é que Fish acabou morta, Barbara pirou numa inexplicável série de três episódios (!) e a Montoya sumiu como se nunca tivesse existido.
Do fim da primeira temporada até agora, o que se viu foi Bruno Heller dando entrevistas meio que se explicando pelos furos daqueles episódios, causados, de acordo com ele, pelo fato da série ter tido algumas pausas e mais episódios do que o esperado, mas que agora seria diferente. E mais: que este segundo ano seria levado pelos personagens, com os malucos tomando controle do asilo. “Essa temporada será maior, mais colorida, mais intensa, mais empolgante”, disse o showrunner na SDCC deste ano.
Em Damned If You Do..., exibido ontem (21) nos EUA, digamos que a série entrega bastante disso – só que o asilo não é necessariamente Arkham. O hospício é Gotham por inteira.
Jim Gordon, o nosso protagonista, tá quase no fundo do poço, vestindo uniforme (como o Ben McKenzie já fez nos tempos de Southland, aliás) e servindo de guardinha de trânsito. Harvey Bullock (Donal Logue), o velho parceiro, não resistiu à tanta humilhação e foi trabalhar de bartender. Só que Jimbo segue firme e forte – e, sem alternativa, o comissário Loeb acaba por demití-lo.
Quando você é um funcionário dedicado (ok, que se excede às vezes, mas que faz seu trabalho) e é tão humilhado assim, o que você faz? Fala com o RH ou, sendo um policial, com a Corregedoria. Mas isso é Gotham. Jimbo vai falar logo com o Pinguim.
E o Oswald Cobblepot de Robin Lord Taylor confirma mais uma vez que foi o grande vencedor da primeira temporada. É ele quem manda na cidade, depois das quedas de Falconi e Maroni, mandando matar, desmatar e cobrando dinheiro. Não é mais alguém pra quem você quer dever um favor, não é? Justamente.
Jimbo, claro, ouve uma proposta indecente, de ser um cãozinho do vilão e cobrar dinheiro pendente de um outro gangster local em troca do velho emprego. Claro, ele não quer fazer isso – só que muda de ideia após um ~aconselhamento com ninguém menos que Bruce Wayne. “Deixa de mimimi, o que é fazer uma merda se é pra voltar pra polícia e limpá-la?”, lança (nas minhas palavras) Brucinho, já mostrando uma evolução do personagem – só não me parece, veja bem, uma fala do Batman. Mas ele tem uma longa estrada até lá...
Então o nosso herói vende a alma, faz o trabalho sujo e o Pinguim dá aquela forcinha pra ele voltar a ser detetive – o que envolve ameaçar o comissário Loeb. Só que fica aquela coisa: em certo momento, o vilão diz que o comissário não tem podres escondidos. Porra, desde o começo da série fica claro que, se ele não é corrupto, ele fecha os olhos pra corrupção dos outros. Como esse cara não tem nenhum podre? Enfim...
De volta ao GCPD, Gordon agora não só tá devendo mais um favor, como também mais gente sabe que ele está trabalhando ao lado do Cobblepot, mesmo que contra a vontade. Fica difícil imaginar como, em algum momento, ele vai se tornar um comissário de polícia acima de qualquer suspeita.
Claro, a série pode seguir um caminho novo pra construção de Gordon – como está fazendo com a Barbara Kean, de apagada noiva (e quase-futura esposa do Jimbo) a uma maluca psicótica. Sou extremamente crítico à essa mudança, que aconteceu muito por falta de química do casal no começo da série e pela inabilidade dos roteiristas lidarem com isso.
Depois de contar que matou os próprios pais pra Leslie Thompkins (Morena Baccarin, que agora é do elenco regular), Barbara foi pra Arkham. Bom, nem tudo é perdido no asilo: além de ela virar em pouco tempo a fodona de lá (!), ainda pode usar um uniforme-vestido listrado em preto e branco. Black and White are the New Orange.
Falando nessas cenas dos malucos de Arkham, o diretor do episódio, Danny Cannon, resolveu investir numa câmera na diagonal, pra dar aquela ideia de desequilíbrio mental. Legal. Pena que me lembra a série do Batman dos anos 60 e os filmes do Joel Schumacher. Não é legal.
Eventualmente, Barbara e outros bandidos de Gotham (Arnold Dobkins, Aaron “Amídala” Helzinger, Jemore, Richard Sionis e Robert Greenwood) saem da prisão-hospício por um plano do Theo Galavan junto da irmã, Tabitha Galavan. Os leitores dos quadrinhos vão reconhecer o nome dela, afinal ela é a vilã Tigresa. Mas... Não faz muito sentido ali essa união toda. Muito menos o Galavan já matar Sionis, que, por conta do sobrenome, tem ligação com o vilão Máscara Negra dos quadrinhos. Poderiam ter explorado mais o personagem ali. De qualquer forma, fica claro também que estar ao lado desses malucas transformará Barbara de vez numa vilã.
No geral, dá pra dizer que Damned If You Do... é um bom episódio – principalmente por aceitar os erros da primeira temporada sem querer resolvê-los (o que seria impossível), mas sim os usando para criar uma história empolgante a partir daí. Também acerta por mostrar que, enquanto Gordon vai se afundando na própria lama, a polícia vai começando a ganhar uma esperança na figura da nova comissária, Sarah Essen, e no futuro novo capitão de Jimbo, Nathaniel Barnes (que será interpretado pelo Michael Chiklis nos próximos episódios). “A ascensão dos vilões dará espaço para os caras bons se juntarem”, garantiu McKenzie também na Comic-Con.
Falando nesses próximos episódios, ainda é prometida uma nova morte. Não será como a de Sionis, que foi meio que rápida e inesperada – e pouco sentida. Será de alguém importante, que irá mexer com a cabeça de James Gordon, servindo de motivação pra ele no resto da temporada.
Hmmm... Barbara? Bullock? Loeb? Comissária Essen? Montoya? A lista de defuntos em potencial é grande...