RESENHA! O que fazemos nas sombras

O que fazemos nas Sombras, comédia de horror neozelandesa sacaneia ao mesmo tempo as criaturas da noite, os mockumentaries e os reality shows — e ENFIM chega ao Brasil. :P

No nosso TALK SHOW em que falamos sobre filmes de terror, rolou um espanto coletivo quando falei sobre a EFERVESCENTE cena de horror vinda da OCEANIA, continente este que, além de porta de entrada para atacar a Ásia no War, é responsável por algumas das melhores ou mais divertidas produções do gênero da atualidade.

Passando por The Babadook, Deathgasm e Housebound, e outros não tão recentes, como Wolf Creek – Viagem ao Inferno e The Loved Ones, fato é que as terras do canguru ou do kiwi (o animal, e não a fruta ou o jogo) são o lugar para se estar quando se trata do terror moderno.

Lançado direto em DVD e VOD essa semana, ainda que um com baaaaaaaaita atraso (filme estreou em Junho de 2014 na Nova Zelândia, Fevereiro de 2015 nos EUA), finalmente chegou a esse lado do mundo mais um excelente exemplar dessa safra e, me arrisco a dizer, um dos melhores filmes dos últimos anos e QUIÇÁ das melhores comédias lançadas na última década: O Que Fazemos nas Sombras.

Direto da terra de Peter Jackson (ou seja, um país já com tradição nas comédias de horror, vide Trash – Náusea Total e Fome Animal), o longa dirigido, escrito e estrelado pela dupla Jemaine Clement e Taika Waititi — sim, o diretor de Thor: Ragnarok — consegue em uma tacada só tirar barato dos mockumentaries (ou falsos documentários, se preferir), dos reality shows e dos filmes de vampiros.

Inspirado em seu próprio curta lançado em 2005, Clement e Waititi escreveram 150 páginas de roteiro, não mostradas a ninguém, nem atores e muito menos equipe, para manter as reações espontâneas e genuínas. Foram filmadas mais de 120 horas, sendo a maior parte improvisação dos protagonistas. O longa só conseguiu chegar aos EUA para exibição em festivais e futura distribuição por conta de uma bem sucedida campanha no Kickstarter.

Só como exemplo: um dos personagens mais adorados, Stu, o analista de software humano amigo de Nick que se torna chegado de todos os demais vampiros e responsável também por adentrar os sanguessugas na modernidade da Internet, celular e afins nem ator é, na verdade. Stu Rutherford é de fato um profissional de TI que trabalhava para uma companhia em Wellington, chamada LanWorx, que achou que ajudaria em questões técnicas e faria apenas uma ponta.

O que fazemos nas Sombras

Sacaneando TODOS os clichês desses três subgêneros do audiovisual, o longa acompanha uma equipe de documentaristas que resolve filmar um grupo de criaturas da noite que divide uma casa em Wellington, antecedendo o Baile Profano, evento anual de gala que reúne os vampiros, bruxas e zumbis residentes da capital neozelandesa.

Testemunhamos a moderna rotina doméstica dos DESMORTOS, assim como suas desavenças, problemas pessoais, hobbies, suas noitadas na cidade... Como se fosse um Keeping Up With the Kardashians com outras partes corporais avantajadas.

O grupo é formado pelo ex-déspota do Leste Europeu, Vladislav (Jemaine Clement), uma paródia do Vlad Tepes de Gary Oldman em Drácula de Bram Stoker; Viago (Taika Waititi), um fresco dândi do século XVIII inspirado em Louis de Point du Lac de Entrevista Com o Vampiro; Deacon (Jonny Brugh), sedutor canastrão ao melhor estilo Drácula de Bela Lugosi; Petyr (Ben Fransham), sacanagem com o Nosferatu de Murnau e, por fim, Nick (Cori Gonzalez-Macuer), garotão recém-transformado que se compara com o galã de Crepúsculo.

Todos os clichês vampirescos são tratados de forma hilária, com os apreciadores de jugular temporalmente deslocados e completamente caricatos, contando suas origens e lidando com a luz do sol, seus poderes, metamorfose em animais, modus operandi de caça às suas vítimas, seus escravos, antigos amores, a rivalidade com lobisomens e até o fato de não poderem entrar nas baladas (e em lugar algum!) sem ser convidados.

O retrato cotidiano chega até na divisão de tarefas na casa, na dificuldade em montar o look por não refletirem no espelho ou terem de forrar o sofá com jornais e toalhas para não sujá-lo de sangue ao se alimentar.

O que fazemos nas Sombras é um dos melhores filmes dos últimos anos e uma das melhores comédias lançadas na última década

Além de todos os atores estarem simplesmente geniais em seus estereótipos, também vale e MUITO destacar a matilha de lobisomens, igualmente engraçadíssimos — e que, por sinal, vai ganhar um spin off, chamado We’re Wolves (piada recorrente entre lobisomens e praguejar, mas que só faz sentido em inglês), tamanha a aceitação do público com o ridículo time de licantropos.

O fato de também se tratar de uma paródia de reality show, adaptando causos e conflitos que estamos acostumados a ver nesse tipo de televisivo para o universo vampírico, é nada menos que sensacional, e aproxima O Que Fazemos nas Sombras não apenas dos fãs de comédia e de terror, que se deliciarão com a cacetada de referências cinematográficas – tanto de filmes já citados por conta dos personagens quanto outros longas famosos, como Os Garotos Perdidos e A Dança dos Vampiros – mas também de quem é fã desses programas, que identificarão a GALHOFA em várias situações ali presentes.

Depois de O Que Fazemos nas Sombras você nunca mais verá um vampiro da mesma forma. E esperamos de verdade que Waititi leve este mesmo espírito para um certo Deus do Trovão...