Aproveitando a brincadeira do #FilmStruck4, eis aqui os filmes que ajudam a definir as pessoas que fazem esse site
Há umas duas semanas o FilmStruck, serviço de streaming dedicado a filmes clássicos, jogou no twitter (se teve também em alguma outra rede social, bem, quem se importa, né? :D) a hashtag #FilmStruck4, pedindo que seus seguidores e, enfim, qualquer pessoa, dissesse com quatro imagens os 4 filmes que os definem.
Todos nós do JUDAO.com.br participamos da brincadeira por lá mas, APROVEITANDO esse repentino e mais do que bem-vindo crescimento na nossa equipe que eu vou chamar nesse momento de básica (quem ouve o ASTERISCO e presta atenção nos nomes de quem escreve os textos, que são TODOS assinados, já deve ter percebido), já que temos diversos colaboradores por aí, resolvemos trazer essa brincadeira pra cá e nos (re)apresentar, pra novos e antigos leitores, através dos filmes que, de uma ou outra maneira, nos define.
Assim, você tem uma noção melhor de quem escreve o que, ou os motivos pelos quais escreve. Pense no JUDAO.com.br como... uma série. Ou, sei lá, uma editora de gibis. Temos o nosso canon, temos uma história de evolução de (quase) 18 anos... Nós não somos um link que você por acaso clickou no Facebook. Há muito, MUITO mais por aqui.
Olar, muito prazer! :)
| Beatriz Fiorotto
Produtora audiovisual / Redatora do JUDAO.com.br / Produtora e eventual participante dos podcasts do Overloadr / Cozinheira amadora / Reclamona
“Vamos começar do princípio. Um bom lugar pra se começar”: assisto a esse filme desde pequenininha. Minha mãe sempre teve uma regra engraçada de colocar os filmes sem dublagem pra que eu e meus irmãos aprendêssemos inglês mais rapidamente. Não era uma tática muito esperta porque isso acontecia quando eu não sabia ler, veja bem. MAS proporcionou uma experiência curiosa: eu sentia que aquilo era uma sequência de clipes musicais com um intervalo de umas pessoas falando. E amava criar coreografias, cantar junto imitando os sons de uma língua que não conhecia, rodopiava na sala com os bracinhos abertos. O sofá era a minha montanha na Suíça!
Depois, quando fui entendendo a história, caí de amores mais ainda. Julie Andrews (<3), ali, ensina a tratar com carinho e amor pessoas e situações difíceis. É preciso muita coragem pra escolher não ser amargo e acho que boa parte da minha vontade em tentar resolver as coisas da minha vida com calma e afeto vem dali. É meu filme do coração.
“A Força é o que dá a um Jedi seu poder. É um campo de energia criado por todas as coisas. Nos rodeia e nos penetra. Conecta toda a galáxia”. É o meu favorito de toda a saga. O conceito da Força é algo que remete à fé, a fazer o que é certo, a seguir um chamado, lutar pelo equilíbrio em todas as coisas. Além disso, ver Leia e sua personalidade me ensinou sobre não precisar me curvar às coisas que não concordava e saber me impor. R2-D2 e Chewbacca roubam a cena quando se fazem entender MUITO BEM, mesmo sem falar inglês como os outros personagens. E, em cima de tudo isso, é um PUTA filme de navinhas, sabres de luz e tiros. Ouço a música tema da Força e já me emociono. Não tem como não amar. NÃO TEM.
É, eu sei, esse filme tem aquele começo que fez todo mundo se esgoelar de chorar. E é um começo incrível para a maior lição ali: aprender a deixar as coisas partirem.
O personagem principal, Carl Fredricksen, passa o filme todinho carregando o peso de uma casa nas costas em nome de um plano antigo nunca realizado. E, depois de uma série de desventuras, descobre que a verdadeira aventura vive em fazer o que se quer fazer e deixar o que já passou, bem, no passado mesmo. Saber reconhecer o final das coisas é MUITO difícil na mesma medida em que é MUITO importante. Up! é um exemplo encantador de como fazer isso!
“Se você pudesse ver toda a sua vida do começo ao fim, você mudaria as coisas?”. Quando fui assistir, não imaginei que seria algo TÃO especial. É a história de uma mulher que, tentando decifrar um idioma alienígena, aprende uma nova maneira de enxergar a narrativa da sua vida. E vi, ali, que poderia abraçar a minha história. Aceitar TUDO o que já veio e que virá até mim. Porque a vida e pra onde ela vai é, na real, algo incontrolável. E você pode escolher surtar a cada pedaço ou encontrar nisso o maior conforto de todos.
Atualmente, é a obra que mais toca meu coração. Porque foi o primeiro filme que não me ensinou uma lição – me deu um superpoder. <3
| Júlia Gavillan
Eu não vou embora sem a Uni! (Não Tenho Opinião Formada Sobre Isso™)
Tia do Gabo, Valentina e Samuel.
O primeiro dessa lista tinha que ser o filme que fez eu me apaixonar pelo cinema. Curiosamente, tenho problema com musicais, porque existe uma linha muito fina entre uma música que faz sentido na trama, e pessoas que saem cantando de forma aleatória. Mas, inegavelmente, Cantando na Chuva é simplesmente o melhor filme do seu gênero. Mesmo não sendo um musical pioneiro ou não apresentando qualquer grande avanço em linguagem cinematográfica, não existe um musical mais primoroso, divertido, inteligente e refrescante do que esse.
Além de parodiar com precisão a difícil transição entre o cinema mudo e o falado, Cantando na Chuva é o suprassumo de tudo o que a clássica Hollywood ama: as glórias, os fracassos e o equilíbrio entre as duas coisas. A leveza de Gene Kelly ao dançar, o misto de força e doçura de Debbie Reynolds e as expressões de Donald O’Connors são eternas. Talvez eu saiba cantar todas as músicas... E saiba todas as sequências de cabeça... E tenha dois DVDs do filme. Talvez.
Surpreendentemente, Apocalipse Now foi o primeiro filme do Francis Ford Coppola que vi na vida. Na saudosa época das locadoras, meus pais alugavam filmes quase todos os fins de semana e, como as estreias eram caras, sempre escolhíamos filmes antigos. Minha educação cinematográfica começou aí sem perceber e Apocalipse Now fez parte dessa fase.
Nesse épico, Coppola nos leva à encontros surreais e à psicose da guerra, onde pesadelo e realidade se encontram. Desde seu início com The End, do Doors, os ataques a uma aldeia ao som d’A Cavalgada das Valquírias, de Wagner, até o perturbador encontro de Willard com Kurtz, Apocalipse Now é o melhor filme para entender os horrores da guerra. Só posso agradecer Coppola por essa obra prima. Você quase consegue sentir o gosto da fumaça.
Senhor dos Anéis é o casamento perfeito entre uma história complexa e cheia de camadas com o cinema arrasa-quarteirão, trazendo tudo que um blockbuster tem direito. Não é fácil transformar uma obra tão extensa e explicativa como a do Tolkien em um filme que funciona, mas Peter Jackson, Fran Walsh e Phillipa Boyens fizeram isso. Esses três deveriam ganhar um Oscar todo ano apenas por resumir a complexa e importante história do Um Anel logo nos primeiros minutos. E esses poucos minutos fizeram toda a diferença para dar o tom da história.
Senhor dos Anéis nos ensina que, além de bons efeitos especiais e um design de produção brilhante, um filme precisa de uma boa história que segure tudo isso. Uma adaptação inesquecível de um dos primeiros grandes livros que li na vida.
Sou apaixonada pela filmografia do Martin Scorsese e, pra mim, ele é o melhor diretor vivo da história de Hollywood. Apesar de todo esse amor à sua carreira, A Invenção de Hugo Cabret é a definição perfeita do diretor, porque sua paixão e sua dedicação ao cinema estão claros nas mais de duas horas de projeção. E, se mantendo fiel à esse amor, Scorsese soube utilizar o 3D como uma ferramenta que complementasse seu filme, não algo que o salvasse.
Em A Invenção de Hugo Cabret, os primórdios do cinema encontram uma tecnologia moderna (apesar de desnecessária) e tudo se torna ainda mais mágico. E o melhor? O filme funciona com ou sem o 3D, porque a narrativa é o que importa e o que sempre deve importar. Funciona para quem é apaixonado por cinema e vai acompanhar as referências à obras e pessoas, mas também funciona muito bem para quem só quer ver um filme. A reação desses dois grupos será a mesma: puro encantamento.
| Thiago Cardim
Publicitário e jornalista. Nerd convicto, louco por cinema, séries e HQs. Vegetariano por opção, banger de coração, marvete de carteirinha. Também é pai de dois filhos. :)
Acho que a primeira vez que vi este filme foi num destes Corujões da vida e chorei feito um louco no final, quando Red e Andy finalmente se reencontram. Desde então, sempre que o filme está passando, eu paro absolutamente tudo que estou fazendo para assistir. E o mais intenso é que ele tem um impacto diferente em mim nos dias de hoje, agora quase quarentão, pai de dois filhos. Porque esta não é só uma história sobre grandes amizades, um lado que mexeu comigo demais lá na adolescência e pouco depois, por volta dos meus 20 e poucos anos, mas também sobre esperança. Sobre como os sonhos persistem vivos e intensos durante anos e anos, mesmo em circunstâncias nas quais o desespero e a desilusão teriam terreno fértil para florescer.
Quando crescer, eu quero ser Andrew Dufresne. Um homem comum e que mostrou tanta força, determinação e paciência que, depois de vinte anos, finalmente conseguiu alcançar seu sonho: a liberdade. E que nunca, mas nunca mesmo, desistiu dele. Ainda chego lá.
Quando vi o primeiro (ou, no caso, o quarto, vocês entenderam!) Star Wars, pirei assim que vi o Darth Vader pela primeira vez, Marcha Imperial tocando, toda aquela pompa e circunstância. Ele virou imediatamente o meu personagem favorito da saga, mais do que o próprio Luke. E quando chegou O Império Contra-Ataca, não apenas o melhor filme de toda a franquia, imbatível até o momento, mas também aquele no qual Vader se torna tão protagonista quanto aquela galera da Millenium Falcon, quando começamos a perceber que ele tem bem mais camadas do que se imagina, eu estava efetivamente conquistado. Pelo filme e pelo Vader, obrigado a flertar com seu lado mais obscuro para salvar/vingar alguém que ama, herói que virou vilão e que se tornou herói – mas ainda guarda dentro de si a vontade de se redimir, de reencontrar o caminho que um dia trilhou.
Um dos meus heróis de infância não é necessariamente um herói. Mas, afinal de contas, nem a gente é tão herói assim quanto imagina, não é mesmo?
Pra mim, é a comédia definitiva do cinema. Sem exagero. Eu continuo gargalhando sempre e sempre, do começo ao fim, toda santa vez que assisto a bagaça. E são muitas, porque faço questão de rever pelo menos UMA vez por ano. Eu amava a dublagem clássica, aliás, que pra mim era uma espécie de cereja no bolo — mas legendado também é um tesão.
Uma metralhadora giratória contra política e religião que não tem papas na língua, que virou uma espécie de parâmetro obrigatório pra mim. “Você é rei de onde? Quem votou em você?”, que baita discussão maravilhosa com os camponeses. E aquela sequência com o guardião da ponte, cara, é tão non-sense que, no fim, acaba fazendo um sentido tremendo na minha cabeça. Porque todo mundo precisa saber qual é a velocidade média de uma andorinha se quiser sobreviver ao juízo final, não?
Fotografia saturada. Ambientação que é pura poeira da estrada. Palavrões pra tudo que é lado. Personagens principais com sede de sangue e um nível de moral que atinge o negativo. Altíssimas doses de violência e tripas espalhadas pela areia. E uma trilha sonora setentista simplesmente maravilhosa, com um rock sulista mal-educado, estradeiro e guitarreiro. Acho que não dava pra este filme ser mais Rob Zombie do que isso. Aliás, talvez seja mais Rob Zombie do que o próprio Rob Zombie.
De longe, o ápice da carreira do cantor como cineasta, pra fazer esquecer qualquer Halloween da vida. É uma obra-prima de beleza estranha, distorcida e pervertida. Perfeita pra satisfazer o amante de filmes de terror e também o fanático por histórias com personagens estranhos e cheios de camadas que vive em mim.
| Thiago Borbolla, o Borbs
Editor-chefe do JUDAO.com.br, já foi VJ da MTV e virou jornalista absolutamente sem querer. “Really cool motherfucker”, de acordo com Samuel L. Jackson.
Eu já contei uma outra parte dessa história aqui, mas em resumo: se não fosse pelo filme de Steven Spielberg, o JUDAO.com.br não existiria quase dezoito anos depois de ter sido criado. Se não fosse pelo Spielberg, aliás, eu provavelmente jamais teria sequer me interessado por cinema em primeiro lugar, já que E.T – O Extraterreste é o primeiro filme que eu lembro de ter assistido.
Mas o fato é que eu sempre fui apaixonado por Dinossauros, sei lá eu porque. De desenhos que fazia à coleção de cards do Chocolate Surpesa e a Revista dos Dinossauros, eu por algum momento sonhei em ser um paleontólogo. E, aí, ganhar uma ida ao cinema pra assistir a Jurassic Park como prêmio por dançado numa festa junina — depois de passar meses (que podem também ter sido poucos minutos) vendo na TV making ofs do filme e do T-Rex — foi uma das coisas mais importante da minha vida. Porque eu assisti àquele filme com os olhos de um garoto de 9 anos, que ainda se impressionava fácil com as coisas. Os mesmos olhos que me fizeram passar a gostar de cinema. Os mesmos olhos que, bem ou mal, me trouxeram até aqui.
Usar a palavra “sempre” aqui pode soar um exagero. Mas o fato é que desde que eu deixei de ser uma criança passei a ter uma relação bastante complicada com meus pais. Com o tempo, e a distância, algumas coisas foram se encaixando, por aqui ou por ali... Mas com meu pai as coisas nunca se acertaram do jeito que eu queria — com uma cerveja e uma pizza que eu poderia fazer.
Tive a sorte de dizer e sentir que tudo era passado algumas horas de ele ter um AVC, embora não tinha tido a oportunidade de tomar a cerveja e comer a pizza que eu faria com ele, que acabou sofrendo um outro AVC e morreu, alguns dias depois. Logan me mostrou uma história muito parecida com a minha, com a diferença é que agora eu estava vendo de fora. Quando ele segura a mão da X-23 e diz que “então é isso”, eu posso dizer que sei exatamente o que os dois ali passaram. E choro ridiculamente até o fim dos créditos. :)
Por tudo o que tem se passado comigo nos últimos meses (diagnósticos de depressão e ansiedade, entre tantas outras coisas), não tenho conseguido tempo e nem a concentração necessárias para assistir aos filmes e séries que gosto, o que acaba também influenciando no meu trabalho.
A Forma da Água foi o primeiro, em muito tempo, com o qual consegui me conectar o suficiente pra não só conseguir me emocionar, conseguir também entender tudo o que Guillermo Del Toro quis dizer ali, se expondo como nunca antes em sua carreira. Um cara que se sente sozinho, incompreendido, triste, que não se encaixa em nada que se espera dele, e que vê no cinema uma razão pra continuar em frente.
A Forma da Água, por alguns minutos, me fez me sentir bem, leve, como se pertencesse a alguma coisa. “Impossibilitado de perceber Sua forma, encontro você à minha volta. Sua presença me enche os olhos com Seu amor, acalma meu coração, porque Você está em todos os lugares.”
É engraçado perceber que os meus quatro filmes não são aqueles que definem toda a minha vida, mas sim os que definem quem eu sou no momento em que eu escrevo isso (no fim de Abril, início de Maio de 2018). Eu sinto como se vivesse, diariamente, no Brilho — e que fosse cada uma daquelas personagens, em algum momento — vivendo nada além do presente, e sem enxergar de fato um futuro, numa tentativa de se conectar com o passado ou com quem se é, de fato.
“Quase ninguém comete suicídio, e quase todos nos autodestruímos. (...) Não são decisões, são impulsos. Programados em cada uma das nossas células”