Geoff Johns garantiu que o tal do DC Extended Universe é “100% conectado”… Mas essa obsessão por continuidade não existe mais pra eles nos cinemas. E que belíssima notícia é essa.
“Isso não é uma bagunça. Foi intencional”. Pode parecer um tanto difícil de acreditar depois de c e r t o s f i l m e s, mas estas são as exatas palavras de Diane Nelson, a poderosa chefona da DC Entertainment, quando questionada pelo Vulture a respeito do tempo que demorou pra ter a turma da DC Comics (como Geoff Johns) trabalhando mais intensamente ao lado da galera dos cinemas – diferente do que rola desde sempre na TV e joguinhos, por exemplo.
A resposta veio no primeiro dia da San Diego Comic-Con deste ano, em uma mesa redonda com executivos da DC. Pela conversa, a ideia era alinhar os próximos passos dos DC Filmes a partir de agora usando “colaboração” como palavra chave — do tipo que não rolou, por exemplo, com Homem de Aço, um filme com assinatura da DC mas sem as suas principais impressões digitais. “Geoff leu o roteiro e ficou preocupado com a falta de luz, de humor, levando em consideração quem o personagem é”, afirmou uma fonte envolvida na produção. “Ele levantou este ponto mas, naquela situação, a administração responsável pelo filme não se importava com o que Geoff Johns achava”.
“Deu algum trabalho, penso eu, pra gente se alinhar com o estúdio e os cineastas”, admitiu Johns na tal mesa redonda. O primeiro case de sucesso, como você bem pode imaginar, é justamente o filme da Mulher-Maravilha. E foi JUSTAMENTE a estreia solo de Diana que fez com que a DC repensasse toda aquela estratégia de universo compartilhado, de que tudo precisa necessariamente estar conectado.
Assim que a matéria do Vulture foi publicada, na última sexta-feira (29/9), o que não faltou foi site colocando tudo fora de contexto, o que forçou o próprio Johns a “se explicar” no Twitter, diante da SÚPLICA de um fã desesperado.
Em resumo: sim os filmes dos super-heróis da DC ainda se passam dentro de um universo único. Eles não estão abandonando o conceito de compartilhamento, mas estão, digamos, querendo tirar a ênfase disso aí. “Nossa intenção, certamente, é usar a continuidade para ajudar a certificar que nada seja tão divergente a ponto de não fazer sentido, mas não tem nenhuma insistência em uma linha global de história ou interconectividade nesse universo”, explica Diane Nelson.
Geoff Johns, Diane Nelson, Henry Cavill, Jim Lee e Dan DiDio comemorandoos 75 anos do Superman em um mundo sem Golpe, sem Trump e, principalmente, sem Batman VS. Superman
Você conseguiu sacar o que a moça explicou? “Um filme não vai mais ser sobre outros filmes”, complementa Johns. “Alguns filmes até conectam os personagens, todos juntos, tipo a Liga da Justiça. Mas vejam o Aquaman, que sai em 2018. Nosso objetivo não é conectá-lo com todos os outros filmes”. E aí, Diane finaliza: “Seguindo em frente, você verá um universo cinematográfico da DC sendo um universo, mas um que vem do coração do cineasta que está dirigindo cada filme”.
É como o filme da Mulher-Maravilha bem ensina. Tem lá aquela conexão com o Batman, o lance da foto. Ou seja, é uma história que faz parte de um contexto geral. Mas a principal preocupação ali é ser UM BOM FILME. É contar uma história fechada, com começo, meio e fim. É funcionar como uma aventura única e não como um capítulo. Se não for pra ter cenas pós-créditos, tá bom, que seja. Não é um filme criado apenas e tão somente para servir ao filme maior de super-heróis que vem depois – como se percebe claramente que foi o caso do encontro do Homem de Aço e do Cavaleiro das Trevas, que é menos um filme e mais meramente um prólogo. E dos ruins — mas isso não vem ao caso agora.
(E, claro, essa história não vale pro novo “selo” que será criado, no qual um filme solo do Coringa existirá. É literalmente um outro universo, ali.)
A notícia não é apenas boa, ela é ÓTIMA. Porque esta preocupação excessiva com montar um imenso quebra-cabeças pode não apenas tirar o foco de quem tiver fazendo o filme mas também a sua liberdade criativa, como muita gente sempre acusou o Marvel Studios de fazer, ao se tornar obcecada o suficiente pelo controle para não deixar que os diretores fizessem o seu trabalho — ainda que o resultado, quando essa liberdade existiu, foi brilhante, como os dois Guardiões da Galáxia, Homem-Formiga e até mesmo Homem de Ferro 3, além do VINDOURO Thor: Ragnarok que, apesar de obviamente se conectar mais do que esses filmes, tem toda uma visão Taikawaititisca.
Tem um lugar, sabe, no qual este conceito é levado em consideração há décadas, sabia? Nos gibis. É, gente, nos mesmos gibis de onde esta caralhada de heróis vieram. O Homem-Aranha já fez parte dos Vingadores, é amigão do Quarteto Fantástico, troca ideia com o Demolidor? Sim para todas as questões. Mas, ainda assim, por mais que as pequenas referências estejam aqui e ali, apesar do Cabeça de Teia fazer parte de um cenário maior, suas histórias têm liberdade para ser SUAS. Deu a treta em NY? Ele resolve. Ele não precisa prestar satisfação pra ninguém.
“Ah, mas uma ameaça tão grande, onde estavam os outros heróis que não viram e não vieram ajudar?”. Eles estavam... em outro lugar. Foda-se onde eles estavam. Isso vale pra Capitão América, Batman, Superman, Capitã Marvel, Flash, Homem de Ferro, Mulher-Maravilha... Não tem qualquer necessidade deste tipo de explicação lógica e racional em uma realidade na qual um Deus do Trovão nórdico senta pra comer um shawarma com uma espiã russa, um supersoldado americano, um arqueiro que acertaria numa mosca a dois quilômetros de distância e um monstrengo fruto de um experimento radioativo. Sacou?
Marvel, DC, tanto faz. O que a gente quer delas são BONS FILMES. E se pra isso eles vão precisar esquecer que o restante dos super-heróis do seu universo existem, eu aceito. Topo. Vamo que vamo. Onde eu assino?