O Superman teve mais um reboot, mas (quase) ninguém percebeu | JUDAO.com.br

A história do Homem de Aço passa a ser mais ou menos aquela que você conhece, mas ainda assim vai deixar uma série de furos e perguntas para serem respondidas

Renascimento. É essa palavrinha que determina os rumos da atual fase da DC Comics, iniciada para retomar o contato com os leitores da velha guarda enquanto mantém o foco de atrair novos fãs. E isso passou, claro, por colocar de lado o Superman introduzido no reboot de 2011 por Grant Morrison.

Não que a origem escrita pelo britânico tenha sido ruim, mas, de alguma forma, a essência do personagem se perdeu pelo caminho, principalmente depois que a DC começou a buscar rumos “alternativos” para o herói, como deixá-lo mais fraco e revelar para o mundo que ele sempre foi Clark Kent. Foi aí que mataram esta versão no interessante arco The Final Days of Superman, colocando no lugar uma versão do Homem de Aço de outro universo – na realidade, um Kal-El que veio basicamente da cronologia dos anos 1990 e 2000, só que mais velho e com um filho com a esposa Lois Lane.

Poderiam ter encerrado tudo aí. O Supinho de 2011 teve um fim digno e, ainda por cima, deixou um gancho para a criação de dois novos personagens – o Super-Man e a nova Superwomanalém de dar parte de seus poderes para o Lex Luthor. Já o Azulão mais velho passou a ocupar o vácuo deixado no atual Universo DC principal, enfrentando importantes vilões e se integrando à Liga da Justiça. Com o tempo, era só não mencionar mais esse troca-troca que era como se nunca mais tivesse acontecido. Certo? Não.

Alguém na editora se tocou que não poderiam colocar esse Superman no lugar de Clark Kent, porque, bom, todo mundo sabia que ele era o outro Superman, que está morto. Nem a Lois Lane poderia ser a Lois Lane. Os editores e roteiristas poderiam criar novas identidades para os dois, mas como ficaria a conexão com os filmes e o que todo mundo conhece sobre esses personagens? Não daria certo.

A segunda solução é procurar algo que, dentro daquele universo, justificasse a retomada da identidade secreta clássica. Foi para isso que surgiu o arco Superman: Reborn, finalizado na última quarta (22) em Action Comics #976.

Este arco começou com um mistério: quem é o Clark Kent que apareceu, trabalhando e vivendo como se nada tivesse acontecido? Eventualmente, leitores e personagens descobrem que se trata de um plano do Sr. Mxyzptlk, que consegue modificar a realidade envolta dele. O baixinho passa a aproveitar todos estes problemas cronológicos do Universo DC atual – justificados, em outros lugares, por uma misteriosa conexão com Watchmen e o Dr. Manhattan – para não só infernizar o herói, mas também para sequestrar seu filho, Jon.

Na derradeira edição desta história, o Superboy consegue se libertar e encontrar os pais. No entanto, esta não é a versão deles que ele conhece: são os dos Novos 52, o reboot de 2011, que nunca foram casados e não conhecem o filho.

Treta vai, treta vem, o Jon é ajudado por duas AURAS, que depois descobrimos que são “partes” integrantes de Superman e Lois Lane, mais exatamente das versões mais velhas deles, e derrota o vilão. No fim, quase que num deus ex machina, essas auras se unem às versões mais jovens e boom.

Reboot.

Não, é sério. A solução da DC para a confusão toda foi fazer mais um reboot, o sexto na versão principal do personagem desde a Crise nas Infinitas Terras, se não perdi as contas.

Em uma página dupla, somos apresentados a esta nova versão, que de acordo com o texto, une as duas timelines – mas, ao meu ver, vai além disso. Vemos um Kal-El em Krypton, ainda bebê, numa cena que lembra bastante Superman: Origem Secreta, do Geoff Johns. Depois, vemos o jovem Clark crescendo, com elementos conhecidos e, de acordo com a história, novos também. Ele se torna o Superman, morre e casa da mesma forma que aconteceu nos anos 1990. E chega até aqui – com direito a um novo uniforme, que lembra mais o original, mas sem a cueca vermelha.

Esqueça a versão do Grant Morrison, ou ainda que a DC colocou o Homem de Aço dos anos 1990 de volta no seu universo principal. Temos agora um novo Superman, que pode ter evoluído mais ou menos da forma como os fãs mais antigos conhecem, mas que teve toda uma nova interação com o resto do Universo DC.

Por exemplo: esse Superman é mais velho do que praticamente todos os outros heróis. A morte e o retorno foram antes do casamento e do nascimento do Jon, ou seja, dá pra dizer que aconteceu (considerando a timeline apresentada a partir de 2011) antes da fundação da Liga da Justiça nessa nova Terra. Só que a LJA tem uma importância grande justamente no arco da morte do herói. Não encaixa.

Recentemente, Kal-El namorou a Mulher-Maravilha – então ele traiu a Lois Lane, eles tem um relacionamento aberto ou isso foi apagado da cronologia?

Tem mais: The Final Days of Superman tem impacto direto nos surgimentos do Super-Man chinês, da Superwoman e na nova fase do Lex Luthor. Se aquele Homem de Aço não existiu, ele também não morreu, o que apaga essa conexão.

É, basicamente a DC resolveu um problema causando outros. Vamos ver onde isso vai dar...