Olivia Munn e a solidão de quem faz a coisa certa | JUDAO.com.br

A atriz pediu a remoção de uma cena de O Predador ao descobrir que seu colega havia sido condenado por pedofilia há alguns anos. E, ao fazer isso, começou uma conversa que NINGUÉM mais do elenco queria ter.

Denúncias de abuso sempre são rodeadas de muuuuitos questionamentos. Em grande parte das vezes as vítimas são colocadas em situações de isolamento e dúvida, aumentando o sentimento de culpa. Isso, mesmo com o #MeToo e o Time’s Up, se agrava BASTANTE quando tem a ver com pessoas poderosas e grandes filmes. E é o que está acontecendo com Olivia Munn.

O Predador, novo filme da franquia iniciada lá nos 80, que estreia no próximo dia 13, estava quase pronto quando uma cena, de três páginas de roteiro, em que o ator Steven Wilder Striegel repetidamente dava em cima da personagem de Olivia Munn, precisou ser deletada. De acordo com a Fox, a retirada da tal cena aconteceu porque eles descobriram, depois de um daqueles TOQUES DE AMIGO de Munn, que o ator em questão havia sido condenado em 2010 por abuso sexual e era um “sex offender” devidamente registrado e confesso. Ele, com 40 anos de idade, tentou convencer uma menina de 14 anos a ter relações sexuais com ele, foi julgado e passou seis meses na cadeia. “Semanas atrás, quando o estúdio soube dos detalhes, sua única participação foi a retirada da cena em 24 horas. Nós não estávamos cientes de seu histórico durante o processo de escolha do elenco por limitações legais que nos impedem de checar o passado dos atores”, disse o estúdio em comunicado oficial à Variety.

A questão é: o diretor do filme, Shane Black, já sabia dessa história tem tempo — os dois são, inclusive, amigos de loooonga data — e não achou que fosse o caso de avisar ninguém da produção sobre isso. “Pessoalmente, escolho ajudar um amigo”, afirmou o diretor. “Eu entendo que outros possam desaprovar, já que sua condenação partiu de acusações muito sensíveis que não devem ser minimizadas.” Striegel fez outros filmes com Shane Black depois de sua liberação, pequenas pontas em Homem de Ferro 3 e Dois Caras Legais.

Munn ficou PUTA DA CARA, com razão, ao descobrir que Shane havia escondido isso da equipe. Ela disse que estava aliviada pela decisão do estúdio de deletar a participação de Striegel, mas continuou bem brava e deixou de participar da cerimônia do tapete vermelho na pré-estreia do filme. Em seu Twitter, afirmou que estava cumprindo apenas aquilo que estava previsto em contrato e afirmou que, “levando em consideração os acontecimentos, acho que eles preferem que eu não apareça. Facilita pra todo mundo.”

Ela compareceu, no entanto, à uma entrevista para o Hollywood Reporter. Só que boa parte de seus colegas de elenco acabou dando pra trás, provavelmente pra evitar falar sobre essa controvérsia. E depois de bater um papo ao lado do único outro ator que a acompanhou, Jacob Tremblay, ela conversou a sós com o repórter, contando sobre a decisão de notificar a Fox e suas consequências.

Ela disse que viu o pedido de desculpas público de Shane (que afirmou que foi “enganado por um amigo que dizia estar falando a verdade quando contou sobre as circunstâncias de sua condenação”) e que não tinha nada contra aquilo, mas que preferia que o diretor viesse falar com ela pessoalmente primeiro. “É desanimador precisar lutar tanto por algo que é tão óbvio. Não sei porque isso precisa ser difícil”, afirmou. “Eu descobri e pra mim era muito importante que a cena fosse descartada. (...) Eu liguei para o meu agente e para o meu advogado, ‘Preciso avisá-los agora sobre isso’”. Ela contou também que, depois que a história foi divulgada, se sentiu isolada por alguns colegas: “Me sinto muito sozinha sentada aqui quando sei que deveria estar junto do elenco.”

Munn afirmou que os mais poderosos da indústria só estão começando a se importar com assediadores lá dentro porque o público está parecendo descontente. “As pessoas que estão no topo, que consentem em deixar abusadores no poder, que fecham os olhos para poderem continuar ganhando dinheiro são as pessoas que criaram essa situação, em primeiro lugar. Não podemos contar com eles para ver mudanças” disse. E completou: “Se a audiência continuar mostrando que não apoia essas pessoas, organizações e companhias coniventes, aí teremos algo novo. Nada mudará até que isso os afete pessoalmente”.

Já no programa da Ellen DeGeneres, a atriz afirmou que foi “castigada” tanto pelo estúdio quanto pelo elenco, depois de contar a eles sobre a história — o que ela fez pra que ninguém fosse pego de surpresa. Ela, por exemplo, só foi ficar sabendo do que aconteceu depois das denúncios quando o LA Times publicou a matéria com detalhes de toda a história. “As pessoas que se juntam pra manter essas pessoas em posições de poder, esse é o problema real, as pessoas que continuam fazendo vista grossa.”

Depois dessas declarações, alguns de seus colegas perceberam o que (não) estavam fazendo e resolveram sair em seu apoio. Sterling K Brown pediu desculpas em seu Twitter por ela ter que falar sobre isso sozinha durante esses dias todos. “Todos nós temos o direito de saber com quem estamos trabalhando! E quando alguém foi condenado por um crime sexual envolvendo uma criança, nós temos o direito de dizer que aquilo não está certo.”, continuou. Ele concluiu se desculpando mais uma vez, agradecendo à ela por ter feito a denúncia e à Fox por ter agido rápido.

Depois foi a vez de Boyd Holbrook dizer no Instagram que estava orgulhoso de Olivia “pela maneira com a qual lidou com uma situação difícil e alarmante”. Ele escreveu que se ausentou de algumas entrevistas porque esse tipo de “comentário social” era novo pra ele, mas percebeu que aquilo não era o melhor a se fazer e também se desculpou por deixar Olivia Munn ser a única voz sobre esse problema.

Curioso que os outros atores só tenham aparecido na hora em que a mídia mostrou o TANTO que a atriz estava isolada, né? Curioso também como homens não estão acostumados a fazer esses ~comentários sociais, seja lá o que isso for. Tomara que esse apoio não seja só pra audiência ver. Porque mulheres precisam lidar com isso todos os dias de sua vida e Olivia só é uma ilustração do quão sozinhas estamos quando resolvemos lutar por nós mesmas.