Parece que vão fazer um filme do Morbius e a gente tá WTF?! | JUDAO.com.br

Talvez os engravatados da Sony queiram seguir a mesma estratégia da Marvel com seus filmes dedicados a personagens B. Tá tudo bem. Mas é bom que não esqueçam de um pequenino detalhe…

Dia destes, um grande amigo de infância tava me lembrando de quando a gente ia na ICÔNICA Banca Estátua, em Santos, comprar a versão gringa da revista Wizard. Eram os idos pré-internet e pra gente saber o que tava rolando no mundinho da Marvel e da DC, tínhamos que recorrer a esta coisa mesozoica chamada papel. “Quando a gente via os casting calls, aquele monte de escalação de elenco, que ator podia interpretar qual herói no cinema, mal imaginaria este monte de filme rolando nos dias de hoje, né?”, disse o cara.

Bicho, eu arrisco dizer que, mais do que a surpresa por um filme dos Vingadores ou da Liga da Justiça, o que o meu eu adolescente JAMAIS imaginaria seria ver este monte de personagem obscuro virando produções milionárias nos cinemas. Tipo o Homem-Formiga. Os Guardiões da Galáxia. Ou talvez Morbius, o Vampiro-Vivo.

É, gente. Como parte do plano de expansão de seu Aranhaverso, que inclui ainda o Venom e um combo da Gata Negra com a Silver Sable, a Sony não só já contratou os roteiristas pra cuidar da história do vampiroso da Casa das Ideias como até já recebeu um tratamento da parada, depois de um processo de desenvolvimento mantido em segredo. O roteiro ficou a cargo da dupla Burk Sharpless e Matt Sazama, que trabalharam recentemente no filme dos Power Rangers (bom sinal) e também tiveram sua incursão vampiresca em Drácula: A História Nunca Contada (péssimo sinal).

Criado em 1971 por Roy Thomas e Gil Kane nas páginas de The Amazing Spider-Man #101 (curiosamente, o primeiro gibi do Cabeça de Teia escrito por alguém que não fosse o Stan Lee), Morbius foi um dos resultados diretos da Marvel se aproveitando da adaptação/atualização do chamado Comics Code Authority do mercado americano que, em fevereiro daquele mesmo ano, retirou as restrições à utilização de vampiros e outros seres sobrenaturais. Então, meses depois, Nova York era invadida pelo assustador doutor Michael Morbius.

Um brilhante cientista nascido na Grécia, Morbius ganhou até o Prêmio Nobel como bioquímico — mas, por outro lado, o sujeito sofria de uma gravíssima e debilitante doença sanguínea. Desiludido e com medo de perder tudo que tinha conseguido na vida até então, ele desenvolveu e começou a se submeter a um tratamento experimental envolvendo o sangue de morcegos-vampiros e eletrochoques. Já dá pra imaginar que deu tudo errado e Morbius se transformou numa espécie de “pseudo-vampiro”, o que justifica aí o subtítulo de “vampiro vivo”. Apesar de não ter morrido, ele ganhou presas e garras, sua pele ficou pálida e seu nariz se achatou como o de um morcego e, junto com uma coleção de habilidades sobre-humanas — ele pode voar, tem superforça e rapidez, sentidos aguçados, além de um impressionante fator de cura — o mais novo senhor das trevas das paradas é sensível à luz do sol e precisa sugar o sangue alheio pra sobreviver.

E digamos que nem preciso dizer que sua mordida também tem o poder de transformar outras pessoinhas em vampiros também, né?

Seu encontro com o Escalador de Paredes, o primeiro de muitos, rolaria durante uma viagem aos Estados Unidos, em busca de uma nova chance de cura. Rolaram obviamente as trocas de sopapos habituais até que o Homem-Aranha sacou que as propriedades do sangue de Morbius poderiam ajudá-lo a se livrar de um probleminha bastante incômodo na época: a questão de que Peter Parker estava com seis braços (é, juro, isso aconteceu). No fim, um soro criado à base do vampiroso não só fez o Aranha voltar ao normal como ajudou a controlar, ainda que temporariamente, o alter-ego selvagem e vilanesco do Doutor Curt Connors, aka Lagarto.

Protagonista de uma história ao mesmo tempo sombria e trágica, Morbius logo passou a tentar usar, um pouco meio a contragosto, suas habilidades de um jeito meio super-herói — o que, claro, não impediu que o sujeito tivesse seus embates com Quarteto Fantástico, X-Men, Motoqueiro Fantasma e mais uma galera. Em 1973, ele chegou a ser a estrela de Vampire Tales, uma revista em preto e branco publicada pela editora-irmã da Marvel, a Curtis Magazines.

Na própria Casa das Ideias, passou por gibis como Adventure into Fear e pela sua própria revista, de vida curta. Além disso, ele foi parte integrante de algumas encarnações do grupo sobrenatural conhecido como Filhos da Meia-Noite, que já teve em suas fileiras nomes como Doutor Estranho, Motoqueiro Fantasma, Homem-Coisa, Lobisomem e até mesmo o Blade (com quem cêis bem imaginam que o Morbius tenha uma relação, digamos, complicada).

Recentemente, depois de se envolver com o Homem-Aranha Superior (aka “Doutor Octopus ocupando o corpo de Peter Parker”), ele chegou a ter uma nova chance em um título próprio, Morbius the Living Vampire vol. 2, uma história mais pro lado do horror urbano na qual ele assombra/patrulha as ruas de Brownsville, uma das vizinhanças mais perigosas do Brooklyn.

“Ele é um cara tentando fazer o seu melhor”, explicou, na época do lançamento da HQ, o roteirista Joe Keatinge, em entrevista ao USA Today. “A razão do Morbius existir é que ele está tentando curar sua doença e, além de se curar, ele também pode curar diversas pessoas que sofram do mesmo mal. Tem uma intenção nobre aqui. Mas o lance é que as coisas continuam dando horrivelmente errado”. É um bom jeito de enxergar as coisas, eu diria.

Não existe qualquer previsão de lançamento para o filme, antes que vocês perguntem. E obviamente a Sony não tem detalhes nem sobre a produção e, claaaaaaaro, seguindo o que tão fazendo com o Venom, não deve ter muita relação com o Homem-Aranha que voltou pra casa. Mas, de verdade, isso pouco importa. Foda-se se vai ter o aracnídeo ou não, desde que estejamos falando de um BOM filme.

E aí é que fica a lição deixada pelos parceiros da Marvel Studios, ao lado dos quais os moços e moças da Sony trabalharam tão bem com De Volta ao Lar: nenhum personagem é pequeno ou obscuro demais. Vejam o Homem-Formiga e principalmente os Guardiões da Galáxia que mencionei lá em cima. Vale pro Morbius também. Quer fazer filme do Vampiro Vivo? Que faça. Mas dá na mão de um diretor que esteja com tesão de mostrar sua visão criativa, fazer de um jeito diferente. E, principalmente aí: deixa o cara trabalhar.

Fechou? Beleza. Agora vamos falar do Homem-Sapo.