O mundo nunca mais foi o mesmo. Nem o dele, lá dentro dos gibis, nem o dos fãs, aqui fora.
Os anos 70 começaram controversos para o Homem-Aranha. Drogas, seis braços, mudanças na equipe criativa... Só que poucos imaginavam o que estava por vir na era Conway-Kane-Romita.
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Gerry Conway, que tinha 19 anos quando assumiu os roteiros de The Amazing Spider-Man, era audacioso como qualquer jovem. Para o arco de histórias que se seria publicado nas edições 121 e 122 da revista, o roteirista planejou aquilo que nunca havia sido pensado até o momento: a morte de Gwen Stacy.
Gwen era praticamente a “namoradinha” de todos os fãs do Aranha. Não havia um leitor do gibi que não gostasse dela. Além disso, matar personagens importantes ainda era uma prática incomum, que não tinha espaço nos quadrinhos tradicionais. Stan Lee, que havia criado a personagem e não era mais o editor-chefe da Casa das Ideias desde o ano anterior, estava em algum lugar na Europa e não foi ouvido antes da publicação da história. “Agora você pode entender porque nunca mais voltei para aquele continente”, afirmou The Man na San Diego Comic Con de 2006.
Na história chamada “The Night When Gwen Stacy Died” (A Noite em que Gwen Stacy Morreu), Norman Osborn finalmente recobrou a memória perdida há tempos, relembrando que ele era o Duende Verde e que Peter Parker era a pessoa por trás do capuz do Homem-Aranha. Descontrolado, Osborn passa a acreditar que Parker é o responsável por sua ruína financeira e também pelo vício de drogas do filho, Harry Osborn. Ao vilão restava apenas a vingança contra o homem que fez mal para a sua família.
O Duende então sequestra Gwen Stacy, que é levada para a Ponte George Washington (desenhada como a Ponte do Brooklyn, em um erro homérico do Gil Kane) durante a batalha épica que se segue. É aí que o vilão faz um dos seus piores atos, jogando a desacordada Gwen do alto de uma das torres da ponte. No desespero, o Aranha tenta salvar a namorada com suas teias, mas ela retorna morta ao alto da ponte.
Ao ver sua amada morta, Peter passa a se culpar, achando que o fato de ter parado a queda de Gwen causou a quebra do pescoço da moça. Verdade ou não, foi essa a versão noticiada pelo Clarim Diário, que omitiu o fato que a própria queda em si pode também ter matado Gwen Stacy. Era mais uma colaboração de Jameson para a já arranhada imagem do herói aracnídeo.
Tomado pela raiva, o Homem-Aranha foi atrás de Osborn para buscar vingança. Em outra grande briga, o Duende jogou o seu planador contra Parker, mas o aparato acabou por atingir o próprio vilão e matá-lo. Como não poderia deixar de ser, Peter Parker passou a se culpar por (quase) toda a vida pela morte do pai do melhor amigo.
A história da morte de Gwen Stacy influenciou praticamente tudo que foi feito nos quadrinhos nas décadas seguintes e é hoje considerado por muitos como o fim da Era de Prata e início da Era de Bronze dos Quadrinhos. Para outros, este é o começo da chamada Era Marvel.
A morte de Gwen também foi recontada inúmeras vezes, sendo até tema central da última edição da cultuada minissérie Marvels, de Kurt Busiek e Alex Ross.
Outra conseqüência da morte de Gwen Stacy foi a maior aproximação de Peter Parker e Mary Jane. Até aquele momento, Parker via MJ apenas como uma moça fútil, que pensava mais na carreira de modelo e em festas. Como foi Mary Jane quem mais apoiou Parker naquele momento difícil, ele passou a ver a amiga de forma diferente, como nunca havia acontecido.
É claro que a história de apenas duas edições teve ainda mais conseqüências. Já com Ross Andru desenhando para The Amazing, Conway introduziu dois novos personagens na mitologia do Aranha e que estavam intimamente ligados à história de Gwen: o Justiceiro e o Chacal.
O Chacal era, na verdade, o Dr. Miles Warren, professor da Empire State University que estava secretamente apaixonado por Gwen Stacy. Revoltado com a morte da amada, Warren passou a tramar uma vingança contra o Homem-Aranha usando aquilo que mais entendia, o DNA.
Primeiramente, Warren combinou o seu próprio DNA com o de um chacal, ganhando assim enormes poderes. Depois convocou Frank Castle, conhecido como o Justiceiro, para matar o Aranha. Essa foi a primeira aparição do herói da caveira nos quadrinhos, que foi um grande sucesso e motivou até uma revista própria para o personagem.
Como o Justiceiro falhou em derrotar o Aranha, o Chacal passou para o seu pior plano: através de amostras de sangue, o vilão clonou Gwen Stacy e o Homem-Aranha. Foi aí que, por motivos óbvios, ele descobriu que o herói era na verdade Peter Parker.
Pensando que era o verdadeiro Peter Parker (já que ele tinha todas as memórias do original) e manipulado pelo Chacal, o clone enfrentou o original Homem-Aranha em uma batalha em que não haveria vencedores. No final, aquele que pensava ser o verdadeiro Aranha ganhou a briga, jogando o clone na chaminé de uma fábrica. O Chacal também acabou morrendo, no que se pensava ser o fim da Saga do Clone.
Dali para frente muita coisa aconteceu. Harry Osborn se transformou no segundo Duende Verde e se envolveu com Liz Allan, a Tia May sofreu um ataque cardíaco, Peter Parker se formou na faculdade e, em Julho de 1978, ele pediu Mary Jane em casamento, mas ouviu um sonoro não. As equipes criativas também mudaram constantemente, o que causou grandes variações na qualidade das histórias. Isso já nem importava mais, pois o Homem-Aranha era o grande sucesso da Marvel Comics.
Uma curiosidade dessa época é o Aranha-Móvel, que é pouco conhecido dos fãs de hoje. Na edição 130 de The Amazing Spider-Man, uma fábrica de automóveis deu um simpático buggy ao Homem-Aranha com a idéia de promover o veículo entre o público. Infelizmente para a Corona Motors, responsável pelo carro, o Aranha nunca se preocupou com o Aranha-Móvel, que acabou controlado pelo vilão Consertador e depois destruído.
Antes de terminar a década de 70, o Homem-Aranha conheceu uma nova companheira: a Gata Negra, que surgiu pela primeira vez em Julho de 1979. Criada por Marv Wolfman e Keith Pollard, a heroína se tornou um personagem recorrente nas duas décadas seguintes.
Assim terminava a década de 1970 para o Amigão da Vizinhança, mas muita coisa estava por vir nos anos seguintes.
Artigo originalmente publicado em 26 de Abril de 2007