O Superman de verdade renasce na TV | JUDAO.com.br

Tyler Hoechlin explicou um pouco mais sobre a versão do personagem na série Supergirl, que traz de volta o otimismo e a esperança ao Homem de Aço

Cada super-herói preenche uma lacuna, um objetivo, representa uma época. O Wolverine é aquela sujeira característica dos anos 1980 e 1990 e o nosso amor por aqueles caras misteriosos, com ar de malvados, mas que lá dentro possuem um bom coração. O Superman, por sua vez, representa algo totalmente diferente, que parece que vai ressurgir em Supergirl, a série de TV, a partir dessa semana.

Veja: o Homem de Aço até surgiu como um cara que deixava a população linchar um meliante, afinal aqueles eram os anos 1930 e os Estados Unidos ainda viviam a ressaca da Grande Depressão e da Proibição. Eram tempos duros. Porém, veio a Segunda Guerra Mundial, a vitória Aliada e a consolidação do “American Way of Life” e o Superman ressurgiu nessa fase modificado, transformado para sempre no sonho e no ideal americanos. Não que tais conceitos fossem, na prática, reais, mas o Azulão estava lá para inspirar as pessoas, conceito que foi amplamente utilizado no final dos anos 1970, no filme dirigido pelo Richard Donner e escrito pelo Mario Puzo.

Quando nos demos conta, o Homem de Aço havia morrido. Foi substituído por um personagem que até faz sentido nos anos 2010, mas que não é o Superman em sua essência

Só que o mundo mudou e, talvez por incapacidade de muitos roteiristas ou por nosso olhar cínico em relação à vida de hoje, o Superman pareceu se transformar em algo anacrônico. Foram sim publicadas boas histórias e bons conceitos nas últimas décadas (como, por exemplo, Superman – Paz na Terra, O Legado das Estrelas ou até mesmo o conceito de que o Superman é uma persona criada pelo Clark Kent para nos inspirar). Quando nos demos conta, o Homem de Aço havia morrido. Fora substituído, tanto nas HQs quanto nos cinemas, por um personagem que até faz sentido nos anos 2010, mas não que não é o Último Filho de Krypton em sua essência.

Aos poucos, porém, isso parece estar mudando. Nos gibis, a DC se tocou da cagada e tratou de matar o Kal-El que introduziu após o reboot de 2011, retornando com o Superman anterior, agora pai de família, mas com aquele ar de “verdade, justiça e o modo...”. Ok, sem a parte do “modo americano”, afinal ISSO está anacrônico. Mas a essência principal parece estar lá.

Na TV parece estar acontecendo a mesma coisa. Hoje (10) estreia a segunda temporada de Supergirl, que traz a introdução do Superman deste universo, interpretado pelo Tyler Hoechlin e que, pelo visto, será fiel ao personagem “clássico”.

Clark Kent e James Olsen na abertura da segunda temporada

Clark Kent e James Olsen na abertura da segunda temporada

“Como ator, você sempre ama esses personagens profundos, sombrios, complicados e conflituosos”, disse Tyler para a EW. “Então é um desafio [fazer um Superman otimista], algo para realmente se aprofundar. Foi uma diversão pura, e é um Superman como eu acredito que deve ser, que é um grande símbolo da esperança para as crianças e que pode fazer tudo, e que eles podem ser boas pessoas, e que as boas pessoas vão triunfar sobre o mal”.

“Você pode ainda ser uma pessoa doce e gentil, e ter esse lado que sai de você quando é necessário”, continuou. “Então é acho que é aí que se encaixa. Encaixa no lugar esperançoso e otimista que a Kara tende a estar, na série”.

O ator claramente entendeu a mensagem do que os produtores da série buscam, inclusive afirmando ser fã do herói. “Eu cresci com o Superman”, disse. Entre as referências que ele tem do personagem, o ator citou a série Lois & Clark: As Novas Aventuras do Superman, que tinha um Dean Cain interpretando um Azulão na vibe do reboot feito por John Byrne na década anterior. Cain, aliás, está em Supergirl, interpretando Jeremiah Danvers, o pai adotivo da Kara.

Ainda assim, Hoechlin afirma que não ficou revendo interpretações como as de Christopher Reeve ou George Reeves. “Eu não quis ter a tentação de imitar, ou mesmo me distanciar daquilo. Eu tenho um sentimento forte sobre o que eu pessoalmente acho interessante sobre Clark, e sobre Superman”.

Supergirl

Por mais que tudo possa ser lindo e maravilhoso de um lado, isso não quer dizer que Supergirl não possa tocar em assuntos mais sérios, mais próximos de quem esta assistindo. Nessa segunda temporada, a presidente dos EUA – interpretada pela Lynda Carter, a Mulher-Maravilha dos anos 1970 – quer dar anistia para todos os aliens que vivem nos EUA, de alguma forma integrando-os à sociedade. Porém, tem muita gente contra, motivando um ataque à POTUS no segundo episódio da temporada, que também terá o Homem de Aço. Não deixa de ser uma visão um pouco mais otimista do que rola, hoje, nos EUA. Só troque alienígenas por imigrantes.

“Progresso é sempre uma grande coisa, então vamos ver, se e quando essa lei de anistia passar, como afeta tudo, mas eu assumo que será algo positivo”, comentou o ator.

Falando tanto em otimismo, todo esse discurso poderia nos dar a esperança de ver uma série estrelada por esse Azulão, né? Bom, ainda é possível. “Eu sei que existe uma grande discussão entre a Warner e [o produtor executivo Greg] Berlanti, então essas são decisões que eu deixo com as pessoas que têm um trabalho bem diferente do meu. Eu os deixo cuidando disso e vamos ver para onde vai e o que acontece a seguir”.

Apesar de agora a série ser produzida junto do Arrowverse, com gravações em Vancouver e exibição no mesmo canal, não veremos esse Superman formando um grande Universo DC único com o Arqueiro Verde, Flash, Supergirl, Caçador de Marte e outros personagens destas produções, apesar de Hoechlin contar que todos os atores se encontram quase sempre. Também para a EW, o produtor executivo Andrew Kreisberg afirmou que a produção da série da Garota de Aço continuará separada do resto do universo do CW, “mas Kara irá viajar da dimensão dela para a nossa dimensão, sendo que ‘nossa’ é a de The Flash, Arrow e Legends of Tomorrow”.

Que, então, essa virada de jogo nas histórias em quadrinhos e na TV inspire uma outra Liga da Justiça, aquela do cinema. A Warner Bros. já andou demonstrando que está ouvindo as reclamações sobre o tom extremamente sombrio do Universo DC Expandido e um retorno do Homem de Aço das CATACUMBAS poderia fazer com que ele finalmente assumisse esse lado mais inspirador nas pessoas, deixando de vez para trás aquela concepção de herói que deixa uma contagem enorme de corpos por onde passa.

Afinal, nessa merda de mundo que vivemos, nós precisamos é de mais cor. Os tons de cinza caem muito bem em outro personagem, um certo Homem-Morcego...