Os Oito Odiados de Tarantino na Comic-Con | JUDAO.com.br

Espremido entre o hype e a catarse de outros momentos, Quentin Tarantino aproveitou pra dar uma aula de cinema e mostrar todo o amor que sente pelo seu trabalho

As vezes umas coisas assim acontecem na Comic-Con. No mesmo dia, entre Esquadrão Suicida, Batman VS. Superman, Deadpool e X-Men, Quentin Tarantino levou seus Oito Odiados e toda a sua paixão por cinema ao Hall H. Um cara, que disse visitar o evento desde que ganhava “10 mil por ano” e as vezes o faz disfarçado, com uma máscara de Lucha Libre, quase que passou batido por conta de todo o hype Marvel VS. DC daquele sábado (11). Mas foi só quase. :)

Ninguém estava ali pra promover ou conversar sobre o novo filme. O foco estava mesmo voltado na beleza do cinema e no fascinante processo de filmagem desse Western sobre os oito odiados de Tarantino, Kurt Russell, Jennifer Jason Leigh, Walton Goggins, Demian Bichir, Tim Roth, Michael Madsen, Bruce Dern e Samuel L. Jackson que surgiu no telão, arrancando gargalhadas e aplausos do público. O que ele queria naquele video era dizer que infelizmente não poderia estar ali com a gente, mas que nos veríamos no Natal, que é quando o filme será exibido com o DOBRO do tamanho com o qual estamos acostumados, projetado em 70mm e filmado em Ultra Panavision 65mm, em cinemas selecionados nos Estados Unidos. “When you absolutely, positively have to wow everyone in the room, accept no substitutes!”, disse, parafraseando seu personagem de Jackie Brown, pra explicar a importância do formato e do tipo de gravação.

Uma pequena aula de história do cinema, como observou Chris Hardwick, maaaais uma vez, o moderador. :)

Tarantino, então, subiu ao palco. Muito aplaudido e querido pela galera, ele continuou explicando tudo sobre as filmagens. As lentes utilizadas são velhas — pra você ter uma idéia são as MESMAS lentes usadas em Ben-Hur, de 1959 –, o que deixou Tarantino preocupado, pois eles estavam filmando em um lugar gelado e isso poderia danificá-las. MAS ele apontou o excelente trabalho de sua equipe, que não parou de trabalhar nem por um segundo para mantê-las aquecidas e funcionando, e ainda desmistificou o fato de que 70mm seja um formato que pode ser usado apenas para filmar lindas paisagens; “é pra um lindo drama também. As imagens ficam mais íntimas”, explica.

Lendo isso, vocês devem estar pensando “que tédio. Quero ouvir sobre o filme. Ação, sangue voando pra tudo quanto é lado”... Tarantino é genuinamente apaixonado pelo que faz e deu pra notar que ele tá ali pelo amor ao cinema. Ele tá pouco se lixando em agradar! Ele quer utilizar todo seu conhecimento e todas as ferramentas que tem pra criar uma obra de arte. Pra ele, aquilo é uma ciência. O cara é gênio e por isso mesmo foi legal relaxar um pouquinho e ouví-lo falar.

Os Oito OdiadosTivemos, então, um video de 7 minutos introduzindo os personagens (literalmente, pois aparecem seus nomes e apelidos pelos quais são conhecidos), começando com umas montanhas cheias de neve e uma carruagem, que vai correndo enquanto a câmera vai descendo. Vemos, então, que há um homem no meio do caminho e quando a camera se aproxima, vemos corpos no chão, atrás dele. A carruagem para em frente a ele e a câmera vira revelando seu rosto: “você tem lugar pra mais um?”, pergunta Major Marquis Warren, “The Bounty Hunter” (Samuel L. Jackson). Dentro da carruagem encontramos John Ruth, “The Hangman” (Kurt Russel), que é conhecido assim por nunca matar quem ele procura. Ele os leva de volta para a cidade de Red Rock para “pendurá-los” por seus crimes. Ao lado dele, está a próxima pessoa a ser enforcada por Hangman, Daisy Domergue, “The Prisioner” (Jennifer Jason Leigh), com sinais de que já tinha tomado umas porradas anteriormente. Também na carruagem está Chris Mannix, “The Sheriff” (Walton Goggins), que também está indo para Red Rock, paa assumir seu posto.

A tempestade de neve fica tensa e eles tem de parar em uma cabana até que seja seguro continuar a viagem. Ali estão Bob, “The Mexican” (Demian Bichir), que diz ser a pessoa no comando do lugar; Oswaldo Mobray, “The Little Man” (Tim Roth), que não vai muito com a cara do Hangman e perguntaaonde está o mandado de prisão de Daisy porque, sem isso, não tem como ele ter certeza de que Ruth não é um sequestrador e Daisy sua vítima; Joe Gage, “The Cow Puncher” (Michael Madsen) e o General Sanford Smithers, “The Confederate” (Bruce Dern), que é um velho racista reclamando do resultado da Guerra Civil (o filme se passa pouco depois do fim dela).

A partir daí, a gente vai vendo a tensão entre os personagens crescer, começam as desconfianças e ouvimos John Ruth afirmar que alguém ali dentro está mentindo e não é quem diz ser; que uma, ou talvez duas pessoas, estão ali apenas esperando a oportunidade de matar todo mundo. Antes de o video acabar, aparece escrito: “se você quer vingança, pegue a senha”.

Não mostraram nada que REALMENTE dê idéia de como o filme vai ser, mas é Tarantino, com um elenco foda, e foi o suficiente pra galera do Hall H curtir e ficar curioso. Se quiser ver, o trailer (que não é o mesmo vídeo da Comic-Con!) tá aí embaixo. :)

Os sete odiados restantes entram e a gritaria começa, especialmente pro Bruce Dern. Kurt Russel disse ter ficado mega feliz de estar no filme, trabalhando com Tarantino, e resume a coisa toda como “um circo do qual você quer fazer parte”.

Quanto ao vazamento do roteiro inicial de Hateful Eight, Tarantino disse que não chegou a fazer um estrago tão grande porque normalmente ele escreve o filme e decide filmar, mas que esse já estava nos planos de ser daqueles cheios de rascunhos e mudanças antes de ter a certeza de colocar a mão na massa, mas que ele ficou puto sim, porque além de ter que estender o processo de “rascunhagem”, a coisa se tornou mais pública do ele queria.

Perguntado sobre os planos de se aposentar depois do seu 10o filme (teoricamente, Os Oito Odiados é o OITAVO), o diretor deu uma pisada no freio, “calma, não é assim, tem que ver isso aí”: vai que ele chega ao décimo filme e resolve fazer outros cinco? Ou, quem sabe, ele faça três minisséries (“a TV tem feito muita coisa de nivel de cinema”)...

NO MÍNIMO uma ideia interessante. :)

Aliás, ideia interessante também seria o Kill Bill 3, né? “Nunca diga nunca”, respondeu o diretor. Oremos!

O elenco também recebeu algumas perguntas, mas eles só queriam saber mesmo era de elogiar Tarantino. Todo mundo fez questão de dizer que o filme era obra dele e que está sensacional por causa dele (zZZzZzzZ...)

Antes de encerrar o painel, Tarantino fez um último anúncio: QUARENTA FUCKING ANOS depois de compor sua última trilha pra um western, Ennio Morricone, o gênio por trás de The Good, the Bad and the Ugly, Once Upon a Time in the West e My Name is Nobody, será o responsável o pela trilha de Os Oito Odiados. Ok, Tarantino usou música dele em Django Livre, mas nada original – o que fez Morricone dizer que não trabalharia mais com o diretor porque, segundo ele, o cara coloca as músicas em seus filmes totalmente sem coerência com a história. O jogo virou não é mesmo? ;D

O painel não foi dos mais memoráveis do fim de semana, mas serviu pra gente aprender um pouco mais do que se passa na cabeça desse maluco que é Quentin Tarantino e que todos os prêmios que ele já recebeu na vida são consequência de seus estudos, criatividade e preocupação com cada detalhe do que está sendo feito, e são mais do que merecidos.