Jovens Titãs em Ação! nos Cinemas: a coleção certa de personagens no momento certo | JUDAO.com.br

Aventura cinematográfica inspirada na deliciosa série animada tem toneladas de referências divertidíssimas, metalinguagem a mil por hora e funciona como o prólogo perfeito para o que promete ser a nova fase da DC nos cinemas

Há meses eu vinha enchendo o saco dos amigos — inclusive os deste simpático site que você visita neste momento — sobre como Os Jovens Titãs em Ação! nos Cinemas era um dos filmes que eu mais queria ver neste ano. Aí, quando pintou a já tradicional exibição para a imprensa, uma ou duas semanas antes da estreia, sabe o que eu fiz? Não fui. E de propósito.

Porque já falamos aqui ALGUMAS vezes que cinema é experiência, né? Então: o pai falou mais alto do que o jornalista. Pra ESTE filme, eu não queria perder a chance de ver pela primeira vez junto com o meu filho. Porque é junto com este pequeno do alto de seus 7 anos que vejo a série animada no Cartoon Network. É grudado com ele que divido este momento de muitas risadas mas ao mesmo tempo de discutir as referências, de explicar quem é aquele coadjuvante que apareceu, o que significa aquela imagem no pôster do quarto do Mutano ou quem é um dos vilões que virou bicho de pelúcia no quarto da Ravena.

É com ele que compartilho as muitas piadas internas inspiradas em momentos recorrentes dos episódios, do “booyah!” aos waffles, de “a noite vai brilhar!” às mãozinhas de bebê. Isso sem esquecer, claro, de TOCAIA!

É o nosso momento e, nesta versão pra telonas, também foi.

Os Jovens Titãs em Ação! nos Cinemas é exatamente o que um fã do desenho animado espera, respeitando as referências à tudo que a gente já viu na telinha, soando extremamente familiar, soando lindamente como “galera, esse aqui é NOSSO momento”. Mas quer saber o mais legal? Os produtores/diretores pegam isso e extrapolam, elevando à décima potência. Como eles têm mais orçamento pra uma produção como esta, por que não pirar ainda mais no humor anárquico, na edição ágil, nas doses de nonsense esfregadas na sua cara? E, bicho, como eles fazem.

Só por isso, e a risada gostosa do meu filhote, já seria uma vitória mas, quer saber o melhor? Os Jovens Titãs ainda tem a manha de não se acomodar e ir bem além. Lembra daquele texto que escrevemos por aqui a respeito do trailer do filme, dizendo que a cultura pop tava precisando de algo assim, uma produção autoconsciente o suficiente pra fugir das ideias de Christopher Nolan e Zack Snyder, que não se leva a sério, que usa o que pode usar pra contar uma história que, de certa maneira, serve também como autocrítica?

Então, a produção final é RIGOROSAMENTE tudo isso. Dá pra dizer até que, neste momento em que a DC aposta numa parada como Shazam! para ajudar a acender as luzes em seu universo cinematográfico, Os Jovens Titãs é uma espécie de prólogo ideal pra você se preparar oficialmente pro que vem por aí. Não caberia neste texto a quantidade “ainda bem” que eu queria escrever aqui.

Uma experiência maravilhosa de pai e filho, mas o cinéfilo e fã de quadrinhos em mim também saiu com um sorriso imenso, com aquela sensação de otimismo, de que uma nova era se inicia

Tem referências aos montes pros leitores de gibi? Nossa, isso chove. O que não faltam são personagens passando pra lá e pra cá, nas visitas do quinteto aos estúdios da Warner, nas pré-estreias de filmes de heróis... De coadjuvantes frequentes da série como Aqualad, Ricardito e Kid Flash, passando por medalhões como Superman, Batman (que, como na série original, não fala uma palavra), Mulher-Maravilha, Aquaman, Lanterna Verde (vários deles), Flash, Gavião Negro, Supergirl e afins, e chegando até a nomes como Monstro do Pântano (que rende uma piada MARAVILHOSA), Jonah Hex, Raio Negro, Caçador de Marte (ETERNAMENTE Ajax), Poderosa, Metamorfo, Zatanna, Deadman, Homem-Animal, Homem-Borracha, Besouro Azul, Gladiador Dourado, Átomo (coitado) e até, que rufem os tambores, os Desafiadores do Desconhecido (que momento sensacional).

As referências vão além, brincando com os clichês do cinema blockbuster e igualmente dos filmes de heróis — como na sequência em que o Robin tenta narrar tudo que espera do seu filme solo para a diretora, optando por um traço totalmente inspirado no desenho do Batman de Bruce Timm, lá dos anos 90. Ou então na deliciosa sequência, com desenhos fofinhos a la Ursinhos Carinhosos, na qual os integrantes cantam uma “música inspiradora” pro Menino-Prodígio não ficar triste e continuar seguindo em frente.

Junte a isso uma trilha sonora escolhida a dedo (se liga no momento absolutamente maravilhoso em que toca Take On Me, do A-ha) e, vai, agora sim o pacote já tava mais do que completo.

Mas tem mais do que isso. AH TEM.

Tamos falando de um filme da DC que não tem a menor vergonha de brincar com os filmes da concorrência e tudo bem com isso. A piada com o fato do Deadpool ser uma cópia do Exterminador/Slade Wilson, o vilão do filme, não é peça de marketing, está mesmo no filme e é recorrente.

Mas não é a única menção à Marvel, que tem os nomes de seus personagens falados abertamente, seja numa sacada ótima com os Guardiões da Galáxia, seja num crossover absolutamente histórico e que, de verdade, a gente quer que você confira por conta própria. Mas é uma coisa feita de um jeito absolutamente inimaginável até o momento, de verdade.

É um filme que não tem a menor vergonha de brincar TAMBÉM com os filmes da própria DC. Sim, a piadinha com o filme do Lanterna Verde está lá, assim como uma cutucada sobre o tempo que demorou pra existir um película estrelada pela Mulher-Maravilha. E... num momento que é total e absolutamente transcendental, icônico, histórico, talvez tenhamos a MELHOR piada com Batman vs Superman que qualquer um já ousou fazer até o momento, que nós nunca sequer ousamos fazer em uma de nossas menções obrigatórias ao filme lá no ASTERISCO, o seu talk show/podcast/o que você quiser sobre cultura pop e adjacências.

Dá pra dizer, sem qualquer medo de errar, que Os Jovens Titãs em Ação! é muito mais metalinguagem do que os dois filmes do Deadpool conseguiram fazer JUNTOS. E isso já considerando aquela brilhante cena pós-créditos do segundo, aliás. “Ah, mas é porque é desenho”. Não, não é isso ou, tá legal, não é só isso. É a coleção certa de personagens no momento certo.

Os Jovens Titãs em Ação! nos Cinemas foi uma experiência maravilhosa de pai e filho, de família, isso em primeiríssimo lugar. Mas o cinéfilo e fã de quadrinhos em mim também saiu com um sorriso imenso de orelha a orelha, com aquela sensação de otimismo, de que uma nova era se inicia. E que a turma dos DC Filmes — ou Worlds of DC, como queiram chamar — esteja pelo menos saindo pra beber umas com Aaron Horvath e Michael Jelenic. Faria um bem danado.