O Dr. Estranho dos cinemas poderia ter sido ainda mais estranho | JUDAO.com.br

Imagina o que Neil Gaiman e Guillermo Del Toro poderiam ter feito com o personagem? Então, isso poderia ter acontecido…

Dizem que toda a unanimidade é burra, mas quem disse isso provavelmente não conhecia Neil Gaiman. No mundo da cultura pop, é quase impossível encontrar quem não goste dos trabalhos do quadrinista, escritor e jornalista, com suas viagens líricas e oníricas. Também não dá pra negar a paixão do diretor, produtor e roteirista Guillermo del Toro. É alguém que bota o coração naquilo que tá fazendo, dando ao mundo visões que são, ao mesmo tempo, perturbadoras e belas – como O Labirinto do Fauno e o recente A Colina Escarlate.

Imagine então juntar esses dois pra fazer o filme do Doutor Estranho, um dos mais incomuns personagens da Marvel, aquele capaz de unir em um só manto o lado da magia e o dos super-heróis. E isso quase aconteceu. QUASE.

Não, não há uma relação direta com o filme do Dr. Estranho que a Marvel Studios está gravando neste momento. Na verdade o projeto é mais antigo e, pelo que foi revelado esses dias no Twitter pelo próprio Gaiman – que escreveria o roteiro do longa, que seria dirigido pelo Del Toro -, não houve interesse pelo estúdio.

Uma das primeiras vez que o Gaiman falou sobre isso foi ainda em 2008, pro Bleeding Cool. Na época, Gaiman contou que passou três semanas no set de Hellboy II, mencionou que estava conversando com a Casa das Ideias sobre um filme do Estranho e o amigo diretor disse na hora que tava dentro.

Naquela oportunidade, o próprio Gaiman não acreditava que o filme fosse sair tão cedo, tudo porque Del Toro tinha dois O Hobbit pela frente e ainda um “filme pessoal”, que ele achava que seria Hellboy 3. “O ponto é que provavelmente teremos que esperar uns quatro anos para Guillermo estar livre para fazê-lo, e eu não tenho totalmente certeza se quero fazer isso sem ele. Vamos ver...”, disse Gaiman naquela oportunidade.

Na mesma época, num papo com a Empire, Del Toro contou um pouco dessa visão que os dois tinham para Stephen Strange: “Esse é um personagem interessante, porque você pode definitivamente torná-lo mais na linha do detetive/mágico, nos moldes do que era feito em Weird Tales, por exemplo... A ideia de um personagem que realmente se dedica ao oculto de uma forma que não seja como em Arquivo X, onde o sobrenatural seja tido como coisa certa. Isso é interessante... Mas eu não usaria o uniforme!”.

Bom, sabemos que a adaptação do Tolkien foi pro Peter Jackson e que Hellboy 3 até hoje não saiu. O “projeto pessoal”, no final das contas, virou Círculo de Fogo. Foram cinco anos sem um filme dirigido pelo cara. Foram inúmeros projetos que não deram certo no meio desse caminho, então tempo é algo que não faltou... Faltou realmente a Casa das Ideias ficar interessada, mesmo.

Em 2008 o Universo Marvel estava começando nos cinemas. Foi quando rolou o primeiro Homem de Ferro e O Incrível Hulk, com roteiros mais pé-no-chão (na medida do possível para um filme de super-heróis). O sucesso desses filmes deu um norte e a Casa das Ideias já colocou pra funcionar a máquina chamada Os Vingadores, com tudo que fosse acontecendo a partir daí servindo como ponte para o filme d’Os Maiores Heróis da Terra.

É difícil acreditar que esse Dr. Estranho sem uniforme, se envolvendo no oculto como uma revista pulp dos anos 40/50, se encaixaria nesse panorama. Seria muito menos “super-heroico” do que tudo o estúdio fez até hoje.

Em algum momento de 2012, a ideia já tinha ido pro limbo. Inclusive, o Del Toro chegou a falar pro Collider que tudo não passava de um projeto pessoal dele com o Gaiman. “A Marvel nunca ouviu falar sobre o desenvolvimento [do filme], nem eu”. Porém, pelo que disse o Gaiman em 2008 e no Twitter ontem (30), havia sim uma conversa – por mais que fosse, como se diz nesses casos, um “pitch”, ou uma apresentação da ideia.

Só que o Estranho tava lá no final da lista de prioridades...

Del Toro

Aquele não era o tempo, simples assim. A Casa das Ideias primeiro apresentou a tecnologia, os confins do cosmos, os Inumanos e só agora tá chegando na magia. E nem me venha falar dos Deuses Nórdicos, afinal vem dos quadrinhos toda uma explicação com base científica para onde eles vivem e o porquê de eles envelhecerem lentamente. Também é de se esperar que a versão dos cinemas do Stephen Strange, interpretada pelo Benedict Cumberbatch, seja mais próxima daquela tradicional dos gibis, que vive entrando e saindo dos Vingadores.

Mas não é só isso. Essa nunca foi a dupla dos sonhos da Marvel, vamos combinar, ainda que possa ser a minha ou a sua. Nos últimos filmes, a Marvel tem escolhido diretores que são, digamos assim, menos conhecidos — e, por causa disso, se subordinariam mais facilmente aos desejos dos produtores e do estúdio, evitando problemas como os de Homem-Formiga e Edgar Wright.

No caso do Doutor Estranho, a cadeira mais importante é ocupada por Scott Derrickson que, apesar de já ter 10 anos de trajetória e ter dirigido O Exorcismo de Emily Rose e O Dia em que a Terra Parou, tá claramente longe do reconhecimento e poder de barganha de Gaiman e Del Toro. Ele vai pensar duas vezes antes de comprar uma briga e perder aquele que pode ser o filme da vida dele.

Mas, quer saber? Eu botaria Neil Gaiman e Guillermo Del Toro numa série, ao estilo de Demolidor e Jessica Jones. Menos pressão no resto do Universo Marvel, mas liberdade, tempo de tela... E nem falo do Estranho, já que esse já tem um filme pra chamar de seu. Talvez o Doutor Druida? Ou o Irmão Vodu? Hellstorm?

É, sonhar não custa nada...