Os Defensores: primeiras impressões | JUDAO.com.br

Assistimos aos quatro primeiros episódios da série que reúne Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro. Um espetáculo divertido, cheio de bom humor e coração, que integra perfeitamente as quatro tramas

A gente sabe que dizer que a série d’Os Defensores é, em termos de trama, uma espécie de continuação direta da primeira temporada do Punho de Ferro, pode ser meio dolorido, considerando o quão ruim foi a estreia de Danny Rand nas telinhas. Mas seja persistente, caro espectador. Vai valer a pena.

Para tentar melhorar um pouco a sua percepção, então, dá pra dizer que a história d’Os Defensores é uma ligação entre o season finale do guardião K’un Lun e o que vimos no encerramento da temporada 2 do Demolidor. Melhorou um pouquinho, né?

Se você prestou atenção ao que rolou com relação ao Tentáculo principalmente nestas duas séries, vai sacar de imediato que tudo estava sendo preparado para chegar neste momento. E aí está, aliás, uma das vantagens d’Os Defensores, pelo menos nestes quatro primeiros episódios aos quais o JUDÃO assistiu: por ser mais curta do que as anteriores (serão os sonhados OITO episódios), ela vai direto ao ponto. Você já sabe logo de primeira quem é vilão, quem é herói, em que momento vai rolar a treta, qualé a da tal da Alexandra e porque ela precisa do Danny pra realizar seu plano. Não tem nem espaço pra encheção de linguiça. O quebra-pau já come solto e vai todo mundo direto ao assunto.

Talvez por isso Os Defensores também sejam de fato o lado mais super-herói deste cantinho do Universo Cinematográfico da Marvel que sempre se orgulhou de ser mais urbano, pé no chão, “realista” (muitas aspas aqui, considerando uma mina que pula tão alto quanto um prédio, um cara cego que tem um radar natural e um outro que é à prova de balas). Estamos falando de uma trama que carrega um elemento sobrenatural fortíssimo e que, escancaradamente e talvez até propositalmente, tem MUITO dos Vingadores, aqueles do primeiro filme, tão brevemente referenciado nos quatro seriados que desembocam nela.

Mas troque os alienígenas por ninjas mortíferos, o Loki por uma organização maligna ancestral e o Thanos por uma Sigourney Weaver que mostra a que veio logo no primeiro olhar (alternando ao mesmo tempo maldade e fragilidade de um jeito bem peculiar) e temos uma nova Batalha de Nova York. Ou melhor, vamos corrigir aqui: a Batalha POR Nova York. Tudo com aquele bom humor e as sacadinhas que são típicas da Casa das Ideias. É, sim, estamos dizendo RIGOROSAMENTE isso: apesar de ser uma luta contra o mal encarnado, insira risada maléfica e plano pra dominar o mundo aqui, tamos falando de uma série que ainda assim consegue ter um clima mais leve do que o Demolidor, por exemplo.

Hey, hey, muita calma nesta hora, não ache que isso significa que o roteiro é raso e tampouco que ele sai correndo pra colocar Matt Murdock, Jessica Jones, Luke Cage e Danny Rand logo em volta da mesa de um restaurante oriental, discutindo sobre o futuro da Grande Maçã sob a supervisão do Stick. O jeito que eles se reúnem parece ser milimetricamente calculado, leva algum tempo pra chegar ali e é tudo tratado com o respeito devido aos personagem e à sua inteligência; cada um atraído pra este encontro por seus motivos pessoais, que se relacionam diretamente com a jornada individual de todos eles até aqui.

O papel do Punho de Ferro, retornando de uma jornada frustrada ao Oriente com a Colleen Wing, é meio óbvio. Assim como meio que já dava pra esperar que o Homem Sem Medo ia se meter nesta parada pela presença de uma Elektra ressuscitada – que, aliás, merece um parágrafo à parte aqui.

Sabe quando rolou a segunda temporada, a ninja assassina apareceu e um monte de leitores dos quadrinhos originais reclamaram de que “ai, esta não é a Elektra que a gente conhece?”. Eu lembro perfeitamente o que a gente disse sobre a performance da Elodie Yung, que chamamos de “Elektra num momento anterior”. O que falamos foi isso aqui: “Esta AINDA não é a ninja fria, calculista, sem sentimentos, dos gibis. Ela ainda não é uma assassina. Ela é Elektra Natchios, filha do diplomata, uma garota rica que já recebeu algum treinamento e andou lidando com forças que mal compreende”.

Então. Aqui, em Os Defensores, a Elektra já começa a se tornar A Elektra. Aquela matadora com muito sangue nos olhos e nas mãos, trabalhando para o mesmo Tentáculo que ela foi treinada para combater. Como devia ser. E no tempo que deveria ter sido. E, mais uma vez, a atriz rouba a cena ao chutar as bundas de todo mundo que vê pela frente.

Para enfim criar a conexão entre uma das duplas mais queridas dos gibis da Casa das Ideias, basta apenas uma Claire – mas a interação entre Luke e Danny é, de longe, um dos momentos mais bacanas destes quatro primeiros episódios. Eles se sacaneiam, desconfiam um do outro e, ainda assim, tá claro que pintou uma química que nem eles mesmos entendem. E depois daquele momento ESCROTO nos EUA envolvendo um bando de nazistas, vale prestar BASTANTE atenção no papo sobre PRIVILÉGIOS que rola entre eles dois. Mas tipo assim, DEMAIS.

Talvez aquela que mais te soe esquisito ver se juntar ao “time” seja justamente a Jessica. Mas mesmo assim, parece que o estranhamento é absolutamente proposital, porque até a personagem se sente uma carta fora do baralho ao lado destes caras, um bicho estranho. Reticente, ela meio que se recusa a acreditar neste papo todo de Tentáculo, no tal advogado cego que aparece pra defendê-la do nada e que, por um acaso do destino, também é o Demônio da Cozinha do Inferno. “É por isso que eu bebo”, ela poderia muito bem dizer. E quase diz, aliás. A reação dela é basicamente o que se esperaria da “heroína” com base em tudo que vimos em sua própria série, sem “trair” a sua essência.

No fim, Jessica Jones talvez seja aquela que melhor representa o espírito do tema central d’Os Defensores. Porque ela está em negação e tentando lutar contra algo que, de alguma maneira, também afeta diretamente os outros três e é o principal ponto comum entre eles: a própria essência de ser super... “Não, por favor, não diga esta palavra”, a própria Jessica reluta. Mas é isso mesmo: esta é uma série sobre quatro pessoas com habilidades extraordinárias e que ainda não sabem bem qual é o seu papel, o que fazer daqui pra frente, sobre suas RESPONSABILIDADES.

Os Defensores é sobre ser super-herói sem você necessariamente querer ser super-herói.

É como se Os Defensores fosse uma espécie de encruzilhada para o Matt, Jessica, Luke e Danny. Não quer dizer que eles agora terão que ser coadjuvantes frequentes uns nas séries dos outros. Nada disso. Mas está claro que as lições que aprenderão e escolhas que tomarão até o final destes 8 episódios vão ter impacto DIRETO no que vem pela frente nas temporadas 2 de Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro, além da temporada 3 do Demolidor.

Estou oficialmente empolgads com o que pode vir destas consequências narrativas desde já. Porque é o tipo de coisa que pode tornar a S2 de Jessica Jones ainda melhor, por exemplo. Assim como tornar a S2 de Punho de Ferro minimamente interessante. Tamos de olho.