O futuro do passado da Turma da Mônica | JUDAO.com.br

Mauricio de Sousa Produções muda modelo de produção e, a partir de agora — MAIO DE 2015, passa a creditar os quadrinistas diretamente nas HQs publicadas nos gibis mensais

A Mauricio de Sousa Produções sempre foi bombardeada por, na enorme e esmagadora maioria dos casos, não creditar os quadrinistas que criam os gibis mensais do estúdio. Não que os nomes da equipe criativa fossem completamente ignorados – era só olhar o “Expediente”, aquela última página da revista, pra encontrar os nomes de todos os roteiristas, artistas, arte-finalistas e capistas. Todos. Sem distinção de quem fez o que, de quem efetivamente contribuiu pra aquela edição e de quem é o mérito de cada uma daquelas histórias, além do próprio Mauricio, cuja assinatura você bem conhece — e enxerga facilmente.

Mas isso acabou: a partir deste mês, os gibis infantis mensais da MSP (Turma da Mônica, Mônica, Cebolinha, Magali, Cascão e Chico Bento, além de Neymar JR, Monica and friends e Mónica y sus amigos) voltaram ao número 1 e estão saindo com créditos para as equipes que criaram as histórias logo no começo delas, como é comum em outras editoras.

Vale ressaltar que, ao menos nesses números 1, nem todas histórias de cada revista estão saindo com créditos. Muitas possuem, mas algumas foram deixadas de lado, principalmente as curtas. De qualquer forma, é um processo que começou antes disso tudo, com uma mudança interna na própria MSP.

Antes, os roteiros (que não são em texto, mas sim em esboços que já dão uma ideia do layout final da página) iam para os artistas – sim, mais de um, principalmente nas histórias mais longas. Você provavelmente nunca reparou a mudança de um quadrinista pro outro simplesmente porque o traço é sempre o mesmo, muito por conta desse processo. Depois, as páginas iam para os arte-finalistas, também no plural. Um artista e um arte-finalista por história? Só mesmo se fosse curta.

Turma da Mônica (Foto: Thiago Borbolla / JUDAO.com.br)

“O sistema de produção, antes, era efetivamente um trabalho de equipe, com muitas vezes, dezenas de profissionais envolvidos numa história curta”, afirma um porta-voz da MSP em nota ao JUDÃO, justificando o motivo de apenas termos os créditos gerais, em letras mínimas, na última página do gibi, e não na história em si. A grande mudança que veio agora é que o estúdio passou a se adequar ao modo de produção que é normalmente usado, por exemplo, pelas grandes editoras dos EUA: a mesma equipe criativa vai produzir toda a história. “O estúdio passa por um novo momento, tanto em termos criativos, quanto no sistema de produção”, explica. “Mas vale lembrar que, mesmo anteriormente, algumas histórias saíram creditadas, justamente quando tiveram esse caráter mais autoral”.

Antes mesmo de zerarem a numeração, a mudança interna já era ligeiramente perceptível: algumas histórias recentes da Turma do Penadinho e do Bidu já tinham um estilo perceptivelmente diferente do que estamos acostumados. É, de certa forma, reflexo desse novo movimento e de como ser DONO de uma história pode tornar possível arriscar mais e criar mais.

Em relação ao retorno ao número 1, a editora afirma que tem como intuito “proporcionar a uma nova geração de leitores a oportunidade de iniciar sua coleção”. Porém, vamos combinar: qual criança se liga se tem o número 1 ou o 888? Talvez eu, que nasci velho, e olhe lá. Não é uma preocupação do público alvo da Turma da Mônica, MAS é uma preocupação dos colecionadores (e pais colecionadores): quem deles nunca sonhou ter a coleção de Cebolinha começando do primeiro número?

Turma #01

A jogada da MSP foi pra, além de marcar as mudanças, (re)atrair esse pessoal mais velho. Não há nada mal nisso e lembra, inclusive, uma sacada da Ebal. A velha editora tinha costume de voltar ao número 1 após cerca de 100 edições, justamente pra alavancar as vendas e fomentar novos colecionadores, já que o pessoal poderia ter a chance de ter tudo desde o começo. Foi uma regra aplicada, só pra citar alguns exemplos, em revistas como Aí, Mocinho (!), Batman, Cinemin e Superman. E sim, a numeração era zerada mais de forma arbitraria do que relacionada a uma mudança no conteúdo.

ATUALIZADO! No caso da MSP, as numerações dos gibis só foram zeradas anteriormente quando houve troca de editora (no caso, da Abril para a Globo e, agora, na Panini) e parece que vão seguir essa ideia da Ebal, mesmo. Como nos alertou o leitor Gabriel Escudero, no twitter, na edição #100 de Turma da Mônica, ninguém menos que o CEBOLINHA avisou que “agola, toda vez que a levista chegar ao númelo 100, a numelação volta ao um!”.

No final, são ações que podem parecer pequenas, mas que estimulam o mercado colecionador, dão liberdade criativa pra quem tá envolvido e, principalmente, dão espaço mais destacado pros caras que realmente fazem a MSP ser a maior produtora de quadrinhos no Brasil. Demorou, MUITO, mas finalmente todo mundo vai poder ganhar com isso.

Principalmente o Mauricio de Sousa...