O Mogli do Andy Serkis agora vai estrear no Netflix. Assim fica fácil, né? | JUDAO.com.br

Serviço de streaming comprou os direitos da Warner, que não vai mais ter de se preocupar com comparações com o filme da Disney e nem com possíveis prejuízos. E o cinema, ó…

Quando as vezes a gente escreve sobre um filme e diz que ele tem “estreia prevista para” um dia qualquer, é a maneira que nós — veículos de comunicação em geral — temos de não errar uma informação, já que, bem, datas de estreia mudam o tempo todo.

Em Agosto de 2014, por exemplo, Mogli: O Menino Lobo — dirigido por Jon Favreau — tinha estreia prevista para 9 de Outubro de 2015, mas acabou chegando aos cinemas só em 15 de Abril de 2016. Jungle Book: Origins, a versão de Andy Serkis para a mesma história escrita por Rudyard Kipling (que está em domínio público), nessa mesma época, tinha estreia prevista para 21 de Outubro de 2016 — e falavam até sobre uma “corrida” entre as duas produções.

Olhei aqui no calendário rapidinho e já estamos em Agosto de 2018 e o que temos desse tal de Jungle Book: Origins é um novo título — Mowgli no original em inglês, Mogli: O Livro da Selva no Brasil — um trailer, um pôster, algumas imagens e... bem, nada além disso.

Mogli: O Livro da Selva não estreou nem em Outubro de 2016, nem em Outubro de 2017, a segunda data de estreia prevista, e não vai estrear em Outubro de 2018, a terceira data, já que na última semana descobrimos que o Netflix comprou os direitos de distribuição do filme e deverá colocá-lo no seu catálogo em algum momento de 2019, num movimento muito parecido com os de Aniquilação, The Cloverfield Paradox, Extinção e do vindouro Shaft.

“A gente se viu nessa corrida com a Disney, cabeça a cabeça pra quem seria o primeiro. Os dois estúdios queriam, mas a gente percebeu que as técnicas de captura de performance precisavam de mais tempo para o jeito que eu queria trabalhar na pós, e então decidimos deixar o outro filme ter o seu momento”, contou Andy Serkis ao Deadline. “Naquele ponto, nós já tínhamos filmado tudo, e fizemos uma série de outras gravações que queríamos ter a tempo da pós-produção”.

“A gente fez tudo com calma, permitindo que os animadores fizessem o melhor que conseguissem com as performances da Cate Blanchett (Kaa), Benedict Cumberbatch (Shere Khan, ÓBVIO) e Christian Bale (Bagheera), pra trazê-las à vida da maneira mais extraordinária que pudéssemos”, contou. A calma foi tanta que ele teve tempo de sair pra gravar Planeta dos Macacos: A Guerra, deixando a supervisão dos trabalhos nas mãos de ninguém menos que Alfonso Cuarón — o que mostra que, além da calma, o poder do filme também é bem grande.

O problema é que os quase US$ 1 Bilhão de bilheterias de um filme realmente maravilhoso e mágico com toda certeza do mundo seriam utilizados como régua pra medir o sucesso da nova versão. Com a mudança de estratégia de lançamento, essa deixa de ser uma preocupação. “Eu tou realmente empolgado com o Netflix por causa de Mogli”, afirmou Serkis. “Eles entendem que essa é uma versão mais sombria, que não é para crianças muito novas. Eu sempre quis que fosse PG-13, e isso nos permite ir mais a fundo, com temas mais pesados, com momentos assustadores. A violência entre animais não é gratuita, mas está lá. Dessa maneira a gente pode exibir o filme sem se preocupar (...). Agora a gente evita comparações com o outro filme e é um alívio não ter essa pressão.”

Andy Serkis claramente está naquele ESPECTRO do cinema em que a maior preocupação é contar a história, independente do formato, e não há absolutamente nada de errado com isso. É até compreensível, na verdade, ser um diretor ~novato e conseguir evitar comparações que possam realmente machucar uma carreira, além de contar a história do jeito que você pensava desde o início. “Netflix permitiu que eu fizesse o filme que eu queria fazer existisse e eles criaram uma atmosfera para a maneira que eu quero contar histórias”, disse o diretor.

O problema é que isso acaba machucando algo MUITO maior, que é o cinema como um todo, e também faz com que os grandes estúdios, que já não são lá muito a favor de correr riscos, apostem única e exclusivamente no que eles REALMENTE acreditam que vai dar certo — o que não necessariamente acontece, claro, já que se deixar as coisas na mão de marketing, a gente ganha aquele comercial com o Neymar e as chamadas ativações em eventos, deixando o conteúdo completamente de lado. Acaba se tornando FÁCIL pra essas empresas gigantescas (“Ah, esse filme aqui, não sei não, hein? Alô, Netflix!”) e mesmo pro público, que qualquer coisa já pergunta se tem no Netflix.

O serviço de streaming, claro, está na sua, fazendo o que há algum tempo demonstrava que iria fazer. São conteúdos “originais” que são exibidos em 190 países simultaneamente, sem a necessidade de um marketing mais agressivo. O filme está lá, pra sempre. Assiste quem quer. Na hora que quiser. Onde quiser. ¯\_(ツ)_/¯

PELO MENOS, por conta dos “elementos 3D” do filme, Mogli: O Livro da Selva deverá ter algum tipo de exibição nos cinemas — o que, assim como as datas de estreia, pode acabar mudando. Não deverá ser como aconteceu com Aniquilação, com duas semanas de espaço entre a estreia nos EUA e a chegada ao serviço, mas algo deverá acontecer — e eu espero que, aqui no Brasil, a gente tenha a chance de assistir... Por mais que eu não esteja nem um pouco empolgado em ver um filme em 3D. É só pela possibilidade de assistir na tela grande, mesmo.