Os 20 anos de The Miseducation of Lauryn Hill | JUDAO.com.br

“Espero que o amor e a energia que permearam este disco continuem a inspirar a mudança com o amor e o otimismo no comando”

Pode ser só coincidência mas, pra quem acredita, os astros devem ter se alinhado esta semana em pleno universo musical. Afinal, num espaço de pouquíssimos dias, a Beyoncé fez aquele show HISTÓRICO no Coachella e o mais recente disco do Kendrick Lamar foi agraciado com um Prêmio Pulitzer. Se faltava alguma coisa pra completar a trinca, agora não falta mais, já que Lauryn Hill anunciou uma turnê na qual vai tocar o clássico The Miseducation of Lauryn Hill na íntegra.

Por enquanto, os fãs brasileiros não podem ficar lá muito empolgados — até o momento, o que se tem confirmada é uma série de 20 shows apenas nos Estados Unidos a partir de Julho e que devem durar até setembro. Mas se você estiver em cidades como Boston, Filadélfia, Miami, Nashville, San Diego ou Portland em algum momento deste ano, vale ficar de olho nas datas por aqui. Mas, todavia, contudo, como o comunicado oficial chama esta turnê de The Miseducation of Lauryn Hill 20th Anniversary World Tour, dá pra ter um pouquinho de esperança por aqui, né? ;)

Ela faz questão de ressaltar ainda que uma parte da renda com a venda de ingressos será sempre revertida para instituições de caridade locais: nesta perna inicial da turnê, a intenção é beneficiar a MLH Foundation, que tem uma série de projetos na área de educação, saúde, agricultura e tecnologia para ajudar pequenos negócios comunitários.

“Este disco é a crônica de um pedaço bastante íntimo de minha experiência enquanto jovem”, afirma a cantora, no anúncio da turnê. “É uma soma da maior parte, senão todas, das minhas emoções mais positivas e cheias de esperança até aquele momento. Eu amava e acreditava firmemente na habilidade da minha comunidade em amar e se recuperar se recebesse a quantidade certa de apoio e encorajamento. E este mundo que vivemos hoje, complexo e em mudança, precisa deste equilíbrio entre força moral e expressão catártica. Espero que o amor e a energia que permearam este disco continuem a inspirar a mudança com o amor e o otimismo no comando”.

Se você é daquelas pessoas que funcionam melhor com vídeos, o canal The Nerdwriter condensou, em OITO minutos, a importância não apenas deste disco, que completa 20 anos de lançamento este ano, mas também desta mulher incrível e bastante complexa.

Com um título claramente inspirado em The Education of Sonny Carson (livro e depois filme sobre a vida do veterano de guerra e ativista dos direitos civis de mesmo nome) e em The Mis-Education of the Negro, livro do historiador e jornalista Carter Godwin Woodson que defendia que os negros estavam sendo educados culturamente nos EUA para se sentirem inferiores, este primeiro álbum solo de Lauryn Hill foi um estouro, vendendo mais de 420.000 cópias na primeira semana, na época um recorde para uma mulher.

Embora já tivesse experimentado o sucesso com o grupo do qual fazia parte, The Fugees, ao lado de Wyclef Jean e Pras Michel, ela sentiu que queria mais. Na época totalmente envolvida com o jamaicano Rohan Marley, filho de um certo Bob, ela ficou grávida e aproveitou o momento pra curtir mais a si mesma e experimentar musicalmente. Se sentiu muito mais motivada criativamente, ainda mais depois de trabalhar escrevendo canções e produzindo para artistas tão diversas quanto a cantora gospel CeCe Winans, Whitney Houston e ninguém menos do que a lendária Aretha Franklin. Cabeça fervilhando, ela compôs uma porrada de novas canções.

Então, a partir do final de 1997, ela passou a frequentar o Tuff Gong Studios de Bob Marley em Kingston, capital da Jamaica, ao lado de um grupo de músicos conhecidos como New Ark. Eles começaram a compor, lapidar, produzir... e nasceria então um fenômeno global, que catapultou o nome da cantora. E embora possa ser chamado muito mais claramente de um disco de neo soul, uma visão mais moderna e contemporânea da soul music, é na verdade uma deliciosa mistura que coloca no cardápio também reggae, R&B mais clássico e, obviamente, o hip-hop que tava no DNA de Ms. Hill.

Os principais temas do disco no qual ela canta de maneira mais tradicional e ao mesmo tempo versa numa métrica falada como no rap acabaram sendo amor, maternidade, corações partidos, um tantinho das tretas que já começavam a rolar com os Fugees e Deus. Ou, pelo menos, a relação de Lauryn com o divino.

“Este disco é um modelo para artistas de todos os gêneros seguirem”, afirmou o rapper Nas, falando sobre o álbum na ocasião de seu aniversário de quinze anos, pra revista XXL. “É uma produção atemporal, música pura. É como ter a alma da Roberta Flack, a paixão de Bob Marley, a essência de Aretha Franklin e Michael Jackson e o hip-hop misturados numa coisa só. É um disco que representa um momento importantíssimo pra música negra, quando jovens artistas tavam querendo romper limites. E abriu o caminho pro rap ser o que é hoje. Queríamos que o mundo todo prestasse atenção, então a música tinha que ser dinâmica e ela representava bem isso. Ela não tinha que se encaixar em nenhum estilo. Ela ERA o novo estilo. E isso é muito positivo”.