O legado de Carrie Fisher para a cultura pop | JUDAO.com.br

Ela será pra sempre a Princesa Leia. Mas a cultura pop, especialmente o cinema, poderia ser bem diferente se não fosse por Carrie Fisher.

Carrie Fisher não tinha nem 20 anos quando Star Wars chegou aos cinemas. Com essa idade num dos grandes sucessos da cultura pop, muito pouca gente consegue se preparar para o que vem. Some a isso algumas doses pesadas de sexismo e o resultado não poderia ser dos melhores.

Viciada em drogas já no início dos anos 1980 (“Eu usei cocaína no set de O Império Contra-Ataca, no planeta gelado”), foi filmando o que por muitos é considerado seu grande papel no cinema, a Mulher Misteriosa de Os Irmãos Cara-de-Pau, que ela começou a perceber que tinha um problema — que seu transtorno bipolar só piorava. “Eu tava usando um pouco mais do que outras pessoas e perdendo meu poder de escolha sobre o assunto” contou, em 2010, na Austrália, durante a divulgação do seu show Wishful Drinking.

Foi só em 1986, porém, que ela percebeu que as coisas precisavam mudar, quando sofreu uma overdose. Dedicada a se recuperar, ela escreveu o livro semi-autobiográfico Postais do Abismo, onde contava a história de uma atriz viciada em drogas que, depois de uma overdose, se vê obrigada a morar com a mãe, também atriz, além de arrogante e autoritária.

Em 1990 o livro virou filme, com Meryl Streep no papel de Suzanne Vale e Shirley MacLaine interpretando a mãe, Doris Mann. Dirigido por Mike Nichols (Closer) e com roteiro escrito pela própria Carrie Fisher, Postais do Abismo não chegou a fazer nenhum sucesso ESTRONDOSO, mas o texto — especialmente os diálogos — foram bastante elogiados na época... E aí surgiu, pelo menos de maneira oficial, já que ela já havia feito isso em Star Wars, um dos trabalhos de Carrie Fisher mais interessantes e importantes pra cultura pop, ainda que não existam créditos quanto a isso: Script Doctor.

Carrie Fisher em Os Irmãos Cara-de-Pau

Script Doctors, Consultores de Roteiro ou Analistas de Roteiro são pessoas — como Joss Whedon, Quentin Tarantino e Aaron Sorkin — contratadas pra, literalmente, arrumar o que tem de errado com roteiros, seja reescrevendo diálogos, reconstruindo relações entre personagens, adicionando ou cortando falas... Enfim, tentando salvar o roteiro de um filme.

Hook: A Volta do Capitão Gancho, Mudança de Hábito, Máquina Mortífera 3, O Último Grande Herói, O Rio Selvagem e Afinado no Amor são alguns dos filmes em que ela trabalhou CONFIRMADAMENTE. Há diversos outros que nunca ninguém disse que sim ou que não, como por exemplo os Episódios I, II e III de Star Wars.

Você pode achar os roteiros ou qualquer um desses filmes horrendos... Mas, se Carrie Fisher era uma das Script Doctors mais procuradas nos anos 90, imagina o quanto ela não deve ter melhorado cada um deles. Se ama esses filmes, talvez fique surpreso imaginando o quão ruim eles eram anteriormente... Ou o simples fato de que sim, Carrie Fisher o deixou perfeitinho do jeito que você curtiu. ;)

Em 2008, em entrevista à revista Newsweek, Carrie Fisher afirmou que fazia um tempo que não trabalhava com isso, porque, na época, você precisava mandar suas anotações e ideias pra aprovação, o que fazia muita gente se aproveitar do trabalho sem exatamente contratá-la e, óbvio, pagá-la. “Foi um longo e muito lucrativo episódio da minha vida”.

Foi um longo e muito lucrativo episódio da minha vida

Carrie Fisher ainda escreveu outros sete livros (Wishful Drinking, além do show e especial de TV, é um deles também) e foi voltando de Londres, onde estava promovendo o mais recente (Memórias da Princesa: os Diários de Carrie Fisher, sobre a relação com Star Wars), que sofreu um problema cardíaco, no último dia 23 de Dezembro.

Ela morreu nesta terça-feira, 27 e, enquanto o Universo vai se lembrar dela pela Princesa Leia, os cookies de cabelo, o biquíni dourado e “Eu sei”, a pessoa física fez muito mais por nós. Seja pela cultura pop, seja pelas tantas pessoas que ela ajudou, direta ou indiretamente, falando abertamente sobre seus problemas com drogas, doenças mentais e sexismo.

Carrie Fisher fará muita falta, especialmente no mundo em que vivemos hoje em dia. Mas ela deixa algo muito importante pra todos nós: esperança.