Luis Mariutti, baixista original do duo Angra/Shaman, está de banda nova, depois de sumir dos holofotes durante algum tempo – mas espere uma sonoridade BEM diferente
Durante os tempos áureos do Rock Gol na antiga MTV Brasil, os narradores Paulo Bonfá e Marco Bianchi foram geniais ao batizar alguns dos rockstars tupiniquins dentro de campo com apelidos que se tornaram praticamente uma segunda identidade. Como não lembrar de Toni Garrido, do Cidade Negra, como “A Chiliquenta”?
(Este apelido, aliás, me rendeu uma espécie de “incidente diplomático” alguns anos mais tarde. Mas outro dia conto esta história...)
Um destes apelidos foi meio óbvio, claro. Mas não menos genial. Cabelos compridos, barba longa, olhos claros, expressão sisuda. Era inevitável que Luis Mariutti, o baixista do Angra/Shaman, recebesse a alcunha de Jesus. E era assim que os fãs o recebiam, aos gritos, em cada um dos shows em todo o país.
Sempre caladão, discreto, no máximo ele dava um sorriso de canto de rosto. E continuava espancando o seu baixo.
O atual visual de Jesus pode surpreender quem estava acostumado a vê-lo naquela época. Cabelos raspados e barba transformada em cavanhaque, conferindo-lhe uma expressão mais furiosa no rosto – complementada, é óbvio, quando se descobre que, aos 44 anos, ele também se dedica intensamente a uma carreira paralela como técnico e lutador de muay thai, uma de suas grandes paixões.
O talento musical continua intacto, no entanto.
Basta ouvir as primeiras faixas da banda About2Crash, um dream team do metal nacional formado ainda por Bill Hudson (guitarrista – Circle II Circle, Jon Oliva, Zak Stevens), Vinicius Neves (DJ/vocal – apresentador do programa Stay Heavy), Theo Vieira (vocalista – Hard Rocket), Anderson Carlos (guitarrista – Holy Sagga, Hard Rocket) e o baterista Aquiles Priester (Angra, Noturnall).
Aliás, ironia suprema, Priester, o homem das muitas bandas, foi responsável pelas baquetas do Angra na formação que substituiu justamente o time de Mariutti, Ricardo Confessori e Andre Matos, que sairiam para então formar o Shaman.
“Todos têm atividades fora da banda”, diz Mariutti, em papo com o JUDÃO. “No caso dele [Aquiles] são muitas bandas, mas ele é extremamente profissional e sei que vai dar conta... No meu caso, tenho minha academia, meus alunos e a agenda está sendo montada considerando todas as questões”.
Mas esqueça o power metal melódico do Angra ou mesmo a pegada étnica do Shaman neste novo projeto. A pegada é MUITO diferente, mais agressiva e moderna, misturando peso, melodia, groove e samplers. Essencialmente, pense num metal que é muito mais EUA do que Europa.
Mariutti, no entanto, não acredita que vá ser alvo de cobranças neste sentido. “Acredito que as pessoas que acompanham a minha carreira gostam de boa música acima de tudo. As influências do About2Crash são obviamente outras”, afirma. O músico garante, contudo, que vai empregar a sua marca nesse estilo mais moderno. “O About2Crash é um grupo novo, com uma proposta nova, totalmente diferente do que vemos no cenário nacional”.
A ideia da banda começou há apenas um ano atrás, alinhada entre o Theo, o Anderson e o Vinicius – este último, colunista e jornalista especializado que, com seus contatos no universo metálico, tratou de recrutar os medalhões Hudson, Priester e Mariutti, atraindo a atenção necessária para o empreendimento.
“Quando o Vinicius me convidou para participar da banda, eu só tinha tido uma convivência com ele e com o Aquiles. Entrei na banda porque achei o som muito bom e depois de conhecer os caras, posso dizer que tenho mais uma banda com amigos e isso é muito importante nos dias de hoje”, revela.
Divulgados inicialmente em tom de mistério, sem que se soubesse quem eram os músicos por trás deles, os três primeiros singles – “que tiveram um feedback excepcional”, diz Mariutti – foram mixados em Los Angeles (EUA), pelo renomado produtor Damien Rainaud (Fear Factory e Dragonforce). Neste momento, a banda se prepara para lançar um álbum completo já no segundo semestre deste ano. “Não sabemos ainda o formato que vai ser. Estamos conversando com algumas gravadoras que mostraram interesse no material”, explica.
O primeiro grande desafio, no entanto, será em setembro – eles serão uma das bandas que vai tocar na chamada Rock Street Brasil do Rock in Rio, no dia 24/9, como parte da programação que pretende esquentar o público antes de começarem os shows nos dois palcos, o Sunset e o principal. “Tem muita coisa ainda pra acontecer. Este segundo semestre promete!”.
Foram duas décadas tocando com o vocalista Andre Matos – primeiro no Angra, depois no Shaman e, por último, na carreira solo do cantor, que mistura canções próprias e faixas de suas bandas antigas, incluindo o Viper. Mas, em 2012, sem muita explicação, Mariutti saiu da formação, deixando os fãs sem entender nada e elaborando mil e uma teorias. Mas não teve nenhum motivo obscuro: apenas a vontade de se dedicar mais ao esporte do coração. “O muay thai sempre esteve presente na minha vida, mesmo quando estava em longas turnês”, conta.
Ou seja, pelo menos no seu caso, a clássica teoria de que ninguém dura muito tempo numa banda com o Andre, por se tratar de um sujeito “difícil” como seria um Dave Mustaine da vida, por exemplo, não cola.
“No meu caso, essa história não é válida, porque eu fiquei 20 anos com o Andre, dois terços da minha carreira. Hoje em dia, pelo rumo que as vidas tomaram, não tenho contato com nenhum deles, a não ser meu irmão, mas eles serão sempre parte da minha história”.
O irmão ao qual Luis se refere é o talentoso e versátil guitarrista Hugo Mariutti, parceiro frequente de Andre – além de ter feito parte do Shaman e tocar em sua banda solo, ele também participou da turnê de reunião do Viper, gravando inclusive o recém-lançado álbum ao vivo To Live Again – Live in São Paulo.
O fato é que, sem grande disposição para as jornadas puxadas de shows internacionais, um dos focos atuais da carreira de Andre, Luis se retirou – juntando o desenvolvimento no campo das lutas com a vontade de desenvolver uma família ao lado da esposa Fernanda, também treinadora e lutadora.
“E foi assim que fiz algumas lutas, muitos treinos com vários tailandeses e hoje tenho um time com a minha esposa, o Mariutti Team (Mtteam). Já são cinco anos que estamos dando aulas, buscando formar lutadores”.
Mas, neste meio tempo entre a saída da banda de Andre Matos e o surgimento do About2Crash, Luis não abandonou completamente a música.
“Lancei um trabalho independente, com a banda Motorguts, que é um som que faço com amigos de longa data. Nesse meio tempo, também trabalhei na produção de vários shows e gravei para algumas bandas”.
Entre os “amigos de longa data”, estão Fabio Ribeiro, ex-tecladista do Shaman, e o baterista Rafael Rosa, que esteve presente nos primórdios da banda solo de...Andre Matos. ;)
...mas este mundo do metal nacional dá voltas demais, não? :D
O Motorguts lançou há quase três anos um EP com sete músicas chamado Seven – mas todas as faixas podem ser ouvidas no Soundcloud ou no Reverbnation.
“Meu interesse nessa banda sempre foi de juntar meus amigos para fazer um som e é o que rola sempre que possível. Temos muita coisa gravada e pretendemos em breve disponibilizar mais conteúdo digital”, explica Luis.