Pode ser mais um daqueles projetos que nunca saem do papel, MAS…
Nesse mundo no qual universos compartilhados parecem ser a melhor coisa para o cinema enquanto negócio – desde os super-heróis a monstros – surge uma possibilidade que pode balançar um pouco as estruturas. Tudo porque a Warner estaria considerando fazer uma adaptação live-action da HQ Superman: Entre a Foice e o Martelo.
Tudo começou no twitter, a única rede social possível. O diretor Jordan Vogt-Roberts, de Kong: A Ilha da Caveira, lamentou que uma antiga proposta para adaptar a HQ escrita por Mark Millar nunca viu a luz do dia. Eis então que o próprio Millar informou que não um, mas DOIS diretores foram contatados por Yakko, Wakko e Dot sobre a possibilidade de, veja só, levar Entre a Foice e o Martelo para a tela grande.
E, de acordo com fontes do site Den Of Geek, isso não seria um filme animado, mas sim um com atores de carne e osso. Ao mesmo site, Millar também esclareceu que esse tipo de papo rola de forma constante nos bastidores, com a Warner questionando alguns diretores se eles teriam interesse em alguma grande publicação de seu catálogo. Ou seja, o que está rolando é uma conversa normal, apenas.
Por enquanto.
Se acontecer, poderia ser uma bela adição aos DC Films. Afinal, esta não é uma versão do Superman com a qual o grande público está acostumada e, definitivamente, não se encaixa com o que eles estão fazendo no DC Extended Universe. Ou seja, sem essa de universo compartilhado, mas com duas versões do Homem de Aço praticamente ao mesmo tempo nos cinemas. E, provavelmente, com atores diferentes.
“Tá, ok, o que tem de tão diferente nessa HQ?”. Pra começar, o arco em três partes, originalmente chamado de Red Son e publicado em 2003, se passa no que a DC chamava de “Elseworlds”. Não há amarras com a continuidade, nem nada disso, apenas alguns conceitos básicos do personagem, mas vistos sobre um outro PRISMA.
SPOILER! Pelo olhar de Millar, o foguete de Kal-L vindo do moribundo Krypton não caiu no Kansas, mas sim numa fazenda coletiva da Ucrânia, parte da União Soviética, em 1938 – baseado, em parte, numa história originalmente publicada em 1976, em Superman #300. Rapidamente capturado pelo governo, Kal-L cresce e passa a ser próximo de ninguém menos de Josef Stalin. Até que, nos anos 1950, ele é revelado como Superman, o herói soviético.
Inicialmente, este Superman quer apenas o bem do seu povo. Porém, após uma ação de Lex Luthor e dos Laboratórios STAR, ele passa a apoiar diretamente a corrida armamentista. Luthor, em seu plano para acabar com o herói inimigo, cria um clone do SOVIETÃO, mas que não dá muito certo e se transforma numa versão do Bizarro que se sacrifica para evitar um desastre nuclear.
As coisas mudam drasticamente quando Stalin é morto por envenenamento pelo próprio filho. Superman assume, então, a presidência do país, empenhado em transformá-lo em uma utopia comunista. A história então dá um salto para os anos 1970, quando apenas EUA e Chile estão livres da esfera de influência russa. A pobreza praticamente inexiste nessa grande União Soviética.
Porém, as liberdades pessoais não existem. Quem ousa ir contra o CAMARADA DE AÇO, é preso e passa por cirurgia cerebral. E, além disso, Superman e a Mulher-Maravilha são o casal mais poderoso da Terra. Já o Batman surge como um líder anarquista, que se junta a Lex Luthor para acabar com o VERMELHÃO.
A última parte se passa nos anos 2000. Os EUA passaram por uma grande guerra civil e, agora, Lex Luthor é o presidente, usando seu poder econômico para fazer o país renascer. No entanto, a ideia dele é apenas provocar o Superman para que ele invada o país e, assim, vencê-lo – o que acontece, mas Luthor tem uma carta na manga: uma força policial formada a partir dos Lanternas Verdes.
No final, o Camarada de Aço percebe seus erros e é morto. A União Soviética entra em caos e é dominada por discípulos do Batman, enquanto Luthor, claro, leva os Estados Unidos à glória, conquistando um crescimento social justamente por reutilizar antigas ideias do Superman, agora chamadas de “Luthorismo”. Mais de 200 anos se passam, até que Lex Luthor morre. No velório, não só descobrimos que Kal-L está vivo, como ele elogia Luthor e o seu mais recente descendente, Jor-L. No final, a Terra entra em colapso, com Jor-L colocando seu filho em um foguete, que cai na Ucrânia de 1938.
Como você pode ver, Entre a Foice e o Martelo é carregada de crítica política e referências históricas. No mundo ideal, daria uma grande trilogia – mas a tendência, na Warner, é que todo esse subtexto seja drasticamente reduzido. Ainda assim, há potencial. Sem falar que a pegada sombria, que se tornou a marca registrada dos filmes da DC, é parte importante de Red Son.
Também seria uma forma interessante de efetivamente inaugurar um Multiverso DC no cinema. Afinal, esse conceito de múltiplas realidades já foi uma das bases da DC nos gibis e, na TV, ganhou força com The Flash. Para o público em geral, basta apenas informar que é um outro Supinho, diferente da dos filmes com o Henry Cavill. Já para os fãs, inserir easter eggs deste Multiverso seria um interessante fan service.
É provável que, no final, esse projeto nunca saia do papel, já que parece ser muito ousado para a Warner. Ou, se sair, há o risco de soar mais como aquele filme da Mulher-Gato com a Halle Berry. Mas, neste exato momento, ao menos nos é permitido sonhar.
Ainda bem.